Do mundo, suas delicadezas,

Do mundo, suas delicadezas, Erre Amaral




Resenhas - Do mundo, suas delicadezas,


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Penalux 27/10/2017

Delicadeza das borboletas
O mundo é lugar de dúvidas, de tristezas, de penúrias. Quando uma menina pobre e negra nasce, em terras miseráveis e perdidas, é imprescindível aprender a colher do redor, pequenas belezas, como a contemplação das borboletas. Esta arte de aprender a reinterpretar a vida, é digna da arte das delicadezas.
“Do mundo, suas delicadezas” é um romance escrito em formato de poesia, em cujas páginas cruas, a lírica de Erre Amaral traz o prazer da contemplação de pequenas belezas. Os primeiros versos que abrem o livro, “ Uma nuvem de paranapanãs”, possuem a didática de explicitar ao leitor, a grande moral da obra: aprender a olhar a crueza da vida, com olhos parcimoniosos que esperam a chega das borboletas e de suas belezas, “ Vêm, aos bandos, / Elas vêm, / Me circunvoam, / Pousam na estampa floral do meu vestidinho,/ maravilham os meus cabelos”.
A protagonista do romance tem cor preta, é pobre e não conhece o pai. Em um dos poemas introdutórios, o leitor logo conhecerá a história ancestral desta menina. A família está alojada em uma terra de misérias, na qual é comum a chegada da “azougada mariposa”, metáfora para a morte. Aos poucos o leitor vai conhecendo a história desta protagonista, por meio de grande carga de emotividade. Os recursos poéticos com o qual o autor emoldura seu romance traz a obra uma grande diversidade de sinestesia.
As emoções da protagonista, como sua posição frente ao abandono por parte do seu pai, são levadas ao leitor potencializadas pela sentimentalidade da poesia. O pai de “minha preta dos meus amores”, como a protagonista - é nomeada - embora ausente, projeta uma série de sentimentos de abandono e desemparo na sua filha - se tratando de assunto tão delicado, aliados a expressividade da poesia, despertarão indubitavelmente no leitor a sua compaixão.
Erre Amaral sabiamente enlaçou seu romance com a poesia, técnica que entrega à sua narrativa a potencialidade de contar com precisão, as injúrias inerentes a uma vida de pobrezas, mas que também com sutileza permitem aos mais desventurados encontrar um novo viés para lhes nortear na batalha da vida.
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tonho frança 26/10/2017

Delicadezas
O mundo é lugar de dúvidas, de tristezas, de penúrias. Quando uma menina pobre e negra nasce, em terras miseráveis e perdidas, é imprescindível aprender a colher do redor, pequenas belezas, como a contemplação das borboletas. Esta arte de aprender a reinterpretar a vida, é digna da arte das delicadezas.
“Do mundo, suas delicadezas” é um romance escrito em formato de poesia, em cujas páginas cruas, a lírica de Erre Amaral traz o prazer da contemplação de pequenas belezas. Os primeiros versos que abrem o livro, “ Uma nuvem de paranapanãs”, possuem a didática de explicitar ao leitor, a grande moral da obra: aprender a olhar a crueza da vida, com olhos parcimoniosos que esperam a chega das borboletas e de suas belezas, “ Vêm, aos bandos, / Elas vêm, / Me circunvoam, / Pousam na estampa floral do meu vestidinho,/ maravilham os meus cabelos”.
A protagonista do romance tem cor preta, é pobre e não conhece o pai. Em um dos poemas introdutórios, o leitor logo conhecerá a história ancestral desta menina. A família está alojada em uma terra de misérias, na qual é comum a chegada da “azougada mariposa”, metáfora para a morte. Aos poucos o leitor vai conhecendo a história desta protagonista, por meio de grande carga de emotividade. Os recursos poéticos com o qual o autor emoldura seu romance traz a obra uma grande diversidade de sinestesia.
As emoções da protagonista, como sua posição frente ao abandono por parte do seu pai, são levadas ao leitor potencializadas pela sentimentalidade da poesia. O pai de “minha preta dos meus amores”, como a protagonista - é nomeada - embora ausente, projeta uma série de sentimentos de abandono e desemparo na sua filha - se tratando de assunto tão delicado, aliados a expressividade da poesia, despertarão indubitavelmente no leitor a sua compaixão.
Erre Amaral sabiamente enlaçou seu romance com a poesia, técnica que entrega à sua narrativa a potencialidade de contar com precisão, as injúrias inerentes a uma vida de pobrezas, mas que também com sutileza permitem aos mais desventurados encontrar um novo viés para lhes nortear na batalha da vida.
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Krishnamurti 29/05/2017

Do mundo, suas delicadezas, gira-girando...
Do mundo, suas delicadezas, gira-girando...

