Kafka à beira-mar

Kafka à beira-mar Haruki Murakami




Resenhas - Kafka à Beira-Mar


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Will Monteath (autor) @willmonteath 17/07/2020

Vem Kafkar Comigo
Kafka à beira-mar é poesia da mais pura. Um livro delicioso de ler, emocionante e cheio de metáforas. Como não se apaixonar pelo menino mais valente do mundo, o senhor Nakata, que tem a cabeça ruim, Oshima, Hoshino, os gatos falantes, o Menino Chamado Corvo, Sakura, a Sra. Saeki e até mesmo os alucinógenos Coronel Sanders e o Johnnie Walker - o torturator de gatos.

Foi o melhor livro que li (até agora) do Murakami e, sem dúvidas, um dos top 5 que já li na vida.

De uma sensibilidade ímpar, de uma escrita que fala com o coração, Kafka à beira-mar deu um gostinho profundo de quero mais. Cavalinhas caíram do céu e inundaram o meu pensamento com a psicodelia poética do craque japonês. Apenas leiam :)

@willmonteath
www.willmonteath.com.br
Marcelo.Alencar 10/04/2024minha estante
Concordo. Emocionante ?!!????




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

Kafka à beira-mar, Haruki Murakami - Nota 10/10
Com certeza o meu livro favorito do autor. Com sua extrema habilidade de mesclar o mundo real com aspectos fantásticos, Murakami nos apresenta a vida de dois personagens que, aparentemente, não tem nada em comum: Kafka Tamura, um garoto de 15 anos que, após fugir da casa de seu pai, sai em busca de sua mãe e irmã para se livrar de uma profecia; e Satoru Nakata, um idoso que, após sofrer um acidente na infância, desenvolve a habilidade de falar com gatos. A construção das personagens, solitárias e à margem da sociedade, é feita de forma impressionante, evidenciando os aspectos mais profundos da condição humana. Além de uma trama instigante e misteriosa, criando no leitor a curiosidade em ler a próxima página, o livro é rico em referências culturais. É difícil descrever a qualidade dessa obra... Apenas leiam!!!

site: https://www.instagram.com/book.ster
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Mari Vannucci 20/03/2024

O príncipe nômade que detém a chave do mistério.
Murakami explorou muito bem o tema e o mito de édipo. Uma jornada no autoconhecimento. Sobre autoconsciência e adquirir a capacidade de ouvir a si (através de um menino chamado corvo).
Um livro muito bonito e sensível (e bizarro às vezes).

Por mais que tenham capítulos densos, não é uma leitura arrastada mas também não é um livro que foi construído para ser devorado. Esse se saboreia, aos poucos; para digerir e compreender. É literalmente aquele tipo de história que você tem que SENTIR.
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Nifrido 08/08/2021

Bem estilão do Murakami
Esse livro é extremamente parecido com O Assassinato do Comendador, do próprio Murakami. Um livro abstrato, essa é a melhor definição das obras do autor.

Abstrato, um ótimo livro. Leia e tire suas próprias conclusões, pois as minhas ficarão guardadas aqui comigo.
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Ana Sá 30/09/2021

Lindamente triste, e com umas doidera no meio
"Não se nasce murakamer. Torna-se murakamer"...

... E eis-me aqui, toda murakamizada!

[Já aviso que, para falar do livro, vou falar de mim!]

De tudo que podemos dizer que une as duas histórias paralelas do romance, eu colocaria a solidão como um elo importante. O jovem Kafka, de um lado, e o idoso Nakata, de outro, duas personagens que estão em busca de si, mas que recorrentemente têm suas rotas desviadas para o contato com os outros, como que para perceberem que ser sozinho não significa ser solitário.

