Ari Phanie 15/01/2022"Ao colher o fruto de lutas do passado, vocês devem espalhar a semente de batalhas futuras."
#metaleiamulheres
Angela Davis é feminista marxista e ativista radical pelos direitos civis. Isso (e o discurso dela na Marcha das Mulheres) me motivaram a começar a leitura de suas obras o quanto antes. E, ao finalmente começar pude logo concluir uma coisa: não seria uma leitura fácil. E não pelas questões abordadas, mas pela estrutura da escrita que tem uma característica por vezes bem didática, o que é bastante natural já que a Davis é professora. Mesmo que alguns capítulos parecessem um pouco com uma aula de história/sociologia, a forte opinião progressista da Davis entusiasma e encoraja. Eu pouco sabia sobre o Ronald Reagan (apenas a característica militarista e o escândalo envolvendo armas) e as críticas da Davis sobre a administração desse presidente são tão pertinentes e compreensíveis. Por que valorizar mais armas e programas militares do que ações sociais em prol dos mais necessitados e das minorias? Ou a favor da saúde, educação e segurança? Foram questões levantadas, debatidas e pilares para ativistas lá nos Estados Unidos da década de 80 (e muito antes também), e que aqui no Brasil soam bastante atuais no momento. Quando aborda o feminismo, a Davis critica como lá no seu começo essa também foi uma luta excludente feita para as mulheres burguesas brancas, mas que tinha pouco a oferecer para suas irmãs negras. Então, antes de qualquer coisa era preciso derrubar o racismo para que a luta pudesse ser de todos em prol de todos. E esse é o principal argumento da Davis: olhar e lutar para todos. Não apenas pelos negros, não apenas pelas mulheres, não apenas pelos compatriotas. A luta deve ser em prol de todas as minorias; dos refugiados, da classe trabalhadora em todo mundo, das pessoas vivendo sob o regime do apartheid, etc.
"(...) Imaginem se as mulheres jovens tivessem exatamente as mesmas oportunidades que os homens jovens. Imagine, na verdade, um mundo sem sexismo. Imaginem um mundo sem homofobia. Imaginem se nós vivêssemos em um mundo sem racismo. (...) Imaginem se vivêssemos em um mundo em que pessoas do México, da América Central e do Haiti sem documentação imigratória não fossem amontoados como gados e detidas em campos de concentração apenas para serem embarcadas de volta para seus países, onde elas enfrentam a pobreza abjeta e a repressão policial brutal. (...) Imaginem se vivêssemos em um mundo em que jovens com deficiências físicas e intelectuais não fossem alvo de discriminação devastadora e rotineira. (...) Imagem se vivêssemos em um mundo sem pena de morte."
Lendo assim, um mundo desse jeito parece utópico, mas todo dia luta-se um pouquinho por alguma dessas coisas. A luta contra a opressão (de qualquer ordem) deve ser mesmo diária, como a Davis propõe. É incrível que coisas escritas e ditas lá na década de 80 ainda sejam atuais, e pior, em alguns aspectos temos encarado até um retrocesso em comparação. Leitura enriquecedora.