Lima Barreto

Lima Barreto Lilia Moritz Schwarcz




Resenhas - Lima Barreto


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Paulo da Silva 27/02/2024

Um retrato do Brasil em suas contradições
Lilia Schwarcz oferece uma profundidade notável nesta biografia que desvela o pensamento por trás da obra de Lima Barreto, um autor verdadeiramente à frente de seu tempo. Barreto, um homem negro e pobre, navegou em uma época de transição, entre o resquício da escravidão e o despertar de uma nova era.

Schwarcz habilmente destaca como essas circunstâncias moldaram não apenas a vida de Barreto, mas também sua produção literária, tornando-o um militante declarado com ideias extraordinariamente inovadoras.

A biografia nos permite mergulhar na complexa psique de Lima Barreto. Ela explora seus sofrimentos, suas alegrias, suas lutas e suas conquistas, revelando um homem de profunda sensibilidade e inteligência. Através de cartas, crônicas, romances e outros documentos, a autora nos aproxima do universo íntimo do escritor, desvendando as motivações por trás de sua obra genial.

Mais do que uma biografia, "Lima Barreto: Triste Visionário" é um retrato do Brasil do início da República. Schwarcz tece um panorama social e político detalhado, evidenciando as mazelas e contradições da época, como o racismo estrutural, a hipocrisia da elite e a exclusão social.

A obra é leitura obrigatória para todos que desejam compreender o Brasil em sua totalidade. Ao desvendar a vida e a obra de Lima Barreto, ela nos convida a refletir sobre o passado, o presente e o futuro da nossa nação.
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Dandara 15/11/2023

Triste visionário
Foram quase dois meses de leitura, 648 páginas sobre a vida de Lima Barreto. Ainda estou buscando interpretar a importância e a magnitude dessa biografia. Lilian escreve de uma forma que sentimos estar sentados em uma conversa informal. Saber da vida de Lima por meio da sua escrita, com certeza, foi um dos picos de prazer do meu ano. Lima, escritor negro, que sempre pautou a questão racial em suas obras, é um dos brasileiros que merecem ser conhecidos e reconhecidos. Recomendo enormemente a leitura!
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Geovani 07/02/2023

Lima Barreto
Excelente biografia de um escritor polêmico e muitas vezes incompreendido e subestimado.
A autora faz um apanhado da vida e da obra do Lima Barreto em conjunto com um panorama da realidade cultural e política da época, inserindo sua obra no tempo possibilitando uma melhor compreensão do papel relevante do Lima Barreto para a literatura e para a luta racial.
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Ronan 15/04/2022