E daí surge o ponto que eu acho muito lindo na obra: o papel da gentileza e da generosidade das pessoas estranhas. Quem, como eu, já fez peregrinação ou bicigrinação por rotas como Caminho da Fé ou Santiago de Compostela vai ver ecoar algumas memórias de viagem ao ler este livro. Lembrei, por exemplo, de um senhor que parou sua caminhonete enquanto eu caminhava com minha mochila num sol de rachar, numa estrada de terra de MG, e gritou: "Peregrina, levanta a lona aí atrás, tem laranja e banana, pode pegar! Você precisa de água aí??. 

Naquele momento, apesar de exausta, eu tinha a certeza de que comida e água não me faltavam. Mas paciência e ânimo sim, estes estavam se esgotando, pois o calor me consumia como nunca. E assim eu descobriria o quanto necessitava de um gesto de gentileza. O quanto a minha bagagem carecia de afeto. A parada atenciosa daquele senhor foi um sopro de vitalidade na minha caminhada. Daquele senhor e de tantos outros que olharam para o lado quando eu estava a cruzar seus caminhos.  

Eu sempre acreditei que, mesmo sem percebermos, existe um lugar especial reservado a pessoas estranhas na nossa existência, sobretudo na existência daqueles que seguem sozinhos. Há como uma fresta nos encaixes dos nossos tijolos, que só é preenchida quando alguém de fora deita o olhar nas nossas fendas, sabe? E este livro me levou para o lugar desse eu que aguarda, sem nem saber, pelo reparo de alguém. E ninguém nunca sabe? A gente nunca sabe o que se passa na vida do outro, nunca conhecemos o outro por completo, por isso há anos eu penso que, na dúvida, nunca devemos nos economizar. E os desconhecidos deste romance de Murakami não se economizam. Eles têm escuta ativa, olhar ativo. Achei isso tão bonito! 

São, pois, encantadores os tais ?estranhos? que cruzam as travessias de Kafka e Nakata. Oshima e Hoshino, encenando as personagens supostamente secundárias da trama, proporcionam diálogos lindos com os protagonistas e têm trajetórias muito ricas no romance. Mais do que isso: também muitas personagens quase ?terciárias?, como as que dão carona e informação para Nakata num determinado momento, passam rapidamente pelo livro, mas deixam saudades!

Este é o meu primeiro contato com Murakami, mas eu arriscaria definir sua escrita como um misto, bem-sucedido, de lirismo com surrealismo. E nesta obra, em específico, vem do surrealismo/realismo mágico o fato de eu não ter dado cinco estrelas: apesar de, no geral, ser fascinante o modo como elementos mágicos são incorporados à narrativa, em "Kafka à beira-mar? surgem personagens e situações fantasmagóricas que não me convenceram por completo, sobretudo nos capítulos finais, sobretudo nas passagens que envolvem sexo (e não sou moralista não, estou falando de coesão narrativa; achei excessivo). Senti, inclusive, que o livro poderia ter 50 páginas a menos, mesmo tendo a certeza de que esse é o tipo de romance no qual o leitor deve entrar para perder, isto é: nem tudo fará sentido, nem tudo será explicado? O leitor é um derrotado de antemão. E tudo bem? E ainda bem! Afinal, a arte nunca se comprometeu a ser uma fonte de respostas, não é?  

Estou certa de que a obra vai ficar na minha memória para sempre. Há pontos baixos no livro, mas os pontos altos são altíssimos! Recomendo muito a leitura, mas aconselho: vá disposta (o) a perder e a perder-se. É lindamente triste, tem umas doidera no meio, mas é, sobretudo, muito encantador.

Obs.: Só o Nakata já vale a leitura deste romance. Virei ?Nakater? também! Baita personagem, daquelas que a gente quer guardar em um potinho!
Julia Mendes 30/09/2021minha estante
Adorei sua resenha, Ana! ?


Joao 30/09/2021minha estante
Ana, resenha maravilhosa! A definição que você usou de lirismo com surrealismo é perfeita para Murakami. Além de que, não sei se com você foi assim, mas comigo a narrativa dele tem uma força sensorial imensa. Eu praticamente vejo as paisagens que ele narra e sinto os odores hehehe.
Recomendo pra você agora o Minha Querida Sputnik. Acho um livro lindo dele e é o meu preferido dos que li até agora do autor.


