spoiler visualizarRIAN 09/06/2022
Pauliceia Desvairada
Nessa poética aberta, há afinidades com a teoria da escrita automática, que os surrealistas pregavam como forma de liberar as zonas noturnas do psiquismo, o ditado do inconsciente. Ao lado dessa entrega lírica às matizes pré-conscientes da linguagem, o Prefácio mostra a admiração da experiência cubista, que, por meio da deformação abstrata, rompe os moldes pseudoclássicos da arte acadêmica. O ?Prefácio? não fica nestas generalidades, há uma descrição dos processos de estilo que conferem à obra a medida de sua modernidade ? a teoria da palavra em liberdade, os princípios de colagem (ou montagem) que caracterizavam a pintura de vanguarda na época, a elisão, a parataxe e as rupturas sintáticas como meios correntes na poesia moderna para exprimir o novo ambiente, objetivo e subjetivo, em que vive o homem da grande cidade, a poesia-telegrama, a visão global de uma cidade e sua vida, ironia, versos livres, arcaísmos, coloquialismos, aliterações, rimas complicadas, trechos em língua estrangeira, eruditismo etc.
São visíveis algumas aproximações com vanguardas européias (Dadaísmo, Cubismo, Surrealismo, Futurismo e Expressionismo).
Em termos de construção, de recursos técnicos. Mário de Andrade aproxima a poesia à música, como os simbolistas, adotando da teoria musical as noções de melodia e harmonia. Antecipa as experiências lingüísticas, criando novos termos, recombinando radicais, prefixos, desinências como em ?bocejal?, ?luscofuscolares?, ?sonambulando?.
A linguagem é simples, algo irreverente e coloquial, tendo até mesmo erros propositais de ortografia e gramática. Ela é uma das partes mais importantes da obra, e configura um protesto por si só ao desafiar as correntes então dominantes. Revolucionou a linguagem poética brasileira, pregando o verso livre.
Na obra todos os procedimentos poéticos e arrojados eram expostos e reunidos pela primeira vez, em uma poesia urbana, sintética, fragmentária e anti ? romântica, que retratava uma São Paulo concreta, cosmopolita e egoísta com a população heterogênea e a burguesia cínica.
Enfim, eu amei tudo, já quero ler os próximos de Mário de Andrade!