Após ler algumas obras de Lima Barreto, coroei essas leituras com sua biografia recente escrita por Lilia Schwarcz, autora que por sinal gosto bastante. Apesar de soar como uma obviedade, a biografia nos mostra que a obra de Lima e sua vida pessoal são quase que praticamente indivisíveis. Seus personagens, as situações por eles vividas, as paisagens que estes percorrem, sobretudo os subúrbios do Rio de Janeiro, são marcas importantes de suas obras além da onipresente questão de raça e do racismo. Uma vida marcada por “quases”, Lima quase formou-se engenheiro (doutor), quase imortalizou-se na Academia brasileira de letras, quase atingiu a o reconhecimento nos meios literários a que almejava e sempre transitou entre o centro do Rio com seus bairros burgueses e o subúrbio em que passou a maior parte de sua vida, ambos ligados pelos trilhos da central do Brasil. Sua insatisfação com o emprego público em que trabalhava no ministério da guerra também municiou suas obras acerca do tema do funcionalismo, sua tacanhice e pedantismo.
O início de sua vida com uma mãe professora primária, de uma família de ex-escravizados libertos e agregados e o pai, funcionário público na imprensa nacional, já denotavam bons prospectos de ascensão e pertencimento social, uma composição privilegiada do ponto de vista de uma sociedade marcadamente racista e que tinha acabado de emergir da escravidão. Aliás, o decreto da Lei Áurea vai marcar a infância do autor, que a presenciou coincidentemente na data de seu aniversário. No entanto, a perda precoce da mãe irá se refletir ao longo de toda a vida do autor e certamente irá influenciar a relação que este vai estabelecer com as mulheres em termos sentimentais, note-se que ele não vai estabelecer relações amorosas estáveis e que tinha vergonha no trato com as mulheres.
O advento da República não será bom para a família Barreto, seu pai, com intimas ligações monarquistas, irá perder o cargo na imprensa nacional, tendo que ir trabalhar em uma colônia de alienados na Ilha do Governador. Ele irá concluir seus estudos graças ao apadrinhamento do Visconde de Ouro Preto, amigo da família, que também conseguira o cargo para seu pai. A Ilha do Governador mais tarde irá inspirar os trechos bucólicos que aparecem em “O triste fim de Policarpo Quaresma”. Ingressa no ensino superior com muito custo e sentindo prementes as diferenças de classe e cor que o separavam de seus colegas de Politécnica. Engaja-se cada vez mais na literatura durante esse período e entra em contato com a boemia dos cafés e bares do centro do Rio de Janeiro.
“De toda forma, procurando seu lugar na contestação, Lima inaugurava, sem saber, um estilo que escorreria para a sua literatura e sua maneira de estar no mundo. Guardaria uma posição ambivalente em relação a tudo que o cercava: seus colegas, seus vizinhos, o funcionalismo público, suas projeções literárias, e também a engenharia. Diante das dificuldades nas disciplinas desdenhava dos professores; ante as adversidades sociais, usava da ironia e do escárnio.”
Ele terá que interromper seus estudos quando a doença do pai o impediu de seguir bancando os estudos do filho, fará um concurso para o ministério da Guerra onde ocupará um cargo de amanuense até aposentar-se por invalidez resultante do alcoolismo anos depois. Esse emprego lhe garantia o sustento, uma situação social estável e tempo para escrever, o trânsito entre o centro do Rio, sua boêmia e o subúrbio onde morava, ao mesmo tempo gerando frustração. Mas o emprego era necessário para que ele pudesse sustentar seus irmãos e o pai. Em sua casa no subúrbio monta sua biblioteca, a “limana”, onde vai refugiar-se na maior parte do tempo de sua produção intelectual, ela também será o seu legado após usa morte.
O subúrbio onde vivia e os tipos que nele viviam serão inspiração para boa parte de seus personagens e seus bairros servirão de palco para boa parte de suas obras, bem como as viagens de trem pela Central do Brasil que ligavam esse subúrbio ao centro do rio de Janeiro.
Seu vício em álcool, semelhante ao do pai, bem como o medo da loucura e da alienação reforçados em suas internações, aparecem como temáticas recorrentes. A autora resolveu nomear a obra como “O triste visionário” usando o sentido da palavra triste que denota uma não desistência, ou seja, apesar de uma vida tão dura o autor insistiu em continuar publicando e militando por suas obras.
Poderia seguir escrevendo, pois, a obra é muito boa e a vida de Lima riquíssima, apesar de triste como mencionada em seu título, contudo recomendo-a não só para aqueles que querem entender melhor a literatura desse fantástico autor, como também para aqueles que querem compreender as dinâmicas políticas, sociais e raciais que se desenrolavam nos primeiros anos de nossa República e no início do século XX. Sem sombra de dúvidas a literatura de Lima somada ao estudo de sua biografia traçam um panorama muito rico da sociabilidade de nossa antiga capital, e uma mordaz crítica de costumes, que se mantem, em muitos aspectos, atualíssima.
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Tatiane 07/09/2021

Grande Lima!
Excelente leitura para percorrer vida e obra de Lima Barreto. A escrita da Lilia Schwarz é fluida; o texto, cativante. Li e reli junto alguns dos contos mencionados, retomei os três romances que já havia lido para verificar alguns pontos e estou aguardando a chegada de outras obras para mergulhar ainda mais no mundo desse autor militante, questionador e atualíssimo nas questões que levanta.