Ana Sá 30/09/2021minha estante
Obrigada, João! Com certeza vou seguir sua sugestão! ...

E sim, muito sensorial. Entrei e saí de caminhão e de floresta junto com as personagens! ?


dani 30/09/2021minha estante
Que resenha linda! Murakami com certeza vai estar na minha lista para o próximo ano.


Andre.28 04/10/2021minha estante
Nakata reizinho! Amo demais esse caráter "aberto" das coisas. Murakami é como a vida, nem sempre precisa fazer sentido. Tem coisas que não tem explicação. Eu também adoro esse caráter simbólico do cotidiano, trazendo lirismo as coisas comuns da vida. Bem vinda ao clube "Murakamer" kkk


Eveli 03/02/2022minha estante
Adorei a resenha! Descreveu muito do que senti!


Helder 19/04/2022minha estante
Que resenha linda. Volto aqui quando acabar a leitura!


Jacy.Antunes 01/05/2023minha estante
Ótima resenha, Ana. Queremos Murakami vencedor do Nobel de Literatura.




Rafa 09/07/2022

Psicodélico
Nessa obra o espaço e o tempo adquirem um novo conceito. Com uma escrita viciante e poética, o Autor acerta em cheio ao subverter a ordem natural das coisas. No fim, sobram mais dúvidas do que conclusões, o que (de certa forma) nos permite encarar o fantástico como viável.
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Andre.28 03/02/2020

Simbologia da Tristeza, Retratos da Sensibilidade
[ALERTA, RESENHA ENORME]

"O que eu busco é a força que me permita enfrentar a que vem de fora e resistir a ela. Um tipo de força que me permita suportar com serenidade a injustiça, a falta de sorte, a tristeza, o mal-entendido e a incompreensão."

[Um caleidoscópio metafórico da vida, da dor, da sensibilidade.]

Kafka à Beira Mar conta as histórias de Kafka Tamura, um jovem de 15 anos que foge de casa em busca de uma jornada para encontrar a si mesmo, e do Sr. Satoru Nakata, idoso com problemas mentais e cognitivos que conversa com gatos e é ignorado por todos à sua volta. Com uma dose de simbologia carregada, alegorias são construídas como o fato de gatos falantes, peixes e sanguessugas que caem dos céus. Nakata é parte mais triste desse enredo. Solitário, com problemas de cognição, mas ainda assim uma simpatia admirável. Conseguia se comunicar a sua própria maneira, trançando uma jornada em encontro com o passado de dor e sofrimento. Logo após a sua jornada verdadeiramente começar, Nakata encontra o caminhoneiro Hosino, jovem de 29 anos que passa por uma transformação ao seguir o idoso. A sensibilidade de Murakami aqui é aguçada. Nakata passível, sesnsível, relegado e ignorado por todos à sua volta, vai cativando o leitor logo após sair de Tóquio em direção a Takamatsu em busca da Pedra de Entrada.

Na outra ponta desse enredo temos Kafka Tamura. O garoto Tamura cria em sua própria mente uma personagem alter ego com o nome de ‘o garoto chamado Corvo’ (uma espécie de consciência interna). Kafka foge de Tóquio para Takmatsu, de forma que se depara com Sakura, uma jovem de 21 anos que o ajuda na estadia na cidade e passa ser uma espécie de irmã. Kafka precisa passar pelos tormentos da juventude, cumprir uma profecia de dor e reencontro. Coisas que obviamente não posso dizer, pois estaria dando revelações do enredo.

Nesse ínterim, Kafka Tamura também faz amizades com Oshima (um dos melhores personagens do livro) um rapaz que é bibliotecário da biblioteca local, e também da misteriosa Sra. Saeki que é a gerente da biblioteca. Oshima é um personagem fascinante, inteligente e atenta-nos a questões importantíssimas de gênero, de filosofia de vida. Particularmente gostei mais dela do que do Kafka.

