Evandro.Atraentemente 16/07/2017
B. Demetrius é o autor de Log#1525, publicado pela Chiado Editora em 2017. O enredo de ficção científica que marca a sua estreia na literatura vem recheado de referências geek, deixando explícita sua paixão por tecnologias, viagens espaciais, videogames, séries de ficção, rock'n'roll, entre outros. É uma bela homenagem que, certamente, muitos leitores se identificarão ao longo das páginas.
O eterno anoitecer desse planeta me deixa tenso.
Depois de abandonar o serviço burocrático, enfrentar rigorosos treinamentos, estudar tecnologias avançadas e se preparar para conhecer lugares inóspitos, tudo o que o Major queria era curtir grandes aventuras como membro de uma grande Companhia Espacial.
Droga, acho que estou ficando paranóico!
Sua mais recente missão, juntamente com outros tripulantes, à bordo de um moderno supercagueiro, tinha como destino Oork-Clarke-Amazonas, uma base espacial na periferia do Sistema Solar. A rota era conhecida e segura, e a nave contava com recursos e equipamentos avançados. Dessa forma, todos os tripulantes passavam por longos períodos adormecidos em hipercubos especiais até o destino final.
O eterno anoitecer desse planeta me deixa tenso.
Tudo corria bem, até que, diante de um risco iminente para a missão, um protocolo de segurança foi ativado pelo sistema. A rota havia sido desviada e a nave foi guiada por um programa de emergência para um desconhecido planeta Classe M. Com o pouso forçado os tripulantes foram injetados em Pods de salvamento na superfície do planeta.
Escuridão total cria alucinações, faz a mente mostrar o que tem escondido nos seus recantos mais profundos.
Assim que o Major despertou do sono controlado, percebeu que estava sozinho e não tinha ideia do que havia acontecido. Contando apenas com BORIS (Bio Operational Resource Interface System), um implante cerebral ativado pela situação crítica, com interface contínua com o sistema da nave, o Major precisa restabelecer a comunicação com a Companhia e lutar pela sobrevivência. Esse é o início de suas desventuras em um lugar totalmente desconhecido, onde o confronto com seus próprios medos poderá levá-lo à loucura.
Estou ouvindo elas respirarem, ofegantes, barulhentas.
O grande trunfo do autor é a forma genial com que transformou BORIS em um segundo personagem. Embora suas falas não sejam explicitamente reveladas, pois toda a comunicação acontece dentro do cérebro do Major, conseguimos captar toda a essência dos diálogos e até desenvolver admiração pelo CHIP. A química entre os dois é responsável por ótimos momentos no enredo, com direito à variações de humor e DRs. Tudo muito bem desenvolvido por Demetrius, fazendo a leitura fluir naturalmente.
Eu sei que está lá, posso ouvir a respiração.
O cenário é um planeta gelado, fora do sistema solar, onde a noite parece constante. Explorar o imenso deserto de gelo será apenas um dos desafios que o Major enfrentará. Aparentemente sozinho, ele precisa se confrontar com os próprios medos e descobrir o que aconteceu com a tripulação. Ao longo das páginas conhecemos, junto com o Major, tanto o novo planeta quanto os mistérios que envolvem os acontecimentos após o pouso.
O que data de centena de anos terrestres nesses logs, para mim foi um cochilo.
O livro é dividido em 15 lotes de dados. São Logs curtos, registrados em primeira pessoa pelo Major, descrevendo cada passo de suas atividades, descobertas, medos e desespero. As páginas são amareladas, com letras e espaçamentos confortáveis. O autor tem domínio total sobre o enredo, soube calcular com precisão o nível de tensão, que cresce gradativamente, envolvendo o leitor a cada página. Os mistérios são desvendados em pequenas doses, o que nos deixa curiosos e na torcida para que tudo acabe bem para o Major e que ele possa, finalmente, encontrar seu melhor amigo, o Cão (um Droid que parece ser seu único vínculo afetivo deixado na terra).
Acredito que estou enlouquecendo.
Demetrius fez um ótimo trabalho na campanha de lançamento da obra. Alguns produtos especiais, dedicados a colecionadores, foram disponibilizados em quantidade limitada. Sorte de quem conseguiu garantir o seu. Canecas, camisas, marcadores, cards e até uma caixa de munição fizeram parte desse kit. Eu ganhei o marcador super estiloso, a caneta de plasma do Major, item inseparável do nosso personagem. Muito legal!
É uma leitura que os fãs de sci-fi, com certeza irão gostar. Eu indico. Que venham outras "desventuras" por aí, afinal o Major e o BORIS já estão com uma legião de admiradores. E como diria Demetrius: Até mais, Humanos!
Nada como ficar de tocaia esperando um predador que não se sabe como é.
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