Eu, particularmente, não tenho problema algum com spoiler, principalmente quando se trata de obras clássicas. Pessoas que têm, porém, devem ficar atentas aos resumos das obras que permeiam os capítulos.
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Wallace17 30/07/2021

Lima Barreto, um cronista negro inigualável.
Se Lima Barreto fosse nosso contemporâneo, o que diria no caso do assassinato do jovem Pedro Gonzaga, depois de estar imobilizado??? O que ele escreveria sobre o assassinato covarde de Marielle Franco? Qual seria seu protesto ao saber que 71% das vítimas de homicídios no Brasil são de pessoas negras??? "O Negro é cor mais cortante"

Esse livro esplendoroso conta a vida e obra do carioca Lima Barreto. Sonhos, projetos, frustrações, contradições, talento, irreverência, alcoolismo, virtudes, família, manicômio, jornalista, funcionário público, crítico ferrenho da política e aristocracia carioca, ensaísta e romancista. Muitas facetas desse grande nome da literatura brasileira.

Lima foi um importante porta voz da geração pós-abolicionismo. Um denunciante das discriminações raciais e de classe do início do século XX. Vivia nos subúrbios do Rio de Janeiro, pano de fundo de muitas crônicas. Lima Barreto deu visibilidade para os negros e negras de todas as cores, em plena época que darwinismo social substituía a opressão dos quase 4 séculos de escravidão.

Eis um livro magnífico. Começa pela capa espetacular de Dalton Paula. Escrito por Lilia Moritz Schwartz. Antropóloga e historiadora. Professora na USP e Princeton. Liderou uma equipe de pesquisadores por 10 anos, para chegar nessa biografia incrível. Lima Barreto: triste visionário. Um trabalho lindo de edição da Companhia das Letras. Uma viagem história em 645 páginas que começa com fim do segundo império até a semana de arte moderna 1922. Uma aula de Brasil. Uma aula da literatura de Lima Barreto. Homenagem justa para este magnífico escritor e militante social.

site: https://www.instagram.com/p/BuB4oAMgh0G/
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Thiago662 04/04/2021

Esperei muito, me decepcionei.
O desenvolvimento da biografia me decepcionou um pouco. Talvez por ser mais longa do que necessário, já que em vários pontos fica visível a repetição de argumentos e citações.

A autora argumenta que as obras de Lima Barreto têm vários aspectos autobiográficos ("difícil esperar vida e obra"), aliás uma crítica presente nas análises dos seus contemporâneos. Nesse sentido, vários capítulos são análises das obras de Lima Barreto. Se você não leu suas obras, pelo menos as principais, não recomendo a leitura. Pode haver vários spoilers.

Autor crítico do seu tempo, da política, defensor dos negros e periféricos, Lima foi incompreendido no seu tempo. Contudo, suas interpretações e análises são atemporais. Quero ler mais, muito mais Lima Barreto.
Thiago662 04/04/2021minha estante
"Difícil separar vida e obra"*




Daniel432 07/10/2020

Desesperança e Glória Póstuma
Quem lê minhas resenhas sabe que, em biografias, tenho preocupação maior com a parcialidade do autor a favor do biografado e, nesse caso, não há menor chance de dizer que a autora foi parcial. Lilia Moritz expõe abertamente as contradições de Lima Barreto e o melhor exemplo é que apesar de defender as mulheres da violência dos maridos e namorados, Lima era contrário ao incipiente movimento feminista de igualdade de direitos.

Lilia Moritz não é a primeira escritora a narrar a vida de Lima Barreto, esse feito foi realizado primeiro por Assis Barbosa no ano de 1952. Assim, resta à autora partir para um tipo diferente de biografia, uma biografia baseada na obra do biografado. Esse recurso, segundo a autora, não é novo e foi empregado por outros biógrafos.

