Djeison.Hoerlle 02/05/2021
Vamos falar do filho vermelho?
Ok, esta é sem dúvida uma das histórias com uma das premissas mais interessantes que já me deparei. Interesse esse que se sustenta por diversos motivos, seja o apreço cada vez mais ostensivo por heróis, o gosto por referências históricas, o nome de peso do autor ou mesmo as disputas políticas que vem a cada dia mais mistificando e condensando todos os conceitos inerentes à política em uma dicotomiazinha digna de uma partida de futebol.
Dito isto, é natural que criemos altas expectativas para a obra, o que todo fã de cultura popular sabe bem, costuma não resultar em boa coisa. Mas esse seguramente não é o caso Red Son.
A narrativa de Mark Millar navega de forma engenhosa e coerente pela história, sejam os feitos reais ou os mitológicos do universo do Superman, sem nunca se perder nas panfletagens e discursos batidos que autores menos resolutos (ou até consagrados, vide Frank Miller) fariam. Até porque independente do seu posicionamento, vamos combinar que criticar o comunismo em 2021 invariavelmente soa saudosista e brega.
Inclusive, brega é uma coisa que esse Superman acertadamente não é. Trata-se de um personagem muito bem escrito e que transparece com sinceridade a empatia e a esperança que o herói representa, mesmo tendo sua guinada para o absolutismo no final, o que convenhamos, é até que bem esperado em uma história americana sobre socialismo. Ele dialoga com seu povo não somente por seus salvamentos bregas, mas literalmente por meio de uma imagem de símbolo. Chega até a ser um pouco irônico de perceber que um Kal-El marxista consegue sintetizar muito mais a essência do homem de aço do que a versão que temos visto no cinema há quase uma década. Mas isso é outra história.
As versões dos demais personagens são também muito interessantes e pouco óbvias, e fazem jus ao restante da história. Especialmente o Lex Luthor, que é praticamente o protagonista ao lado de Kal-El.
Feitas estas considerações, vale por fim pontuar que esse é seguramente um dos finais mais interessantes que já me deparei em um quadrinho de heróis. O que parecia um epílogo deveras extenso, culminou naquele tipo de encerramento que reafirma toda a história contada, enchendo-a ainda mais de propósito e significado. Vale a leitura de qualquer fã de quadrinhos.