As brasas

As brasas Sándor Márai




Resenhas - As Brasas


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Nana 10/04/2024

Livro nr 69 do projeto "A volta ao mundo através dos livros"
País sorteado : "Eslováquia"

Terminei a leitura sem saber direito como classificá-la, eu gostei, mas não amei.

Sem dúvida a escrita do autor é muito madura, intrigante e elegante.
Me prendeu desde o início querendo entender o motivo do afastamento dos dois amigos por tantos anos, sendo que no final me decepcionou um pouco pois confesso que achei que o motivo fosse outro.
O que me incomodou um pouco foi o fato de só termos contato com um lado da história, somente o general Henrik expõe suas dúvidas e mágoas. O amigo Konrad fala pouquíssimo, é praticamente um monólogo. Mas ainda assim valeu a leitura!

Livia Barini 10/04/2024minha estante
Que projeto é esse? Fiquei curiosa


Nana 10/04/2024minha estante
Olá Lívia, é um projeto meu que iniciei em 2023 e consiste em ler 01 livro de um autor de cada país, sendo o total de 198 países. Anotei os nomes de todos países e vou sorteando para leitura. Estou adorando e aprendendo muito sobre vários locais que eu nem sabia que existiam




Alexandre.Iunes 07/04/2024

Elegíaco, sombrio, musical e emocionante.
O livro se inicia com a notícia da visita (in)esperada do melhor amigo de infância do protagonista, 41 anos depois de ter ?fugido? de sua vida. Alguma coisa muito grave aconteceu naquele dia.

Em seu castelo, o velho general aristocrata se prepara para confrontar o passado, que se faz tão presente em sua memória - a hora da verdade finalmente havia chegado.

Após o jantar, os amigos travam um duelo de palavras e silêncios, reflexões, acusações e evasões. Nesta conversa desperta o solilóquio criado brilhantemente pelo autor, no qual evidencia o protagonista inquirindo mais a si próprio do que ao seu convidado.

Elegíaco, sombrio, musical e emocionante, é um impressionante livro sobre a amizade, confiança e traição na literatura. O melhor livro que li este ano até agora.
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Rittes 01/04/2024

Relações perigosas
Uma verdadeira obra-prima, esta noveleta de Sándor Márai. Digna de todos os elogios e não apenas por sua construção quase irretocável. As temáticas da amizade, do amor e da dor, entrelaçadas na história de três personagens que falam pouco e dizem muito nunc foram tão bem trabalhadas. Quase um monólogo caudaloso, o livro, no entanto, não perde o interesse, mesmo sendo de lenta e sutil construção. Vale a experiência. Leitura de altíssimo nível!
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Willsp 30/03/2024

Amizade, paixão, inveja, traição.
As brasas foi o meu primeiro contato com a literatura húngara. Não me conectei tanto quanto gostaria. Percebo que isso se deve pelo livro ser pequeno, mas que leva um tempo para ler, pois se torna uma leitura lenta por ser muito descritiva e maravilhosamente escrita. Não considero isso uma crítica ao livro ou ao autor. O problema não está nestes últimos citados, e sim em mim, que não tenho mais paciência para desvendar coisas complexas e ficar tentando entender o que está escrito, para assim sequenciar os acontecimentos.

O segundo ponto negativo é que não sou fã de monólogo presente na narrativa. Embora tenha compreendido o monólogo interior de Henrik, onde ele expressou seus pensamentos, sentimentos e ressentimentos, e fiquei aliviado juntamente com ele por ter tido a oportunidade de despejar tudo que estava entalado consigo durante esses exatos 41 anos em silêncio. Ainda assim, gostaria de ouvir o outro lado da história, por mais traiçoeiro que possa ser.

Por mais que tenha sido um desafio, reconheço o valor da obra e a habilidade do autor em explorar temas profundos como amizade, lealdade e perdão. "As Brasas" não é apenas um romance, mas uma reflexão sobre a natureza humana e os dilemas universais que enfrentamos ao longo da vida. Mesmo que não tenha me cativado completamente, no fundo me estimulou a explorar mais obras da rica tradição literária húngara.

