Ícaro 08/05/2014
"Tudo o que era sólido se desmancha no ar..."
OBS: não é exatamente uma resenha.
Bom, quando li o meu primeiro livro do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno, tive quase uma explosão mental, que foi muito instigante, diga-se de passagem. Depois do terceiro capítulo, o livro foi praticamente devorado, além disso, eu não conseguia deixar de observar coisas do meu cotidiano sem lembrar de alguma coisa que Bauman tinha escrito em tal obra. Para mim, o mundo atual parecia mais nítido, parecia mais tangível, parecia mais claro do que jamais foi.
Eu não conheço ninguém que tenha lido nenhum livro do Zygmunt, logo, não tinha alguém para conversar sobre o que eu estava lendo; mas, mesmo sabendo que poucas pessoas gostariam de trocar ideias sobre os temas abordados por Bauman, eu fiquei satisfeito em está tendo a oportunidade de ler suas observações sobre o mundo que vivemos; observações que eu não poderia ter feito por conta própria, graças à minha pouca idade, experiência e conhecimento. Posso dizer que o primeiro livro que li de Bauman foi um despertar de um sono profundo.
Depois da minha primeira experiência nas obras sociológicas de Bauman, acho que me comportei como um viciado, pois mal podia esperar para ler outro livro do mesmo autor. O livro que eu estava desejando ler, era: "Amor Líquido - Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos" (o link da minha resenha está no fim do texto). Sinceramente, ler esse livro foi quase um "soco no estômago".
Bom, se o "soco no estomago" foi a leitura de "Amor Líquido", o "nockout" definitivo foi a leitura de "Modernidade Líquida". A mensagem que ficou incrustrada na minha cabeça, depois da leitura, foi:
Nós precisamos de uma ética para o inverno. Não adianta pensar que a vida é uma caminhada na estação da primavera, porque as flores são todas de plástico. Nós estamos no inverno e caminhamos sobre uma fina patina de gelo (metáfora do filósofo Ralph Waldo Emerson, muito usada por Bauman), que não nos dá tempo para pensar em qual caminho devemos tomar, pois, se pararmos para pensar, tal patina de gelo racha e nós nos afogamos no lago gelado. Entretanto, nessa caminhada pelo inverno e pela patina de gelo, podemos tomar qualquer caminho que quisermos, pois qualquer caminho nos levará para qualquer lugar. Todavia, nenhum dos lugares que chegarmos é melhor ou pior do que qualquer outro lugar que poderiamos está.
Eis, portanto, o mundo da pós-modernidade, o mundo subjetivo atual, o mundo líquido, o mundo de plasma, o mundo de espuma, o mundo contemporâneo que caminha em direção à atomização do conhecimento, onde a única lei que é válida para todas as pessoas de todas as idades é a lei do mercado, que é a mais líquida e instável de todas as leis, e que, além disso, forma este ser humano de isopor, este ser humano sintético, padronizado e fútil, que está totalmente esgarçado nesta modernidade líquida que vivenciamos. Portanto, segundo Bauman, eis o mundo que vivemos, mais fácil de ser vivido, mas, em vários aspectos, mais plano e artificial do que jamais foi.
Por fim, acredito que seja certo dizer que a célebre frase de Marx: "Tudo o que era sólido se desmancha no ar...", cai como uma luva, para uma realidade em que ninguém tem mais certeza de nada e que todas as coisas perderam seu sentido objetivo. Mas, para não terminar de modo dramático e pessimista, acho que tomar a consciência que tomei – que não é lá grande coisa –, é o primeiro passo para mudar o seu cotidiano e dar sentido à vida, apartir do momento que se vive em uma realidade vazia, como a realidade contemporânea. Portanto, até o momento que o Cogumelo Atômico aparecer nas jenelas das nossas casas, vamos manter as coisas limpas, bem arrumadas e organizadas.
Boa Leitura! ;D
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