“O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte”. Este pensamento atribuído a Charles Chaplin bem pode ser aplicado ao mais recente livro do escritor, poeta e ensaísta Erre Amaral. “Do mundo, suas delicadezas,“ é exatamente isto. O autor aposta em um romance em verso que firma-se em história poética, com a extensão de um romance. É utilizado um metro variado, e há uma variedade de personagens típica do romance, múltiplas vozes, diálogos, narração, descrição e ação, em estilo tipicamente romanesco.
Ambientado no sertão mineiro a ficção certamente é inspirada na história de Denise Marques da Silva “uma bela menina pretinha da Vila do Biribiri”, a quem o livro é dedicado “Em memória”. Mas é também importante acrescentar: A Vila do Biribiri de ruas de terra e belo casario, a 15 km de Diamantina, fica dentro do Parque Estadual do Biribiri, , na Serra do Espinhaço em Minas Gerias. Originalmente região de garimpo, é em fins do século 19 que se firma como Vila em função da fábrica de tecidos ali instalada, e que teria a família Mascarenhas como últimos proprietários por volta de 1930. Monta-se o cenário. A temporalidade intencionalmente incerta, se trai quando lemos na página 243 uma referência à determinado personagem que: “Era homem livre, / Antes sido escravo de um tal frei não-sei-das-quantas”. Portanto, embora não haja datação cronológica rigorosa tudo indica que o tempo em que se passa a trama deve situar-se aí por volta das primeiras décadas do século XX.
O romance se divide em duas partes como que delimitadoras da vida da personagem central. A Pretinha. No belo e cuidadoso projeto editorial levado a efeito pela Editora Penalux, para quem se der por bom observador, notará que na capa da obra há reproduzida uma pintura de Elisa Grossi, da série de pinturas “Mulheres operárias tecelãs de Biribiri” e na quarta capa uma foto-imagem de Eustáquio Neves de uma série denominada “Objetivação do corpo” onde se delineia a imagem de uma jovem mulher nua. É portanto excelente correspondência visual entre a história da vida menina/moça de Pretinha na vila do Biribiri, quando era um ser, ingênuo, puro, sem maldades e extremamente carinhosa, em contraposição ao que ela “quase se torna” na segunda parte da obra. Seus títulos respectivos: “a minha preta do meu amor” e a segunda: “gema rara de serendibite” (A pedra preciosa Serendibite se caracteriza por ter uma cor turquesa escura e é considerada no mercado valiosíssima).
Erre Amaral revela-se um poeta da pesquisa formal, da exatidão, da linguagem enxuta. Sem abrir mão do rigor imagético e da síntese expressiva alcança uma comunicabilidade maior, talvez em função do fato de se ter imposto escrever uma romance-poema. A abordagem do drama de Pretinha faz desfilar personagens como, dona Santinha (a mãe), Eliezer(o pai morto) , Carlito ( seu irmão morto em tenra idade), Reinaldo uma monstruosidade sexual, o cego Omerinho as personagem do circo Lambari, dentre elas o belo mágico por quem Pretinha se perde de encantos, amores e fundas desilusões. As metáforas e símbolos saltam à vista. Fica-nos por exemplo, na memória, a presença agourenta de uma mariposa cinzenta, grande metáfora sobre os “tortuosos caminhos” da vida humana.
A cena do desastre que vitimou o irmão recém-nascido de Pretinha é impressionante e sintomática não só das origens familiares de muita pobreza, mas também como essa pobreza termina sendo internalizada pelas personagens:
“E Eliezer e seu silente nó na garganta, / na resignação dos pobres afundado, / A dos que se sabem pobres, / Os nascidos para o muito sofrer, / Para o pouco gozar, / Retirava, / Paciente,/ Cada pedaço de adobe, / Que cobria Carlito, / Preparado por suas calosas mãos,” p. 34
A segunda parte do livro é aquela em que por pouco a menina Pretinha não se perde completamente de si mesma. “Noticia de minha vontade de ir-me embora, meu lindo, / logo chegou aos ouvidos de siá Jezabel, / A da casa de tolerância,” p. 193. Também na segunda parte há um enfoque sobre o que representou no Brasil a escravidão, e suas conseqüências. Não escapamos do racismo. Ainda é assim. Testemunho de como isso acontece na maioria das vezes de forma agressiva a violentar seres humanos é justamente o capítulo que tem o sugestivo título de “Uma outra espécie de ódio” e “A carne mais barata do mercado”.
Não há como deixar de concordar com Márcia Barbieri que assina a orelha da obra: “vasto romance épico, que, a seu modo, constrói um mundo de teias, delicadezas e ferrugens. Através de suas palavras, ele nos conduz a enxergar a beleza das coisas animadas e inanimadas, porque as coisas inertes também respiram dentro dessa obra quase etérea, uma obra que proporciona visibilidade às matérias invisíveis. A protagonista do romance nos arrasta a lugares impressionantes através de uma linguagem da proximidade e do afeto. O escritor consegue inaugurar uma língua singular, a qual nos surpreende mais pela sinestesia do que pelas inovações linguísticas, embora faça ambas com maestria”.
O desfecho desse fantástico “mundo de delicadezas” engendrado por Erre Amaral é surpreendente porque o supra-real se estabelece com a força da sugestão ante a realidade íntima da protagonista e consegue despertar verdadeiro fascínio poético no leitor.

P>S> Consta-nos que o autor acaba de ganhar um netinho chamado Benício! Mais uma vida em nossa “erradia, funesta, Mas venturosa, Humanidade caída,” e por isso mesmo necessitada de renovações vitais! A humanidade continua “gira-girando”, que bom!
29/05/2017
Livro: “Do mundo, suas delicadezas,” –Romance-poema de Erre Amaral. Editora Penalux, Guaratinguetá-SP, 2017, 272p.
ISBN 978-85-5833-170-8

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