Patricia Pietro 03/02/2022O autor busca nos dar um panorama direto e sucinto da esquerda no Brasil. Tendo isso como ponto de partida, Fausto apresenta, do seu ponto de vista, as deficiências desse viés político, e traça caminhos possíveis para sua reconstrução.
Na visão do autor, as principais patologias que impregam muitos governos e movimentos de esqueda são o totalitarismo, o reformismo-adesista (viés político que deseja a mudança, mas aceita o capitalismo) e o populismo. Na história recente de nosso país, a patologia mais presente foi o populismo, que o autor associa ao PT. Em seguida, o reformismo-adesista, associado ao governo FHC. Em outros países, a ordem de relevância dessas patologias podem ser bem diferentes.
Após, o autor analisa um pouco o discurso da direita, que se utiliza das problemáticas dos últimos governos de esquerda (corrupção, laxismo na administração pública) para desmoralizá-la. Fausto também faz uma análise bem interessante a respeito das técnicas de argumentação de Olavo de Carvalho, que incluem ir até os limites do absurdo para paralizar o adversário e uma espécie de sofisma da hiperanálise, que confunde o leitor quanto ao essencial e ao inessencial da questão posta.
Depois o autor aprofunda mais a discussão ao abordar melhor a esquerda brasileira, desde o início da trajetória populista no brasil com Getúlio Vargas até o impeachment da Dilma (o autor acredita que se tratou de manobra política, ao estilo dos golpes modernos - canetas ao invés de tanques).
Diante disso tudo, pergunta-se: "o que fazer?". Ruy responde que acredita ser necessário fazer o seguinte: mobilização da massa de classe média avançada, que não tem posição política bem definida e hesita entre um polo e outro; uma reforma tributária justa; uma reforma agrária e urbana, sem violência a particulares; uma agenda ecológica; a defesa da democracia representativa; a resistência às pressões americanas, no plano mundial; e, por fim, a promoção do espírito democrático e progressista dentro do Exército.
O livro é curto, e a escrita é bem clara, de modo que li relativamente rápido. Com toda certeza, o que eu mais gostei no livro foi a centralização dos debates no plano nacional. Passei a entender melhor o contexto e motivações dos últimos acontecimentos políticos no Brasil, aprendi mais sobre a trajetória do PT (acertos e erros), e também de figuras políticas relevantes, entre outras coisas.
Saltou-me aos olhos a argumentação que o autor faz para defender aquilo que ele acredita ser um socialismo verdadeiro, mas que a oposição acredita ser uma ilusão, já que não funcionou até hoje no mundo real. Em resumo, ele diz que se assim fosse, também não seria possível acreditar em um cristianismo verdadeiro, já que historicamente muitos erros, horrores e violências foram praticadas em nome dessa religião.
Ademais, para rebater os argumentos dos céticos, que não acreditam na possibilidade do sistema socialista substituir o capitalista, Fausto se vale de outras demandas socias que efetivamente se concretizaram, apesar de parecerem apenas sonhos irreais no início, como a democracia, as conquistas trabalhistas, o sufrágio univeral, etc., apontando que, em verdade, a história se caracteriza pela sua mutabilidade e que nada garante que o socialismo verdadeiro não poderá vir a se tornar realidade no futuro.