Jefferson Alberto Ferreira 07/08/2017Uma bela releitura do folclore nacional!Em primeiro lugar, cabe destacar que o livro conta histórias do no nosso folclore, mas ambientadas no universo Alvor (ok, não deixa de ser o nosso universo, mas com uma “explicação” e pitada alvor). Entretanto, nada impede de lê-lo sem ter lido os outros livros do Lauro. Esse toque alvor é bem sutil.
Alguns dos contos são de origem (Y-îara, Pisadeira, Mula sem Cabeça e Boi) e outros apresentam os mitos já “em ação” (Kaapor, Sa’si e Boto). Os contos têm muito do Lauro (descrições, jogos de palavras, uso das sensações...), mas é também nítida a evolução na escrita. Sem mais delongas, deixe-me falar um pouco de cada conto.
1) Kaapor: É o mais sensorial dos contos, até por que o Caipora é quase 100% emoções e instintos, e acho que por isso mesmo é o que contem mais lirismo. A ambientação é muito bacana, e o jogo de palavras funcionou muito bem. Aqui a inserção do nosso folclore na mitologia alvor (ou da mitologia alvor no nosso folclore?) também é destacada, e encaixou muito bem.
"Mas há poucas coisas no mundo tão certas quanto o caos."
Nota: 4,5/5
2) Y-îara: Eu sei que é o conto preferido de alguns, e muito especial para o Lauro, mas foi o que eu menos gostei. Aliás, dividindo o conto em “antes da transformação” e “depois da transformação”, eu gostei bastante da primeira parte, e nem tanto da segunda. A Yainité, mulher, índia, guerreira e filha, é muito forte, e foi muito bem retratada. Já com a Yara sereia eu não consegui me conectar.
Nota: 3/5
3) Pisadeira: é um dos contos mais simples, mas um dos quais eu mais gostei. Talvez por não conhecer nada da lenda, mas também porque me pareceu muito crível. A Pisadeira seria a explicação para a paralisia do sono, e esse conto foi aquele com o qual eu mais tive o sentimento de “caramba, isso faz sentido, isso poderia ser verdade”! Esse também tem o toque alvor mais acentuado, e isso é bacana!
"...se há algo que todos os homens têm, ainda mais do que estupidez, é medo."
Nota: 4,5/5
4) Sa’si: Comecei esse conto esperando um conto de origem, mas encontrei um Saci sacana, “aprontando altas confusões” nos dias de hoje. Muita ironia, cultura pop e HueBr! Garantiu boas risadas, e ainda tem um final digno da astúcia e malandragem do nosso personagem mais traquinas do folclore nacional. Muito bom!
"Ele ficou de costas para Carlos, o olhar voltando a ficar inquieto e caótico, direcionado para os bambus enquanto olhava para a palma da mão vazia, numa imitação de segurar um celular. – Eu escolho você!"
"Parece que empilharam quinze raios de dimensões paralelas em cima da outra, me sinto mais esticado que a merda do filme do Hobbit!"
Nota: 5/5
5) Mula sem Cabeça: Mais um conto de origem. Aqui vemos uma explicação para a origem do bicho, com a magia tendo destaque e não sendo apenas uma maldição, e a cena de transformação é bastante forte!
Nota: 4/5
6) Boto: Final surpreendente e interessante. Um Boto em crise existencial foi bacana de se ver. Mas eu queria ver a origem do bicho, para entender melhor suas motivações (o louco das origens e motivações). Enfim, o conto foi bacana.
Nota: 4/5
7) Boi: Ah, o Boi!!! Não havia um conto que eu tinha menos vontade de ler. Comecei e parei umas três vezes. Tolinho. Para começo de conversa, a forma como a história é contada é sensacional. Alterna o “fato verídico” que deu origem à lenda e uma apresentação folclórica do Bumba Meu Boi nos dias atuais. É o conto mais caprichado, melhor trabalhado. Tanto o enredo é excelente, a sacada da explicação da lenda, como o desfecho é lindo e triste!
"O tempo come os fatos e cospe as lendas."
Nota: 5/5
No geral, um livro com contos bons, e bem equilibrado. Fiquei empolgado, e já mandei pedidos de novos contos, e sugestões de fontes de pesquisas para o autor. Na minha nota final tiveram mais peso as notas do Saci e do boi, porque são os maiores e mais trabalhados contos. Enfim, que venha mais “Raízes de Vento e Sangue”!
Nota Geral: 4,5/5 GabyStars