Dessa forma, conhecemos Lima Barreto e sua literatura combativa, que buscava aproximar-se das pessoas comuns e seus cotidianos nos subúrbios da Cidade Maravilhosa, sendo esse também seu ambiente, que aproveitava toda e qualquer oportunidade para criticar políticos (da nascente república) pelo clientelismo mas Lima era funcionário público graças a uma indicação política e literatos acadêmicos (referência aos imortais da ABL) pelo distanciamento da realidade, sendo seu grande desejo e frustração não ter sido admitido entre os imortais. Assim segue Lima Barreto com suas contradições!!

Enfim, tendo enfrentado preconceitos raciais e sociais descortina-se uma vida triste e desesperançada, culminando nas consequências do vício do álcool, outro motivo para afastamento social.

Se Lima Barreto era criticado pela pouca criatividade dos seus contos e romances, onde, muitas vezes, as personagens podias ser facilmente identificadas com o autor e seus desafetos, por outro lado, isso permitiu à biógrafa traçar um paralelo entre os livros e o autor. Aí temos outra contradição de Lima Barreto, o bovarismo criticado nas sociedades literárias era praticado por ele. Muitas vezes, em seus livros, é difícil identificar o que ficção e o que é a sua vida, isso tudo, claro, dito por Lilia Moritz.

Finalizando a resenha, Lima Barreto não viveu a glória esperada mas ela veio. Tarde, mas veio!! Quase um século de sua morte e continua sendo leitura obrigatória para estudantes.

Lima Barreto devia ser lido somente após a leitura de sua biografia, há muito oculto que olhos estudantis não enxergam.

site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bovarismo
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pi 09/07/2020

https://drive.google.com/file/d/1AAx_83VggQ1-so0xpn1JQv4eT-bdP55H/view?usp=sharing
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Walk 01/07/2020

Uma excelente biografia do maior escritório Brasileiro na minha opinião. Relatos de dor, sofrimento, preconceito e muita criatividade na vida desse ícone. Um homem que era um gigante. Grande mestre Lima Barreto.
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@moisesffelipe 07/03/2019

Poucos livros me envolveram tanto.
Esse livro é excelente por vários motivos. Primeiro, mostra a história de um dos nossos principais escritores brasileiros. Segundo. Mostra com detalhes como era a vida no Rio de janeiro dos primeiros anos do século XX. Poderia citar uma série de outros motivos mas não vou estragar a surpresa. É um documento histórico. É mais do que uma biografia É como voltar no tempo. Imperdível
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Adriel.Aparecido 16/07/2018

Lima Barreto - Triste Visionário
Mais que uma biografia, Lima Barreto - Triste Visionário, é uma fonte história de fatos na virada do século XIX. Com a obra podemos associar certas mazelas sociais tão íntimas de nosso cotidiano com as raizes de uma utópica República, que para Lima Barreto, representava, ao menos em teoria, mais igualdade, progressos e justiças sociais.
Com a leitura desta excelente biografia, fica uma desconfortável dúvida sobre os rumos sociais deste Brasil contemporâneo. Tal qual Lima previra, a república continua sendo uma instituição de aparências, que estabelece bem estar-social como um de seus pilares, mas o restringe à um grupo bem seleto de brasileiros, que tomam champanhe enquanto voam de ?jatinho? sob milhares de cabeças abandonadas à própria sorte nesta terra de desigualdades.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 21/10/2017

Nova Biografia
Com 704 páginas, 17 capítulos, 1871 notas e aproximadamente 240.000 palavras, "Triste Visionário" é o resultado de dez anos de dedicação da antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarz. Trata-se do mais importante trabalho sobre Lima Barreto desde 1952, quando foi lançada sua biografia que, assinada por Francisco de Assis Barbosa, teve o mérito de resgatar para a critica a obra de nosso maior escritor pré-modernista, praticamente esquecido após sua morte.

