Aline T.K.M. | @aline_tkm 12/06/2017Amores, amizades e temas essenciais, como machismo e violência contra a mulherUm pintor em busca de tranquilidade, uma jovem em uma relação abusiva, três amigas inseparáveis em busca de algo diferente para suas vidas, um cara machista e violento, um amigo que esconde um amor platônico.
Essas pessoas se cruzam na cidadezinha sueca de Ludvika no começo do outono. Durante três dias, suas vidas se tocam e se transformam de tal maneira que nunca mais voltarão a ser as mesmas.
Três Dias em Setembro, lançamento da escritora sueca Luna Miller, promete agradar aos fãs de literatura new adult. O livro brinca com o acaso e as possibilidades ao abordar a solidão, os relacionamentos, a amizade e a busca por aquela centelha que nos faz sentir que a vida vale a pena.
O pintor Gabriel chega a Ludvika para passar uns dias em uma cabana alugada. Com o iPhone desligado e completamente off-line, ele espera conseguir trabalhar num conjunto de quadros que tem em mente já há um tempo.
Ele logo conhece Lea, garçonete e namorada de Johan, o dono de uma pizzaria local. A garota tem passado por maus bocados por conta da rudeza, das mentiras e problemas no relacionamento. Johan tem um comportamento machista, egocêntrico e desrespeitoso.
Já Niklas, amigo de Johan e também funcionário da pizzaria, não suporta ver como essa relação fere Lea.
Em paralelo, acompanhamos um recorte da vida de Anna. Jovem e bonita, ela chama atenção por onde passa. Consciente de sua beleza, a garota também tem um lado muito ingênuo e carente, e acaba permitindo que qualquer cara se aproveite dela na esperança de que seja o amor que ela tanto espera. Para piorar, se embebeda com frequência e perde o controle do que faz.
A ingenuidade de Anna encontra seu limite com Johan, que se aproveita e a submete a uma situação da qual ela terá dificuldades em se livrar.
A sorte é que Anna conta com a amizade incondicional de Mari e Kessa. Mari está num relacionamento estável; Kessa é superindependente, não liga para julgamentos e comentários maldosos – tão comuns em uma cidade pequena como Ludvika – e não é vítima das imposições que ainda atingem muitas mulheres.
Kessa sempre está lá para amparar Anna e a coloca acima até de si mesma. Mas a verdade é que Kessa não encontra seu verdadeiro lugar em Ludvika, não se sente pertencente àquele lugar.
A trama coloca a questão da responsabilidade pelas próprias escolhas. Sem julgamentos nem excesso de vitimização, Luna Miller também insere um tema muito atual: o machismo e a violência contra a mulher. Aliás, seria mais correto dizer que as mulheres exercem papel central em todo o livro; a confiança e a coragem para correr atrás de mudanças acabam sendo cruciais para traçar o destino delas aqui.
Ainda que a versão lançada por aqui seja a traduzida para o português de Portugal, a leitura acontece de forma muito fluida. É aquele livro que se lê em poucas sentadas, mas cuja história te acompanha ainda por uns bons momentos após virada a última página.
Ao trazer mulheres tão diferentes lidando com conflitos e dilemas amorosos, Três Dias em Setembro revela que o caminho para a felicidade nem sempre é o mais óbvio. Ele pode estar logo ao lado ou a milhares de quilômetros de distância. Pode ser percorrido em poucos passos, de bicicleta ou de carona. Mas, para encontrá-lo, mesmo as menores mudanças são necessárias. E, acima de tudo, é preciso olhar de verdade para dentro de si.
LEIA PORQUE
Os personagens são muito humanos e cheios de nuances. O livro aborda temas universais, como a amizade, o amor e as escolhas individuais, além da questão do machismo e da violência contra a mulher. Recomendo para maiores de dezoito anos por ter conteúdo explícito.
DA EXPERIÊNCIA
Gostoso de ler, Três Dias em Setembro me fez torcer e me afeiçoar às personagens, e, inevitavelmente, também sofrer com elas.
FEZ PENSAR
Adoro livros sobre mulheres que encontram sua força ao longo da história.
site:
http://www.livrolab.com.br