Gustavo.Romero 01/05/2018
As divagações pós-modernas
O livro é muito bem escrito, sem dúvida. A autora se movimenta com destreza por recursos de pontuação, espaçamento, palavras não ditas, frases fracionadas, sentenças semi-flexionadas. Porém, essa incompletude sintatica acaba revelando a insuficiência da narrativa. A proposta principal não é mistério (até mesmo porque a péssima orelha do livro parece tão preocupada com o convencimento que faz uma resenha da obra, desnecessariamente revelando o enredo - procedimento comum na Cia das Letras), trata de morte, perda, depressão e... redenção, talvez? Mas os labirintos da mente são transportados para a narrativa com tanta intensidade que, na minha opinião, a história se perde. Ainda acredito ser possível inovar na estrutura textual e narrar de forma não-linear desde que as partes não pareçam peças soltas, que comportam tantas e variadas interpretações que, ao final, não representam coisa alguma e não estimulam algumas horas de reflexão. Imagino que a intenção da autora era provocar uma.sensação de desorientação frente à inflexibilidade do tempo e a impotencia de nossas decisoes em face da vida vazia que construímos nesse "hotel" que chamamos de sociedade "global', ou "vida moderna" - e nesse ponto concordaria veeementemente com a autora. Porem, quando acabei a leitura, essa reflexão foi superada por uma lastimável sensação de alívio.
Enfim, o que salva do livro é o espetacular capítulo "futuro do pretérito", sob a perspectiva da irmã da falecida. Aqui sim, conseguimos nos conectar ao âmago da personagem e partilhar de sua angústia. De resto, leitura dispensável.