Uma das principais diferenças entre as duas publicações está no olhar contemporâneo de Lilia, que garante maior ressonância para a discriminação, o preconceito e a exclusão social. Para se ter uma noção do alcance desses temas, desde muito novo, Lima Barreto enfrentou o estigma da demência do pai e, alcoólatra, ele mesmo foi internado duas vezes no Manicômio Nacional. Esta experiência aparece descrita em "Cemitério dos Vivos", seu romance inacabado, e o local se revela um depósito onde os negros sem condições de trabalho eram abandonados. Em grande número, eles contribuíam para divulgar uma falsa teoria, baseada no darwinismo social, que os considerava pertencentes a uma "raça degenerada".

Na realidade, o escritor não recebeu em vida, o merecido sucesso. De acordo com a historiadora, ao mesmo tempo que se rebelava contra o sistema, Lima Barreto pretendia fazer parte dele. Por exemplo, ele atacava a Academia Brasileira de Letras, mas se candidatou três vezes, sendo que em duas, foi derrotado e na terceira, acabou desistindo. Sem dúvida, algo esperado, pois o escritor soube como poucos, cultivar inimigos no meio jornalístico, literário e político. Acabou isolado, no entanto, o papel de vítima não lhe assentava bem, pois jamais assumiu a postura de um figurante passivo diante das injustiças que sofreu. Porta-voz dos desvalidos, retratista dos subúrbios e crítico da Velha República, ele defendia a ideia de que a literatura deveria "ser uma forma de levar ao homem comum a mensagem de sua libertação e um estímulo para continuar lutando para o reconhecimento de todos seus direitos fundamentais".

De fluida leitura, "Triste Visionário" surpreende pela densidade e as inúmeras informações, que vão do movimento abolicionista até detalhes da biblioteca do escritor, denominadora Limana. Entre minhas passagens preferidas, estão as críticas "à literatura de brindes, de sobremesas e de toaletes", já que Lima Barreto defendia uma literatura realista e contrária aos estrangeirismos. Sobram ataques ao parnasiano Coelho Neto, seu principal desafeto, Rui Barbosa e João do Rio, um dândi que conseguiu chegar à ABL. Com relação a Machado de Assis, que faleceu quando o escritor despontava na carreira, não há registros de contato direto entre eles e, a despeito de compartilharem problemas similares na infância e início de carreira, Lima Barreto sempre se posicionou "como um anti-Machado ou, talvez, um outro Machado".

Enfim, esta biografia é uma leitura essencial para quem aprecia a literatura brasileira. Com relação a obra do escritor, aproveite para ler ou reler "Triste Fim de Policarpo Quaresma", apontado como seu melhor livro, remete a um herói picaresco, uma espécie de "Dom Quixote" nacional. Também merecem destaque "Recordações do Escrivão Isaías Caminha", uma crítica ao jornal "Correio da Manhã" onde trabalhou, e "Contos Completos de Lima Barreto" cujos textos (alguns inéditos) foram compilados e organizados por Lilia através de pesquisas em manuscritos, edições originais, jornais e revistas da época.

"A cachaça não faz mal a ninguém, o que está estragando a nossa literatura é a burrice." (Lima Barreto)

Nota: Adquiri "Triste Visionário" em ebook e, quando fui postar meu comentário, fui surpreendida por uma novidade: a venda de exemplares autografados pela Lilia Schwarz. Finalizei a compra no ato e estimo que a Amazon estenda esta iniciativa para outros livros, mesmo que cobre um pouco mais.
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Marcos Scheffel 23/09/2017

