Notas de um filho nativo

Notas de um filho nativo James Baldwin




Resenhas -


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Rafael 26/10/2020

Mais ácido e necessário do que nunca
A posição de pobre, negro e gay deram ao James Baldwin uma lugar de sem-lugar. Perseguido por ser gay pelos Panteras Negras, James Baldwin nessa pequena coletânea de ensaios joga todo seu sarcasmo para criticar livros e filmes, o personagem negro na literatura e no cinema. Rememora a infância. Fala do racismo nos EUAS. E o que sofreu na França ao ser preso por ser acusado de ter roubado um lençol.
Quem está acostumado com os romances encontrará aqui um autor muito mais ácido. É realmente impressionante como ele solta frases que reverberam dentro de nós, clareando buracos profundos.
James Baldwin é meu autor preferido. Hoje, com os movimentos sociais em ascenção, ele ganha força novamente.
Depois de tantas experiências negativas, James Baldwin demonstra em seu texto um pessimismo perante o futuro. Em um certo momento ele diz que duvida muito que negros se levantem exigindo direitos contra o estado ou um negro se torne presidente. Felizmente desta vez ele errou.
James Baldwin é reverberador, transformador e um presente.
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Luciano 12/08/2023

O ensaio que dá título ao livro descreve o luto da morte do pai do Baldwin e seu relacionamento com ele ainda em vida. É um texto de uma sensibilidade fenomenal.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 31/10/2020

James Baldwin - Notas de um filho nativo
Editora Companhia das Letras - 248 Páginas - Tradução de Paulo Henriques Britto - Capa de Daniel Trench - Lançamento: 24/09/2020.

Notas de um filho nativo do romancista, dramaturgo, ensaísta, poeta e ativista social norte-americano James Baldwin (1924-1987) foi lançado originalmente em 1955, reunindo dez ensaios publicados em diferentes jornais e revistas no período de 1948 a 1955 e se tornou um clássico na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, já que, um clássico, segundo Italo Calvino, "é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer", e este parece ser exatamente o caso desta obra, ainda tristemente atual. Os textos foram concebidos na mesma época de dois de seus maiores romances: "Go Tell It on the Mountain" (1953), de caráter autobiográfico com questões sobre religião e sexualidade na sua juventude e "O quarto de Giovanni" (1956), em que o protagonista é um americano branco vivendo em Paris que se apaixona por um bartender italiano chamado Giovanni.

Os ensaios foram divididos em três partes. Na primeira, estão agrupados aqueles que se assemelham a resenhas críticas e referentes à discussão sobre o papel do artista negro na sociedade. Por exemplo, no ensaio "O romance de protesto de todos", uma análise demolidora de "A cabana do pai Tomás"; em "Muitos milhares de mortos", a "vítima" é "Filho nativo" de Richard Wright, considerado, até então, o grande romance sobre a segregação racial nos Estados Unidos; já em "Carmen Jones: negro, mas não muito", uma avaliação de um filme de Hollywood de 1955 que apresentou uma releitura da ópera Carmen utilizando um elenco negro para criar, segundo o autor, "um erotismo estéril e incômodo". É claro que o valor dos ensaios não está apenas na avaliação crítica das obras, mas sim nas várias inserções e digressões nas quais o pensamento inteligente e sensível de James Baldwin aflora para as questões realmente importantes, como no trecho em destaque abaixo.

"O negro é um problema social, e não pessoal, nem humano; pensar nele é pensar em estatísticas, cortiços estupros, injustiças, uma violência distante; é enfrentar uma catalogação infinita de perdas, ganhos, escaramuças; é sentir-se virtuoso, indignado, desamparado, como se o status do negro no país fosse sempre de alguma forma análogo a uma doença – o câncer, talvez, ou a tuberculose – que é preciso controlar, ainda que não se possa curá-la. [...] O tempo fez algumas mudanças no rosto do negro. Fracassaram todas as tentativas de torná-lo exatamente igual ao nosso, embora de modo geral a intenção, ao que parece, seja a de fazer dele uma página em branco, já que ele não pode virar um rosto branco. Quando o rosto negro se tornar uma página em branco e o passado tiver sido lavado dele por completo, tal como foi lavado do nosso, nossa culpa será extinta – ou pelo menos deixará de ser visível, o que imaginamos ser quase a mesma coisa." (pp. 45-46) - trecho de Muitos milhares de mortos

