Resenhas - A Doutrina Cristã

Douglas Colácio 15/04/2021

Para os corajosos, Agostinho é uma excelente opção
Não precisamos dizer muito a respeito de Agostinho. De modo especial essa obra intitulada "A doutrina cristã", que é basicamente um manual de exegese bíblica, consegue ir além do que se propõe. Para os tempos de hoje talvez soe um tanto anacrônico, por isso a necessidade de uma compreensão histórica para o leitor.

Contudo gostei muito dos passos dados pelo doutor. A princípio, no livro um, vemos uma análise geral da doutrina católico, pois afinal, quando lemos a Bíblia, a devemos ler segundo os olhos da nossa fé, daí a necessidade de uma síntese dogmática, moral e princípios básicos.

Depois, no segundo livro, recordando um pouco o que é lido no livro do De Magistro (do Mestre), o doutor nos leva a uma análise dos sinais e dos signos que nos ajudam na interpretação dos textos sagrados e como as ciências de modo geral nos ajudam a compreensão interpretativa.

No terceiro livro ele destaca as dificuldades com as quais nos deparamos na leitura da bíblia, como ambiguidade e passagens obscuras. Destaco o que ele nos diz sobre os momentos em que devemos aplicar uma análise literal ou alegórico: todas as vezes que um texto não puder ser entendido literalmente (exemplo a arca de Noé, ou a torre de Babel) devemos nos valer do sentido figurado; nem sempre devemos interpretar certas passagens ao pé da letra.

O último livro é uma espécie de manual de oratória para pregadores sacros. Sobre o uso da sabedoria e da eloquência, na impossibilidade de ser eloquente, que o pregador seja sábio. Destaca os três objetivos do orador: instruir, agradar e convencer; para isso devemos aplicar os estilos de escrita: simples, temperado e sublime. Em cada um dos objetivos devemos saber empregar os três estilos.

Djalma 22/06/2018

A doutrina cristã
Em uma palestra cujo título foi “Hamlet nos dias atuais”, o palestrante, um conhecido professor de história da UNICAMP afirmou que já havia lido a obra 32 vezes e em cada leitura ainda era surpreendido por uma nova revelação antes não observada. Quanto aos fatos narrados na Bíblia e o poder transformador exercido pela doutrina cristã e narrados nos evangelhos sobre naqueles que procuram agir de acordo com os exemplos de Cristo, o professor se descreve como um descrente.
Acredito estarmos diante de um típico exemplo de alguém que se tornou arrogante devido ao conhecimento e inchado pela ciência.
A Bíblia não é um livro apenas para se ler, mas também para ser vivido. E “quanto maior for o nosso entendimento, mais ela nos tem a revelar”, conforme afirma Agostinho. Reconhecer essa qualidade da Sagrada Escritura e aceitar o seu conteúdo como verdade, seria entender o quão pequenos somos diante grande e sabedoria de Deus.
Na obra “A doutrina cristã, Santos Agostinho”, com o objetivo ressaltar a importância e incentivar a leitura da Palavra de Deus, o autor afirma que “as obscuridades existentes nos Livros santos são uma providência divina para vencer o orgulho do homem e premunir seu espírito do fastio, que sobrevém sobre àqueles que encontram facilidade no labor”. Por outro lado, também é afirmado que quaisquer leitores, por mais desprovido de conhecimentos teológicos que seja, consegue entender a mensagem sobre o amor, a glória e plano de Deus.
As informações aqui encontradas também se encontram espalhadas pelo livro e têm por objetivo único inspirar nos leitores o desejo de ler a obra na íntegra.
A doutrina cristã, Santo Agostinho, é dividida em quatro livros:

• LIVRO 01: Sobre as verdades a serem descobertas nas Escrituras. Com 40 capítulos que dispõe sobre o conhecimento das coisas e dos sinais. De acordo com o autor, podemos classificar as coisas existentes há aquelas que são para ser fruídas, isto é, gozar ou deleitar-se delas; e as que são para serem utilizadas. Das coisas para serem fruídas estão o amor de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santos. Todas as demais coisas, inclusive a mais excelente delas, o homem, devem ser utilizados para chegar até Deus.

