Reniel 18/01/2022
O Carnaval contra a catequese.
Oswaldo de Andrade é reconhecido pela influência no movimento do modernismo literário brasileiro na década de 20 em diante, e pode ser que ainda hoje os textos de Andrade soem duros como um pedaço de pau, e severo demais para os ouvidos burgueses, discípulos do cartesianismo sedento pela racionalização interpretativa.
Nessa seleção Manifesto Antropófago e outros textos, temos acesso aos principais elementos do projeto estético, político e cultural pensado pelo autor: a antropofagia como visão de mundo.
Impulsionado pela obra Abaporu, de Tarsila do Amaral, Andrade publicou o texto Manifesto Antropófago; e nele faz parte a defesa do evento histórico de deglutição do bispo Sardinha, em 1554, pelos índios caetés, como marco da fundação da cultura brasileira.
No plano simbólico, a definição da identidade cultural brasileira deveria corresponder ao ritual de antropofagia indígena: assimilar e incorporar a força e as qualidades dos guerreiros inimigos através da sua ingestão. Uma atitude de assalto como agente ativo na produção cultural do país.
No conjunto da obra temos a defesa de novos princípios para a arte e poesia no Brasil (poesia pau-brasil); a busca pela fusão do culto e do popular, a valorização estética de elementos do cotidiano e das marcas de oralidade, o destaque a componentes de matrizes indígenas e africanas, e uma notável posição de combate contra os estrangeirismos e ataque às elites conservadoras.
?Tupi, or not tupi?... assombra não só por sintetizar a transculturação almejada pelo autor, mas por reaver o valor da experimentação da vida dos povos primitivos contra o domínio Cabralino.