Na jornada de Nakata temos personagens alegóricos, fantasmas ou personalidades. Metáforas surrealistas que estão no enredo para despertar a consciência do leitor para o universo mágico dos significados, das formas de vida, do inconsciente diário, das sensibilidades ignoradas, dos caracteres humanos, dos sonhos em nossas vidas. Personagens como Jonnie Walker, o matador de Gatos, e Coronel Sanders. Quanto a esses dois últimos, são mais alegorias para “personalidades alheias ao mundo realístico”, mas que são dotados significados que podem ser lidos nas entrelinhas.

Particularmente adorei, amei esse livro. Nakata atenta-nos a perceber a condição das pessoas que tem problemas mentais, apontando também sensibilidade, doçura, tristeza, e a fantasia aos diversos seus mundos. Kafka não tem tanto carisma, mas acredito que com o passar do enredo a gente compreende que ele é apenas um garoto confuso, e cheio de hormônios. Pra que não querendo começar a ler os livros do Murakami não creio que este livro seja o recomendado, pois aqui temos coisas que vão além da dimensionalidade do discurso desse autor japonês. Mas, aqui não temos um autor tão diferente do habitual. É importante compreender que os livros do Murakami partem do ponto de vista masculino, e ele deixa bem claro esse ponto. A sexualidade também é uma coisa que pode incomodar um(a) leitor de primeira viagem desse japonês. Essa parte é passível de críticas, muito embora ele trate essas coisas de forma muito natural, sem deixar de passear pelas fantasias e banalidades desse “quesito” humano.

Tudo mais o que posso dizer é que esse livro é triste. Uma ode surrealista que retrata sensibilidades, solidão, comportamentos e filosofias próprias. Uma jornada de dor e descoberta, sonho e realidade, ligações e rupturas, mistério e fantasia. Todo o pensamento nos leva a empatia, a dor, ao sonho, as múltiplas formas de enxergar o abandono, as amizades, as entregas, as perdas, as banalidades e as coisas especiais da vida.

Murakami viu um Kafka que andava a Beira Mar de Takamatsu, que era a canção da Sra. Saeki, a pedra de Nakata. Viu um Kafka que era dor, um sonho...a vida.


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spoiler visualizar
Marlo R. R. López 05/03/2024minha estante
Você verá esse padrão em literalmente todas as obras do Murakami. É cansativo pacas. Chega um ponto em que você não consegue ler mais nada do autor, vai por mim.




Carolina 25/08/2023

"É assim que se constroem as grandes histórias — com viradas estonteantes."
Uma vez eu li sobre o Murakami ser um grande contador de histórias e hoje, após passar muito tempo com essa obra maravilhosa dele, posso concordar plenamente. Kafka à Beira-Mar foi o meu primeiro contato com o autor e lembro bem como foi a escolha da leitura, sendo que eu poderia muito bem ter começado por algo menor, com poucas páginas, o livro me chamou a atenção pela capa. Quem nunca, né? Sou muito fã dos livros da Alfaguara e todas as publicações do autor pela editora, tem esse capricho.

Sobre o livro me vi envolvida em vários tipos de personagens, histórias, universos até um tanto loucos e que de certa forma causa confusão. Mas com o decorrer das páginas, me peguei totalmente submersa em um mundo repleto de filosofia e cultura. O foco principal gira em torno de dois personagens: Kafka Tamura, um adolescente que resolve fugir de casa, e Satoru Nakata, um idoso que sofreu um acidente misterioso na infância que o deixou meio “ruim da cabeça”. Durante toda a leitura o enredo desses personagens são em paralelo, mas por fim descobrimos que eles estão interligados.