Uma grande decepção (Lima Barreto: Triste Visionário)
A presente biografia foi lançada com grande "barulho" neste ano em que Lima Barreto foi o homenageado da FLIP. Lilia Moritz Schwarcz que assina a biografia esteve na abertura do evento ao lado do ator Lázaro Ramos.
Li o livro antes de participar do evento em Paraty e por um motivo óbvio sou pesquisador da obra de Lima Barreto e tenho lido a obra dele há mais de dez anos.
Nesse sentido, minha recomendação aos leitores que querem ler uma biografia de Lima Barreto é a seguinte: leiam "A vida de Lima Barreto", de Francisco de Assis Barbosa. Por vários motivos: 1) é melhor escrita enquanto biografia; 2) desperta interesse pela obra do autor; 3) mostra Lima Barreto como um intelectual em construção e não pesa demais a mão ao tratar do alcoolismo e da loucura; 4) traz ao seu final a catalogação da Biblioteca de Lima Barreto - dos livros que nela constavam (só isso já vale a leitura e muda muitas ideias que fazemos do autor).
Já o livro Lima Barreto - Triste Visionário, lançado em 2017, se limita a seguir o mesmo roteiro proposto por Francisco de Assis Barbosa, nos anos 50, e a mesma fórmula: Lima Barreto é um autor que confessa demais em sua obra, logo podemos usar passagens ficcionais para recompor a vida do autor. Ora, isso está claro no livro de Francisco de Assis Barbosa. Ele diz que se apropria da ficção para narrar a vida de Lima Barreto, mas ele modaliza a todo momento tais comparações entre autor e seus personagens. Já no livro assinado por Lili M. Schwarcz esse uso da ficção enquanto confissão, enquanto documento não está esclarecido para o leitor.
Fora isso, Francisco de Assis Barbosa escreve essa biografia num momento de redescoberta de Lima Barreto (em que ele, o biógrafo, teve um papel de destaque), nos anos 50!!!
Fica pergunta: será que um biógrafo no século XXI deveria repetir as comparações que Francisco de Assis Barbosa fez entre a vida e obra de Lima Barreto nos anos 50?
Pesquisas recentes - como das professoras Carmem Negreiros (UERJ) e Ceila Maria Ferreira (UFF) - têm procurado romper justamente com essa imagem do autor que utilizou a ficção apenas para confessar, pois isso foi uma leitura promovida para rebaixar a obra de Lima Barreto, como se ele fosse incapaz de produzir uma ficção de qualidade.
Esperava-se que uma biografia nova trouxesse descobertas sobre o autor e que fosse baseada em uma pesquisa de arquivos. As cartas do autor e algumas de suas crônicas (de caráter mais engajado e pessoal) poderiam ajudar a recompor a trajetória deste escritor. Não que esse material não seja citado na presente biografia, mas ele vem misturado com a ficção de Lima Barreto e isso coloca escritos de diferente natureza e propósito num mesmo nível.
Outro ponto que quero destacar é que há vários erros no livro ao se falar das obras ficcionais. Esses erros se referem aos romances Recordações do Escrivão Isaías Caminha, à Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá e à Triste Fim de Policarpo Quaresma. Há erros também ao se falar de contos de Lima Barreto e ao conto Pai contra mãe, de Machado de Assis.
Caberia a Companhia das Letras - uma editora que tem como traço o cuidado na edição de suas obras - fazer uma revisão ampla do que está escrito ali (sugeriria inclusive um recall, pois os leitores que compraram a primeira edição receberam um material repleto de erros e esses erros podem vir a ser multiplicados em trabalhos acadêmicos, por exemplo).
O que o leitor vai encontrar de diferente nesta biografia? A resposta é simples dados históricos. A fórmula de escrita desta biografia parece ter sido esta: manutenção das conclusões de Francisco de Assis Barbosa (eu diria que uma paráfrase mal feita) com o acréscimo de informações históricas (a condição do negro, o ideário anarquista de Lima Barreto, a questão dos hospícios, as formigas na ilha do Governador etc).

(Devo em breve publicar uma resenha em que análise com mais detalhe esta biografia comparando-a ao trabalho pioneiro de Francisco de Assis Barbosa).

Dayana116 23/09/2017minha estante
Tenho interesse em ler sua resenha comparativa das biografias. Comprei este livro. Confesso que depois de ler sua resenha fiquei um pouco preocupada, especialmente por causa dos erros que você disse que existem no texto.
É preocupante pensar que alguém que estudou a vida e a obra do autor pra escrever uma biografia tenha cometido estes erros.


