Luciano Otaciano 26/02/2021
Um clichê bastante agradável!
Para quem me acompanha aqui no blog sabe que romance não é o gênero por mim preferido, no entanto eu leio romance, muito embora com pouca frequência. Este aqui foi uma leitura agradabilíssima para mim, embora haja ressalvas. Quer saber os motivos? Confira a seguir! Uma Janela para o Céu me enganou direitinho. A capa e sinopse me venderam um livro romântico, divertido e leve – exatamente o que os chick-lits têm de melhor. Entretanto, apesar de ter tudo isso a trama surpreende por ir além, por focar na história de uma mulher madura, insegura em alguns momentos, e ansiosa por encontrar o amor. É de se agradar histórias românticas que abordam temas importantes como perdão, recomeço e amor verdadeiro (não do tipo idealizado, mas aquele que é construído aos poucos, no dia a dia). E a história da Marina tem tudo isso e muito mais.
Julyana acabou de flagrar o namorado em uma cena comprometedora com uma garota bem mais nova. E, como se não fosse suficiente, ela também descobriu que a mãe mentiu a respeito de coisas importantes do seu passado – uma delas, por exemplo, é a identidade do seu pai, aquele com quem ela sempre sonhou conviver mas nunca teve a oportunidade de conhecer. Em um rompante de dor e mágoas, Julyana (que não é mais tão novinha e sente o peso dos seus 35 anos) resolve tirar um período de férias para voltar para o interior de Minas, região em que sua mãe vive, e confrontar de uma vez por todas o passado. O problema é que ao chegar lá a jovem descobrirá novas mentiras e acabará ainda mais magoada com a mãe, insegura com tudo o que deixou de viver e aproveitar por causa dos segredos de sua família, e ansiosa para superar o passado. E é nessa ânsia por um novo futuro que ela reencontrará um namorado de juventude, alguém que ela sempre amou e amará. – Ou seja, puro clima de mentiras, perdão e reencontros, não é mesmo? Partindo dessa premissa Marina cria uma obra envolvente e bem elaborada, embora inegavelmente clichê.
Podemos dizer que Julyana está em crise. Ela está cansada de viver relacionamentos falsos, que duram menos de dois meses, e de sentir que nunca será amada verdadeiramente. Além disso, nossa protagonista quer paixão, companheirismo, amizade e, quem sabe, a oportunidade de criar uma família. Mas parece que Julyana sempre escolhe os caras errados ou que, depois dos trinta, não é mais vista como uma mulher desejada. Como disse, ela está em crise. E achei interessante como a autora aborda isso, mostrando as dificuldades que toda mulher encontra nessa fase: sonhos profissionais (é plausível que a obra aborda esse tema sem deixar que o romance ofusque quem a protagonista é), vontade de superar mágoas e erros antigos (aqui temos a abordagem da ligação da jovem com seus familiares, principalmente com a falta que ela sente da figura paterna), e uma necessidade de ser amada. Como disse no começo da resenha, achei que o livro focaria apenas no romance, mas foi uma surpresa agradável ver essa mulher – doidinha, briguenta, birrenta em alguns momentos (às vezes parecia que ela era bem mais nova do que sua idade cronológica apresenta) – descobrir que o amor verdadeiro está, antes de mais nada, no amor próprio. No final o que fica do livro é a jornada da protagonista: erros, vitórias, recomeços e o muito perdão. Sem dúvida o que mais me agradou na leitura foi à jornada de amadurecimento da nossa protagonista e suas conversas, engraçadas e descoladas, com suas melhores amigas. Elas possuem um grupo no Whatsapp e conversam sobre tudo e mais um pouco. Certamente isso dá identificação do leitor com as personagens. Entretanto, um dos pilares mais importantes da história, que é o romance, não me convenceu inteiramente. Logo de cara percebemos dois possíveis pares românticos para Julyana, seu namorado antigo e um lance proibido com um homem que ela acabou de conhecer. Um deles é real e encantador, o outro é seguro e ao mesmo tempo impossível. Entre escolhas e desejos, percebi que nossa protagonista perdeu tempo demais com o homem errado (que na realidade não é errado, porque sem ele Julyana não teria embarcado em uma jornada de amadurecimento). Queria ter visto a paixão nascer e explodir, o dia a dia e as conversas, e a construção de sonhos. Sinto que a protagonista teve tudo isso, mas não com o homem certo, é a impressão que dá. Outro ponto que me desagradou também foi a falta de romance propriamente dito. Contudo é um bom livro clichê, que fará leitores que curtem este tipo de obra se entreter satisfatoriamente.
No geral, temos um livro divertido, cheio de peripécias e planos mirabolantes, e que foca na jornada de amadurecimento da protagonista. Aqui lemos sobre crescimento, superação do passado e a busca pelo amor verdadeiro. Algo clichê é verdade, mas bastante corriqueiro.
Recomendo para aqueles que gostam de chick-lits que vão além do esperado e surpreendem por abordar temas mais reflexivos. Em resumo, Uma Janela para o Céu agradará em cheio os apreciadores do clichê literário. Espero que tenham curtido a resenha. Até a próxima!