É uma leitura profunda e requer muita atenção. É cheio de simbolismos. Mas a escrita do Murakami é fluida, o romance me fez se apegar com vários personagens e suas particularidades. Me fez refletir com questões como guerra, alfabetização, família, amor e até a morte. O final é ainda mais surpreendente, mesmo que tenha me deixado com muitas duvidas, mas isso não tira o mérito de que é um excelente livro.
Emerson Meira 25/08/2023minha estante
Linda resenha dona Ana! ? Parece que conseguiu seu objetivo ?


Carolina 25/08/2023minha estante
O famoso: "prometi nada e entreguei tudo", hahahaha. Fico feliz que você tenha gostado, Emerson! ??


AndrAa58 25/08/2023minha estante
Espalhou a palavra ??




angelo.zampar 16/03/2022

Impressionante
A forma como Murakami mescla o real com a fantasia é tão simples e intensa que o texto parece que não quer parar de ser lido. O livro quase fala: você vai mesmo parar agora?
Até agora foi o livro que mais curti dele.
A simplicidade como descreve os personagens e fatos da vida de repente te pegam e fazem pensar nas suas próprias escolhas e na condição humana como um todo. Coisas mundanas como higiene, alimentação, dia a dia, tudo muito detalhado.
Ao mesmo tempo que é mágico e lindo, tem momentos sórdidos e difíceis de lidar. E isso realmente cativa.
Detalhe especial para as conversas com gatos, sensacional.
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Thiago 31/08/2021

uma viagem lisérgica pelas páginas
Ler Kafka à Beira-Mar, mais do que acompanhando um romance de formação e um suspense com profundidades poéticas, também foi acompanhar um mundo paralelo e deslocado do real, com rupturas por quase toda a extensão de quase seiscentas páginas deste livro. Uma experiência, definitivamente, mas se é boa ou ruim apenas lendo para saber (o livro abre muito espaço para individualidades).
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Bruna 07/09/2023

Kafka à Beira-mar
Amei bastante a primeira metade do livro, mas depois disso começou a ficar meio difícil de engolir essa narrativa bizarra de comer mãe e irmã?????
Teve só duas personagens femininas nessa história e as duas o Murakami conseguiu tornar tudo sexual & ainda meteu uma de que elas eram mãe e irmã dele.

Muito desnecessário.
Marlo R. R. López 05/03/2024minha estante
Esse livro brinca com o enredo da peça grega Édipo Rei, escrita por Sófocles. A jornada dos dois protagonistas é basicamente a mesma, e levanta a ideia de que todos os destinos trágicos são inevitáveis, por mais que você tente fugir deles.




Jow 04/08/2012

E então, você adormece. E, quando acorda, é parte de um novo mundo.
"Get up (Get up)
Come on (Come on)
Why you scared? (I'm not scared)
You'll never change what's been and gone

'Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You'll see them some day
Take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out"

Stop Crying Your Heart - Oasis

Quando o amor e o vazio de uma vida se encontram, só as lembranças são capazes de sanar as tristezas de um coração. Quando amamos, estamos entregando ao nosso amado uma parcela daquilo que nos é mais importante. Entregamos a ele (a) uma essência daquilo que somos, e recebemos dele uma parte daquilo que falta em nós. Amar é a busca incessante para sanar o vazio existencial que está intrínseco dentro de nós, é tornar real o mais profundo dos nossos sentimentos. É a busca de nossos olhos pelos olhos do amado, toque por toque, desejo por desejo, dúvida substituída por certeza, para enfim sentirmos concretamente que não nos falta mais nada. Muito se pensa sobre o amor de uma forma generalizante, e em alguns casos ele pode ser denominado por palavras. Mas, quando se entra na metáfora do amor particular, os labirintos por ele criados, deixariam todos os poetas de queixo caído.