Na segunda parte, os textos podem ser enquadrados na categoria de "ensaios pessoais" com um estilo memorialista que descreve a sua experiência e da sua família com o racismo. Em "O gueto do Harlem", uma descrição do cotidiano no bairro e as relações entre negros e judeus, Em "Viagem a Atlanta", uma reflexão sobre a política de segregação no sul do país, "Notas de um filho nativo" é definitivamente o texto mais forte e que deve ter sido o mais difícil para o autor, no qual ele lembra da sua difícil relação com o pai, David Baldwin, um pastor batista que se casou com sua mãe quando ele ainda era criança, vindo a ter ainda oito filhos deste casamento.

"No dia 29 de julho de 1943, meu pai morreu. No mesmo dia, algumas horas depois, sua última filha nasceu. Mais de um mês antes disso, quando todas as nossas energias estavam concentradas na espera desses acontecimentos, havia ocorrido em Detroit um dos conflitos raciais mais sangrentos do século. Horas depois da cerimônia fúnebre de meu pai, quando ele ainda estava na câmara-ardente, uma revolta racial irrompeu no Harlem. Na manhã do dia 3 de agosto, levamos meu pai para o cemitério, passando por ruas caóticas, cheias de cacos de vidro. [...] O dia do enterro do meu pai foi também o dia em que completei dezenove anos. Quando o levamos ao cemitério, estávamos cercados pelos detritos da injustiça, da anarquia, do descontentamento e do ódio." (p. 108) - trecho de Notas de um filho nativo

A última parte concentra as reflexões que descrevem a vida de expatriado na Europa, onde Baldwin se autoexilou por nove anos, de 1948 a 1957. Em "Encontro à margem do Sena: negros e pardos", uma análise da vida dos americanos em Paris, avaliação que se torna mais realista no ensaio "Uma questão de identidade": "o parisiense não manifesta o menor interesse pessoal, a menor curiosidade, a respeito da vida ou dos costumes de qualquer estrangeiro", para chegar até uma passagem verdadeiramente kafkiana de Baldwin em Paris, quando ele foi preso por ter sido acusado de receptador de lençóis roubados, descrito em Igualdade em Paris, terminando com "Um estranho na aldeia" no qual escreve sobre o tempo que passou em uma pequena cidade na Suíça.

Um texto tão importante quanto os ensaios e de uma beleza e sensibilidade compatíveis com qualquer obra literária é a Nota autobiográfica que tem um trecho em destaque abaixo.


"[...] Seja como for, sei que o momento mais crucial da minha formação foi aquele em que fui obrigado a admitir que eu era uma espécie de bastardo do Ocidente; quando traçava a linha do meu passado, eu não ia parar na Europa, e sim na África. E isso queria dizer que, de alguma maneira sutil, de alguma maneira muito profunda, eu era obrigado a encarar Shakespeare, Bach, Rembrandt, as pedras de Paris, a catedral de Chartres e o Empire State Building com uma atitude especial. Essas criações não eram realmente minhas, não abrigavam minha história; seria inútil procurar nelas algum reflexo de mim. Eu era um intruso; aquele legado não era meu. Por outro lado, eu não dispunha de outro legado de que pudesse me valer – sem dúvida, não estava capacitado para sobreviver na selva, numa tribo. Eu teria que me apropriar dessa história branca secular, teria que torná-la minha – aceitar minha atitude especial, meu lugar especial nesse esquema –, senão não teria lugar em esquema algum. O mais difícil foi ter que admitir algo que sempre escondi de mim mesmo, algo que o negro americano sempre tem de esconder de si mesmo para poder obter algum progresso público: que eu odiava e temia as pessoas brancas. Isso não significava que eu amava os negros; pelo contrário, sentia desprezo por eles, talvez por não terem conseguido produzir Rembrandt. De fato, eu odiava e temia o mundo. E isso significava que eu não apenas dava ao mundo um poder assassino sobre mim, mas também que, nesse limbo de autodestruição, eu nunca poderia me tornar escritor. [...]" - (p. 28) - trecho de Nota autobiográfica