• LIVRO 02: Sobre os sinais a serem interpretados nas Escrituras. Com 42 capítulos trata sobre os sinais encontrados na Bíblia cujo conhecimento torna-se necessário para podermos esclarecer o sentido dos livros inspirados.

• LIVRO 03: Sobre as dificuldades a serem dissipadas nas Escrituras. Contém 37 capítulos cujos objetivos é nos ensinar a compreender as ambiguidades da Escritura destacando as características observadas nos textos a serem interpretados em seu sentido literário e os de sentido figurado sendo necessário ao leitor examinar o contexto em que o texto foi escrito comparando traduções ou recorrendo ao original.
Os capítulos de 30 a 37, Agostinho comenta sobre as “7 regras para ensinar a descobrir as passagens obscuras da Bíblia” que foram redigidas pelo seu contemporâneo e exegeta, Ticônio. Agostinho faz uma crítica sobre essa contribuição, mas ressalta que seja adotada cautela.

• LIVRO 04: Sobre a maneira de ensinar a doutrina. Em 32 capítulos o autor afirma que “Há duas coisas igualmente importantes na exposição das Escrituras: a maneira de descobrir o que é para ser entendido e a maneira de expor com propriedade o que foi entendido”. Este livro já no início desperta a curiosidade daqueles que se dedicam à bela arte de ensinar com responsabilidade a Palavra de Deus. Fala sobre a importância da eloquência e da oratória apontando em passagens Bíblicas exemplos que foram adotados pelos hagiógrafos. Agostinho ainda procura nos advertir que melhor é um discurso simples, porém rico em sabedoria, do que um discurso repleto de beleza, porém inútil para o crescimento.
Em outras palavras, a arte de ensinar a Palavra de Deus pode e deve fazer uso de todos os recursos disponíveis para que seja entendido, apreciado e obedecido, contanto que seu discurso seja direcionado para a aprendizagem da justiça, da santidade e da virtude de Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo.

Hoje, finalizo a primeira leitura deste magnífico trabalho que, conforme consta em sua introdução, levou 30 anos para ser completado. Porém, já estou me programando para uma revisão que julgo indispensável para melhor entendimento.
Por hora, espero ter despertado a curiosidade ou desejo daqueles que querem aprender sobre os conteúdos da Bíblia e a doutrina Cristã.
Por fim, caso você nunca teve contato com o autor e para melhor compreensão quanto ao seu estilo e autoridade no assunto, gostaria de sugerir a leitura do livro: “10 lições sobre Santo Agostinho” antes de se entregar a esse abençoado trabalho.