Muito se ouve sobre “Kafka à beira-mar” livro de Haruki Murakami, mas pouco se sabe além de que Kafka Tamura é um jovem de quinze anos que foge de casa após se dar conta de que a maldição lançada pelo seu pai está perto (“um dia você irá matar seu pai e dormir com sua mãe e sua irmã” – sim, uma profecia de Édipo já abre o romance, ou seja, é preciso estar atento às metáforas, por mais evidente que elas sejam). Ele só pode confiar no seu amigo, o Menino Corvo, nada mais do que seu alter-ego kafkiano. Na outra extremidade da obra temos Satoru Nakata, um senhor de setenta anos que perdeu habilidades básicas – para não dizer que perdeu totalmente suas faculdades mentais – após um incidente durante a sua infância, porém ele adquiriu o dom de conversar com gatos. Conversas essas que começam como que entre dois desconhecidos, Nakata sempre fala sobre o tempo antes de criar uma certa intimidade com os felinos que conhece.

As histórias dos personagens são contadas em separado, em cada capítulo conhecemos um pouco mais da trajetória de cada um, contudo, uma das grandes virtudes desse romance é instigar-nos a querer a qualquer custo que as duas se cruzem em algum momento, mas caso esse pequeno evento aconteça ele pode não ser mais importante do que o desfecho das tragédias de Kafka e Nakata. Kafka “consegue” se libertar fisicamente da sombra de seu pai, mas a sombra de seu pai não desaparece por inteiro. Muitas vezes ele parece encontrar sua mãe ou sua irmã, grande parte das vezes se sente atraído por essas desconhecidas, que poderiam concretizar sua maldição, fazendo-o se afastar antes mesmo de um contato físico. Kafka também encontrará um sentido sobre a vida e o viver, sobre a idade e sobre o tempo, onde na experiência do se entregar ao amor ele poderia não envelhecer, mas também poderia deixar de viver.

Em alguns capítulos, o leitor tentará conectar pontos, mas em nenhum momento Murakami deixa especificado se houve, de fato, aquilo que foi narrado – a resposta quase de um monge budista chega aos seus ouvidos: “você sabe a resposta”. Mas e os leitores? Tem consciência de que muitos dos arcos deixados em aberto pelo autor são para mera ilustração de que realidade e fantasia podem se misturar? E se não estivermos atentos podemos acreditar mais numa loucura, nas fantasias apresentadas do cotidiano, do que naquilo que julgamos ser real. Que os sonhos podem tornar-se realidades, como os sonhos de estupro e assassinato, o subconsciente de Kafka agindo. Como tudo acontece naturalmente no livro, quem poderá julgar em que parte somos vítimas de uma brincadeira da mente criativa do escritor.

O feito extraordinário de Murakami é escrever com simplicidade, em muitas sentenças somos tragados por discussões pontuais sobre a alma e a salvação, mas os clichês somados às referências pop transformam “Kafka à beira-mar” quase num folclore contado por alguém que um dia, enquanto bebia num bar, viu Johnnie Walker sair da garrafa de 12 anos e falar com ele sobre caçadas sádicas a felinos domésticos com sua flauta – de onde surgirá uma ótima sequência digna dos melhores Westerns. Ou podemos acreditar que o velho do KFC na verdade se transformou em uma grande marca capitalista para ser um ícone do abstrato. Ainda assim, Nakata exibe outras habilidades que são mostradas ao longo do livro que dão tons bíblicos as tempestades que ocorrem nas regiões por onde ele passa. Com tantas referências, homenagens e misturas – os tons bíblicos, o sci-fi, a mitologia grega, a filosofia de Platão – é impossível se referir a “Kafka à beira-mar” como um livro sobre histórias paralelas entre a entrada na vida adulta e o ápice da velhice. Os simbolismos e seus significados para explicar o que são todos os sonhos do jovem Kafka ou sobre a busca implacável de Nakata são meras ilustrações para duas das maiores forças no romance: o amor (com forte presença do sexo) e o vazio – os dois se complementam e se separam e curiosamente há um personagem em todas as tramas que consegue encontrar tudo em si mesmo.

