Mauricio (Vespeiro) 07/05/2018Preferia ter ido ver o filme do Pelé... jogando a Copa pela Argentina. Duvido quem não tenha ficado curioso com a premissa. Tão curioso quanto desconfiado, vi minhas suspeitas serem confirmadas já no meio da leitura. Mark Millar criou um “samba do super-herói doido” e estragou uma ideia. Na verdade, uma ideia de jerico, mas que se fosse executada de forma menos pretensiosa, poderia até ficar interessante. A forçada engenhosidade para contemplar tantas inversões e ainda contextualizá-las na Guerra Fria excedeu minha tolerância.
“Superman - Entre a Foice e o Martelo” apresenta uma história confusa, mal desenvolvida e (sem spoilers) finalizada com um NHÉ gigantesco. O roteiro é tão artificial que os diálogos (a pior parte da graphic novel) precisam do limitadíssimo recurso da narração em off para situar o leitor e explicar (o tempo todo) o que o Superman tem em mente, quais seus planos, o que achou de determinada coisa... enfim, uma muleta que, quando em excesso, acaba virando um freio de mão no ritmo da narrativa. Nessa HQ, gerou diálogos lentos, empolados, artificiais, chatos, cheios de explicações desnecessárias. Millar foi, de uma só vez, no sentido contrário de inúmeras recomendações de Stephen King, especialmente aquela em que o mestre ensina: “Mostre, não diga!”.
Há também uma avalanche de personagens do universo do Superman que o autor entendeu que precisariam aparecer. Pra mim, há um enorme exagero, pois a trama já traz elementos demais para se concentrar. Um Superman invertido que acaba tendo uma crise existencial entre comunismo e capitalismo já seria mais que suficiente. Parando por aí, pouparia o leitor dos demais devaneios, como o neo-feminismo tosco da Mulher Maravilha, além de figuras políticas dos dois lados sendo “plantadas” de forma inadvertida. O final - juro que não tem spoiler! - mistura “O Segredo da Cabana” com “Feitiço do Tempo” (aquele filme do Dia da Marmota). Que viagem, maluco!
A história naufraga de vez quando convida a uma reflexão sem antes contrapor de forma suficientemente inteligente os dois lados. Mas nem tudo são espinhos. O símbolo do Superman adaptado para o comunismo ficou muito bom. Um belíssimo e ousado trabalho de redesign. O traço e as cores aplicadas na HQ pela dupla Johnson e Plunkitt, ainda que não empolguem, são resultado de um projeto competente.
Nota do livro: 6,16 (3 estrelas).