Rangel 08/07/2015

ENSINAMENTO AGOSTINIANO CRISTÃO
O livro “A Doutrina Cristã” de Santo Agostinho é um manual de exegese e formação cristã, dividido em um prólogo e quatro livros pequenos. No prólogo, há a refutação de objeções de supostos exegetas, que são refratários às regras. No livro I, faz-se a introdução de ordem dogmática e moral para servir de base a todo o conhecimento cristão de ordem técnica, no sentido de entender os sinais e as coisas, de que o homem é movido pelo desejo de fruir e gozar ou deleitar-se sobre elas. As realidades descobertas pelo homem tem como entendimento primeiro, a coisa suprema, que é Deus Trindade, por ele fruir por ele mesmo, por ser inefável, vida, sabedoria, imutável, eterno e centro de amor de toda criatura racional. O homem para chegar a Deus tem de purificar o espírito e necessitar de um caminho, que é Jesus Cristo, o que revela a sua encarnação e ressurreição, como deixa a Igreja e as promessas de que existe céu, inferno e anjos. A fé, a esperança e a caridade são as verdades morais cristãs, que têm seus princípios de reconhecimento do lugar do amor primordial de Deus e aos irmãos. Assim, a plenitude da lei e das Escrituras é o amor da coisa, no sentido de se ter o que gozar de outra coisa, no caso, o amor a todos os seres, principalmente, o próximo semelhante, como chave do anseio e repouso do coração humano, como reino de amor. No livro II, enfoca-se o Livro Sagrado como digno de ocupar o espírito do cristão verdadeiro, pois contém tudo de que necessita para atingir seu fim, uma vez de que tem um conjunto de sinais escritos, ou seja, as palavras ditas por pessoas inspiradas e imbuídas por Deus. Daí, a necessidade de conhecer as línguas e signos do sentido dos livros inspirados, a fim de que o conhecimento das Escrituras tenha sentido e disposições necessárias para serem compreendidas as virtudes como dons do Espírito Santo. A formação cultura do cristão discípulo é seguir as lições da gramática para se capacitar a ler o texto bíblico, estudar as alegorias e figuras do pensamento, a fim de saber interpretar corretamente palavras e expressões da Bíblia. É necessário conhecer o grego, como também, o hebraico e até o aramaico. O cristão deve conhecer as ciências da história, geografia, história natural, astronomia, artes, dialética, matemática, música, retórica e distinguir da astrologia, magia, superstições e horóscopos. A ideia de Deus é a fonte de toda a luz da verdade, que tudo unifica e se torna o centro do cristão. Sempre em busca da verdade, é possível incorporar o acervo de autores pagãos, mas mostrando diferença dos livros santos e profanos. No livro III, as regras de interpretação são ensinadas para resolver as ambiguidades das Escrituras, inicialmente, pelo sentido próprio, depois da complexidade para maior aplicação dos textos em sentido figurado, com recurso da crítica textual, e examinar o contexto das traduções, ou seja, recorrer ao original, a fim de o sentido figurado seja entendido como sentido próprio real. Os princípios da interpretação sempre devem apresentar normas para a escolha de significações com sentido exato ou mais provável, a fim de examinar a exegese do sentido real, com crítica criteriosa de valiosa contribuição e com cautela, e sempre com necessidade da oração para o entendimento das Escrituras. No livro IV, trata-se da oratória das Sagras Escrituras, com uma devida exposição de processos de expressão, com devida sabedoria e eloquência, a fim de ensinar e convencer, conforme os estilos: simples, moderado e sublime. Os exemplos das Escrituras auxiliam bastante, principalmente, das cartas paulinas e livros proféticos, a fim de complementar com os ensinamentos dos doutores da Igreja. O verdadeiro Mestre das Escrituras encontra-se no interior da sua pregação com seu exemplo de vida pelo êxito de ser feliz como cristão. Para um estudioso da bíblia, como também para exegetas e teólogos, o livro é muito bom, porque aponta as instruções e ensinamentos agostinianos de interpretação e uso da oratória para evangelizar de modo convincente.

Ruan Ricardo Bernardo Teodoro 27/04/2023

A obra "A Doutrina Cristã" de Sto. Agostinho foi um dos primeiros manuais de exegêse e oratória da Igreja dos primeiros séculos. O escrito é dividido em quatro livros nos quais se discorre sobre as coisas em que se deve crer (livro I), as técnicas para se interpretar as Sagradas Escrituras (livros II e III) e os métodos a se adotar para pregar a Palavra (Livro IV).

De maneira sintética, Agostinho expõe em seu livro I que entre as coisas (o que existe), há aquelas que são para serem fruídas, outras que são para serem utilizadas e outras para serem fruídas e utilizadas. Nesse sentido, "fruir é aderir a alguma coisa por amor a ela própria" (livro I, 4, 4), e utilizar é apropriar-se de algo para alcançar outra coisa.

Nesta esteira, o teólogo nos conta que deve haver uma ordem para fruir e utilizar, o que significa dizer que devemos amar por eles mesmos os bens imutáveis e utilizar-nos dos bens terrenos para alcançar os primeiros. Com eloquência, ele define: a caridade "é a fruição de Deus por ele próprio, e a fruição de si próprio, e do próximo por amor de Deus" (Livro III, 10, 16).

Entre os outros assuntos tratados podemos encontrar: os graus da ascensão espiritual; o modo de se interpretar alegoricamente as Escrituras; o proveito que os cristãos podem tirar daquilo que é verdadeiro nos conhecimentos pagãos; os objetivos que o orador sacro deve diligenciar para expor a Verdade, e mais.