Tinho Silva (@cafecomlivrossp) 09/04/2020
Na minha pele – Lázaro Ramos
Inicialmente peguei esse livro com uma visão de pré-conceito, acreditando que o fator principal para o seu sucesso, se dava ao fato de ter sido escrito por uma pessoa famosa, carismática, popular, consequentemente, muito conhecida pelo público em geral. Me enganei. Lázaro Ramos, com força e de forma direta, coloca o dedo em uma das maiores feridas do Brasil, o Racismo. O livro vem repleto de verdades, recorrendo sempre ao passado, seja histórico ou o seu particular, para apontar comportamentos racistas e como esses ainda hoje, impactam na vida da população negra. Então, vamos aos destaques.
“Esses somos nós, reflexos de um espelho quebrado que, como um mosaico, apresenta um pedacinho de nossa história.” (p. 67).
Não definir o texto como como uma autobiografia e sim um registro de experiências. Acredito, esse ter sido um dos fatores que influenciaram o grande êxito do livro. O autor consegue transformar, usando as suas experiências, a obra em um “papo reto” com o leitor. Essa característica vai sendo apresentada sutilmente; e ao mesmo tempo que o autor nos conta as suas histórias, consegue nos fazer refletir e pensar em diversas questões presentes em nossa sociedade.
A franqueza ao tratar sobre o Racismo. O debate é mostrado de forma objetiva, o autor não está preocupado em expor de onde o Racismo veio, e sim mostrar que ele existe, que está presente em nosso dia a dia, as vezes de forma velada, outras vezes nem tanto, e que é preciso combate-lo sempre. Isso nos revela também, que a escolha do título “Na minha pele” foi feita de forma muito consciente, o que para alguns parece “mimimi”, nas vivências de Lázaro Ramos transparece as violações sofridas diariamente pela população negra.
“Mas quem é negro como eu sabe que a cor é motivo de discriminação diária, sim.” (p. 49).
Utilizar como referência o programa de TV “Espelho”, apresentado por ele, no qual, entrevista diversas personalidades, abordando os temas mais diversos possíveis. Citar algumas dessas entrevistas, apresenta ao leitor outros pontos de vista, e concomitante a isso, tomadas de consciência que ele só tivera nessas trocas frequentes, sinalizando que os posicionamentos não nascem com a gente, são nos ensinados no decorrer da vida. Afora isso, podemos citar também referências a outras personalidades e livros que vão ajudar no entendimento e na ampliação do debate sobre o Racismo.
“Resistir é preciso, assim como reexistir. Novas formas, caminhos, caras e vozes.” (p. 129).
Por fim, temos aqui um livro muito bacana, que por meio de experiências pessoais, Lázaro Ramos nos conta um pouco da sua história, refletindo sobre ser negro no Brasil e como isso vai influenciar em sua trajetória. O debate sobre Racismo é feito de forma direta, porém muito natural e coerente, acredito que o texto atinge o seu objetivo central e contribui para a continuidade dessa discussão. Indico como leitura a todos, creio que valha a pena perder algumas horinhas do seu dia para essa leitura.
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