Complementam o livro uma introdução de Edward P. Jones, um ensaio de Teju Cole que não deixa nada a dever aos ensaios do próprio Baldwin, assim como dois posfácios, um de Paulo Roberto Pires e outro de Márcio Macedo, que ajudam muito o leitor brasileiro a se situar no contexto da obra e da biografia de James Baldwin, um dos autores mais importantes da literatura do século XX.
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Livia Lucas 27/12/2020

James Baldwin é um tanto irreverente em "Notas de um filho nativo", e isso fica óbvio por conta da sua escrita com palavras coléricas, carregadas de um pessimismo insolente (que me identifiquei) em relação a posição do negro estadunidense em seu próprio país, que o enxerga como "intruso" e o expurga de sua história. Involuntariamente, minha mente se volta para o Brasil e começo a fazer associações ? que nem sempre são lógicas sob o olhar do outro ? sobre a população negra brasileira e sua posição neste país que, também, vê o negro como algo externo a substância que o integra. Portanto, digo, sem nenhuma dúvida, que este país nos odeia, e nos trata como alienígenas, dizendo constantemente que não deveríamos estar aqui, que não somos daqui, e tentam nos embranquecer e nos matar para que não reste nenhum resquício de nossa existência neste solo manchado com nosso próprio sangue e suor. Mas resistimos.

"Notas de um filho" traduz esse sentimento de ser o estranho, o Outro. Num compilado de dez ensaios, James Baldwin fala sobre arte de modo geral; perpassa por sua infância e adolescência no Harlem; assim como a experiência enquanto um homem negro americano em Paris. Aqui, neste livro, tive oportunidade de conhecer o autor e observar sua perspicácia invejável. Antes, o conhecia apenas pelos seus romances, mas nesses ensaios James Baldwin se mostrou extremamente talentoso. Um escritor nato. E que com certeza é uma grande inspiração para mim, sendo o meu escritor favorito.
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Davi.Dallariva 21/02/2021

Essa foi só a segunda vez que li James Baldwin, mas ele já se tornou um dos meus autores favoritos. Eu adoro a forma como ele escreve.

Notas de Um Filho Nativo reúne dez ensaios essenciais para entender a identidade do negro estadunidense.
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Rafael 27/02/2022

Um mundo que não é mais branco
Ao invés dos romances que tornaram James Baldwin famoso, foi através dos ensaios reunidos em "Notas de um filho nativo" (1955), primeira obra não-ficcional do autor, que passei a conhecê-lo.

Incentivado pelo amigo Sol Stein, Baldwin passou a escrever este livro, apesar de à época se considerar jovem demais (31 anos) para publicar suas memórias. Enquanto negro e homossexual, o novaiorquino oriundo do Harlem, com períodos de autoexílio na França (Paris) e na Suiça (Leukerbad), já tinha muito a nos contar, porém.

Na nota autobiográfica contida na obra, é possível observar a grande preocupação de Baldwin sobre como a questão racial é abordada no meio literário. Sobre o negro, "Não é só por se escrever tanto sobre ele; é porque o que se escreve é muito ruim" (p. 32). Nesse patamar foram colocados romances de protesto muito populares, como "A cabana do Pai Tomás" (1852), criticado por seu terror teológico e pelas fantasias sentimentais, sem qualquer ligação com a realidade.

Embora estadunidense, Baldwin acreditava que era um bastardo, um intruso no Ocidente. Sentia que a linha de seu passado o levava até a África, de modo que Shakespeare, Bach, as pedras de Paris ou o Empire State Building não abrigavam sua história ou compunham seu legado.

Em parte, esse estado alienante de não-pertencimento ou estranhamento aponta não só para uma história de injustiças e de supremacia branca, mas também para marcos de resistência e de lutas identitárias do povo negro.