Humor ou tragédia, não importa qual será a visão de cada leitor sobre “Kafka à beira-mar”, tantos podem gostar pelas tragédias, outros pela comédia sádica, mas será muito difícil escapar da inércia que Murakami envolve seus leitores. O escritor cria a realidade através de suas fantasias para assim explicar as bases da vida humana e seus questionamentos ignorados desde que a modernidade e a realidade se tornaram mais importantes.
Fran Kotipelto 17/08/2012minha estante
Curiosa, muito curiosa para ler esse livro. Suas resenhas estão cada vez melhores. Show!!


19/01/2018minha estante
eu gostei da sua resenha, mas eu achei que tem muito spoiler




Allana.Araujo 09/07/2022

Impactada
Murakami é um gênio! Todo o livro é uma metáfora incrível e que se vale de elementos fantásticos para confirmar essa metáfora. Algumas coisas eu ainda não entendi o que significam, mas outras são bem claras. Outra coisa é a quantidade de referências de todos os tipos que têm nesse livro. A forma como tantos elementos são colocados na narrativa e deixam ela tão rica me deixou pensativa. Amei!
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Pappa 28/03/2010

2 em 1
Este livro de Murakami traz 2 histórias em uma: a história de Kafka Tamura, um adolescente de 15 anos que foge de casa para escapar de seu pai e uma maldição / previsão que ele fez; e a história de Nakata, um velinho que sofreu um acidente misterioso durante a infância que tirou sua habilidade de ler e escrever (e o deixou meio bobo), mas que tornou possível que conversasse com gatos e outros dons "paranormais". As história são bem distantes, porém se tocam em alguns pontos e acabam convergindo no fim.

A meu ver a história de Nakata é muito mais interessante, misteriosa e surreal que a do adolescente. Lembra mais o estilo de Murakami. A história de Kafka também é interessante, mas acredito que seja um pouco mais "convencional", se é que alguma história escrita pelo autor pode ser denominada desta maneira.

Mais uma vez os personagens são incrivelemente bem elaborados. Nakata, Kafka, Hoshino, Sra Saeki, Oshima, Coronel Sanders, são bastante convincentes (mesmo o Coronel Sanders não sendo exatamente humano). Os melhores a meu ver são Hoshino e Nakata, muito bem construidos e cativantes ao extremo. Apesar disto a obra não se iguala aos pesonagens de outros trabalhos de Murakami (a não ser pelos dois personagens que apontei) como The Wind-up Bird Chronicle e Norwegian Wood. Está na média do autor.

Apesar da história ser bastante interessante, em outras obras dele fiquei mais preso à trama, com maior curiosidade de saber o que aconteceria a seguir. No caso da história de Nakata até tive essa curiosidade, mas ela é só metade do livro. De qualquer maneira, é uma história bem montada e que, como de costume, deixa muitos pontos de interrogação para nós, os leitores, resolvermos dentro de nós mesmos.

Em resumo, o livro é excelente, como todos que li do Haruki Murakami, porém não está entre os 3 melhores do autor na minha lista (veja que todos os comparativos que tracei foram entre livros do autor, por isso o grau de exigência é muito grande, já que todos os que li são de excelente qualidade).
Marina 04/04/2010minha estante
Pois é, o Nakata pra mim tbm foi o grande destaque! Não acharia ruim se ele tivesse um livro "solo" hhehehe


Jeff 27/10/2012minha estante
Poderia citar o teu top 3 do Murakami?


Pappa 27/10/2012minha estante
Mey top 3 Murakami:
The Windup Bird Chronicle
Norwegian Wood
Hard-boiled Wonderland and the End of the World

Ainda estou lendo 1Q84, mas ele não é tão bom quanto esses 3 de qualquer forma, pelo menos por enquanto...


Jeff 27/10/2012minha estante
Valeu! Ja vão mais algum pra lista.


Igor Nascz 30/06/2014minha estante
parabén pela resenha, disse tudo. E tenho muita vontade que Hard-boiled Wonderland and the End of the World seja traduzido aqui




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