Marcos Scheffel 23/09/2017minha estante
Como disse, vale a penar ver a primeira biografia "A vida de Lima Barreto" e entender que Francisco de Assis Barbosa traçou várias comparações entre os textos ficcionais e a vida de Lima Barreto (era um pressuposto desse trabalho feito nos anos 50). Agora, ver essas comparações sendo retomadas como "documento" mais de 50 anos depois é preocupante. Muita coisa aconteceu nestas últimas décadas que deveriam ter sido levadas em conta. Quando sair a resenha (deve demorar um pouco) eu posto aqui.


FrankCastle 19/11/2017minha estante
Obrigado pelas informações. Puxa, que pena! Estou, aos poucos, explorando mais da literatura brasileira e Lima Barreto é um nome que sempre aparece, não sem a ressalva de ser um autor injustiçado. Peguei agora essa edição em e-book por um ótimo preço, mas já coloquei a edição do Francisco de Assis Barbosa na lista de desejos e pretendo seguir sua recomendação de a ler primeiro. Obrigado!


Renata Cavalcante 29/06/2019minha estante
Excelente essas informações! Vou atrás do livro de Assis Barbosa em vez desse outro. Foram de grande utilidade essas suas considerações, pois eu já iria comprar o livro. Agradeço imensamente pelas dicas.


Luci Eclipsada 26/04/2020minha estante
Muito bom ter o parecer de um pesquisador da obra do autor. Se for para ler mais do mesmo e ainda correndo risco de ser mal informada, melhor recorrer à biografia que comentou. Obrigada pela dica. Lendo Lima Barreto pela primeira vez. Comecei por Clara dos Anjos e não pretendo parar por aqui!


Aline 08/09/2020minha estante
Fiquei curiosa para ler, Lilia Schwarcz tem um currículo incrível, achei estranha a crítica de 1estrela. Qual a sua formação? Fiquei bem curiosa também.


Marcos Scheffel 08/09/2020minha estante
Bom dia,

Segue resenha que fiz sobre a biografia:

https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33578

Maiores informações sobre minha formação você pode obter via meu currículo lattes.

Abraços,

Marcos Scheffel


Aline 08/09/2020minha estante
Obrigada por responer, eu acabei olhando rs te preguntei porque sou uma grande admiradora da Lilia, sou professora de História, mas entendi seu ponto de vista. Estou observando algumas avaliações aqui do skoob negativas sem o menor embasamento para serem feitas, não é seu caso, seu currículo já responde muita coisa. Muito atencioso responder, obrigada!!!


Joao.Marcelo 13/09/2020minha estante
Li ambas as biografias. Lilia traz muito do contexto histórico em que lima viveu e produziu, fotos e algo curioso que não havia na biografia escrita por Francisco: O destino dos irmãos do escritor.


Marcos Scheffel 21/11/2020minha estante
João Marcelo, há muita informação histórica citada na segunda biografia que na verdade são coisas "requentadas" do próprio Lima Barreto ou de pesquisadores de sua obra (sem os devidos créditos). A edição tem muitos erros quando comenta livros do Lima Barreto (tenho ainda uma lista de erros que apontei e quando digo erros é de leituras mal feitas de romances, contos, crônicas). Também acho que a obra presta um desserviço ao colocar, de certa forma, Lima Barreto como um derrotado. No meio dos críticos do Lima Barreto, a obra foi vista com muitas restrições, mas muita gente não opina com medo do poder de grandes grupos editoriais, como é o caso da editora que publicou o livro.


Anna Luiza Freire 26/11/2020minha estante
Marcos, muito obrigada pela sua resenha esclarecedora. estou fazendo uma pesquisa e estou procurando algumas referências. vou adquirir o de Barbosa.


Anna Luiza Freire 26/11/2020minha estante
ah, minha pesquisa é sobre violência contra o povo negro em requerimentos do século XIX.




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