Paulo Silas 04/11/2022Articulando psicanálise e arte, Nasio reúne nessa obra 9 ensaios nos quais a pintura, a música e a dança recebem o atento olhar do psicanalista, funcionando como se a obra estivesse situada no divã do consultório, de modo que pelo olhar do analista se busca escutar aquilo que diz a obra, o que se dá por alguns elementos que são minuciosamente captados e analisados, sendo transmitidos ao leitor a interpretação resultante desse curioso e interessante processo de análise. A criação artística é o objeto dessa obra, portanto.
O canto lírico de Maria Callas é o primeiro tema investigado pelo autor, cuja escuta reproduz em Nasio o ato de deixar de pensar em si próprio e deixar de existir senão em seu próprio corpo. Dado esse efeito causado é que a atenção do autor se volta para alguns aspectos biográficas da cantora que repercutem em sua cantoria pelo olhar psicanalítico. Na pintura, algumas telas de Vallonton, Francis Bacon e Velázquez são analisadas tanto no sentido do efeito causado na pessoa que as admira quanto no processo de criação, via sublimação, dessas obras, o que faz com que o autor também investigue a vida e história desses artistas. No campo da dança, Nasio discorre em algumas linhas sobre a expressão do inconsciente que se manifesta nessa forma de manifestação artística, articulando que "o corpo é o lugar do gozo".
Nasio trabalha com conceitos psicanalíticos, relacionando-os com as manifestações artísticas abordadas no livro. Daí é que está a relação entre arte e psicanálise proposta, o que é feita com maestria, percebendo-se as ligações trabalhadas na mesma medida em que o autor constrói e avança em suas considerações. Trata-se de uma reunião de textos diversos que não possuem ligação entre si que não o eixo psicanálise-arte, tendo-se assim uma interessante e válida proposta que muito bem relaciona aquilo que se pretende e se anuncia.