"Este mundo não é mais branco, e nunca mais voltará a ser.? (p. 199)
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Livros e Pão 05/05/2023

Forte, melancólico e único
Este livro é simplesmente sensacional. Baldwin é um ensaísta genial e escreve de modo claro, profundo e singelamente íntimo. A impressão que fica é a de que o livro vai simultaneamente ganhando força e mostrando o seu lado mais pessoal (o que normalmente é considerado negativo em ensaios) conforme vai progredindo.
Capítulos de maior destaque positivo para mim foram "Viagem a Atlanta", "Notas de um filho nativo" (impossível não destacá-lo) e "Um estranho na aldeia". Recomendo!
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fev 27/06/2023

A minha percepção do texto de James Baldwin é de uma construção extremamente coesa. Não faltam e nem sobram palavras. Ele consegue captar e transmitir o que deseja na junção de cada pedaço de palavras e frases que formam os ensaios dessa coletânea. Mas não só aqui. Essa mesma percepção está nos outros dois romances do autor que já li. Esse texto redondinho pode agradar e conquistar, e quando não o faz, traz questões para refletirmos e questionarmos os apontamentos de Baldwin.

Notas de um filho nativo é uma coletânea que reflete o que James Balwin era. Ele discute sobre racismo, religião, produção artística negra, família, cultura entre outros assuntos. Os meus ensaios preferidos são aqueles com teor mais pessoais e os que ele reflete sobre a sua vivência na França. São textos incríveis. O meu único problema com essa coleção é que James Balwin era norte-americano demais. Ninguém é perfeito.

No mais, esses ensaios mostraram porque fiz de Baldwin uma das minhas referências. Há aqui muito do que preciso para refletir sobre mim e a sociedade. Um grande livro. Recomendadíssimo.
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leobalarin 21/08/2023

Um livro forte e bastante necessário.
James Baldwin é um autor brilhante e nesse livro ele consegue nos deixar imersos em seu mundo e em todas as histórias que ele nos conta.
Os desafios de ser um homem negro, pobre e gay nos Estados Unidos, sua vivência com o racismo, sua história na França, o episódio da morte de seu pai, são algumas das memórias relatadas por ele.
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none 05/12/2020

Literatura negra importa
Demorou para James Baldwin ser devidamente publicado e reconhecido no Brasil. Suas obras mais importantes foram traduzidos anteriormente por editoras menores e clubes de leitura, mas não da forma que deviam de modo a alcançar leitores que se identificassem com esse autor.
A introdução de Edward P. Jones nos mostra que o autor esteve perto de pessoas que participaram dos grandes eventos históricos, a saber Martin Luther King e Malcolm X, mas desde jovem no Harlem viu a realidade violenta contra os negros indireta e diretamente. Seus ensaios tratam da literatura, da história do seu tempo, das viagens, mas sempre sob a perspectiva do americano e do negro e sua cultura, costumes e religião frente à cultura, costumes e religião de judeus, europeus, americanos e brancos.
Todos precisam ler!
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Luis Felipe S. Correa 05/04/2021

Um convite à reflexão
Notas de um filho nativo é um livro que tem a finalidade de enriquecer os debates sobre raça. É simplesmente brilhante. Incrível o fato de livro, apesar de publicado em 1955, permanecer tão atual. A obra permite a compreensão de diversos fenômenos raciais presentes no cinema, literatura e demais segmentos da sociedade. Tem uma pegada extremamente profunda. É um verdadeiro convite à reflexão.
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Bruno Marcolino 16/05/2022

Notas de um Filho Nativo
Mais um do Baldwin lido e continua encantando pela forma de escrita, aqui, mais incisiva. Gostei muito dos textos de apoio, ajudam muito na questão biográfica do autor e da importância de suas obras. Adorei a leitura.
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Patricia 29/04/2023

Ensaios sobre o impacto de viver sob o signo raça nos Estados Unidos, na Europa e diria que se encaixa a realidade brasileira de certa forma.
Os textos complementares são muito bons.
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Edu 29/12/2020

Pensamento crítico
Baldwin é uma das vozes negras americanas mais importantes. É Interessante ter a visão de mundo dele tão madura nesses ensaios que se complementam. Podemos perceber sua angústia, sua ansiedade, seu desgosto, a raiva, a resiliência e aceitação. Ele estava cansado, mas sua voz ecoa reflexões sobre o racismo até hoje e com certeza continuará no futuro
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Camila 10/05/2023

Meu primeiro contato com a escrita de James Baldwin, já conhecia sua obra de documentários e que escritor incrível. Suas reflexões são potentes e reverberam dentro da gente, ainda mais por ser alguém indisculpavelmente imperfeito. Ele não se propõe a ser o pensador negro idealizado que tem todas as respostas e nunca falha, muito pelo contrário. Um livro que com certeza revisitarei
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