"Às perguntas mais importantes sempre terminamos respondendo com nossa vida. O que dizemos nesse meio tempo não tem importância, nem os termos e argumentos com que nos defendemos. No final de tudo, é com os fatos de nossa vida que respondemos às indagações que o mundo nos faz com tanta insistência."
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Silvia Schiefler 29/03/2024

As Brasas... uma história magnífica que entrelaça perfeitamente o drama e a leveza da escrita. Amizade, amor, traição e vingança são a base da história do húngaro Sandor Márai, que há um tempo eu já queria conhecer.
Márai tem a fama de ser um dos maiores prosadores de sua língua, e por isso é uma obra que surpreende por sua trama relativamente simples...  Relativamente, pois a profundidade dela apenas se mostra com o avanço da leitura ? e pela beleza da escrita. Eu ouso dizer que é "Dom Casmurro" revisitado... O livro termina e fica no ar aquela dúvida, que nos mantém presos à energia do livro. Vale lembrar que os escritos de Márai foram proibidos em seu país até 1999... Exilado em 1948,  por não concordar com o refime comunista instalado no império autro-húngaro. Vale muito a leitura! Recomendo. #leituras2024 #27/2024
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Peter.Molina 23/03/2024

O tempo da vingança
Neste pequeno livro, temos a história de 2 homens, grandes amigos, que após 41 anos se encontram ,e um deles coloca as cartas na mesa, decidido a acertar contas do passado. Com monólogos intermináveis, o tema da vingança, traição e amizade se mesclam nesse livro, de leitura tranquila porém por vezes cansativa. Não consegui me conectar com o enredo, talvez porque esperasse um plot diverso no final. Uma história reflexiva, onde se discute o que nos move na vida: amor, vitórias ou o ódio?
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Flávia Menezes 21/03/2024

O CLÁSSICO MOMENTO DE [HAROLD] PINTER.
?As brasas? é um romance publicado em 1942, escrita por Sándor Károly Henrik Grosschmid, escritor, jornalista, poeta, dramaturgo e romancista de etnia húngara, nascido na Eslováquia, e descrito como um autor que foi um ?verdadeiro amante dos valores morais e civis?.

Com um repertório que remonta mais de noventa obras publicadas entre 1918 e 1988, Márai foi uma figura de notoriedade na intelligentsia húngara,além de ter sido um leitor voraz de Nietzsche, Freud, Spengler, Ortega y Gasset, Gide e Proust, e o tradutor de Kafka para o húngaro, tendo o seu estilo de escrita sido comparado a nomes consagrados como os de Thomas Mann, Robert Musil, Arthur Schnitzler e Gyula Krúdy, escritores de quem (inclusive!) foi contemporâneo.

Neste romance, dois grandes amigos do passado (Henrik, um velho general húngaro aposentado, e Konrad, seu amigo dos tempos da escola militar) voltam a se encontrar após quarenta e um anos em que se mantiveram separados, abrindo as comportas do passado, reavivando a lembrança dos doces tempos da juventude, enquanto vão ateando fogo para reacender a chama de um antigo acerto de contas, que foi o combustível que os manteve vivos por tanto tempo.

Entre a espera e o reencontro, a trama, que é dividida em duas partes (onde em um primeiro momento acompanhamos as memórias pregressas de Henrik, e no segundo, o encontro que tem seu início durante o jantar e segue noite adentro), se aprofunda em um monólogo dramático e repleto de dor e mágoas, neste microcosmo temporal em que o passado se sobrepõe ao presente, e os dois amigos apenas coabitam a cena como meros expectadores desse embate feroz entre o tempo e os sentimentos.

Nas linhas que se seguem, pouco a pouco vai se revelando sem qualquer pressa ou ansiedade, essa tensão entre o passado e as hipóteses que contrariam esse passado, dando forma e tom a trágica epopéia da frustração e expressão ontológica do desmoronamento do homem diante de si mesmo.

O lirismo da prosa de Márai é realmente impressionante, inebriando nossos olhos e mentes com os muitos devaneios e divagações de um protagonista-narrador que nos convida a refletir sobre os valores da amizade, da paixão e da honra.

Enquanto vamos conhecendo em minúcias o perfil psicológico de Henrik, que se abre para nós sem reservas ou anseios de se desnudar até o limite da vergonha e humilhação humana, já Konrad, esse personagem coadjuvante e antagonista, permanece impassível, mantendo-se calado durante todo o tempo. E quando ele fala, é apenas para provocar ainda mais a nossa angústia, sedenta por conhecer toda a verdade.

E nessa agonia de ouvir... e ouvir... e ouvir a monotonia na voz de Henrik que jamais se cala, mas que ao contrário, não se cansa em expor cada ínfimo julgamento seu, o que de fato aguardamos é pelo momento em que Konrad vai se impor, e tomar (enfim!) à frente desta narrativa.

Mas é quando isso parece estar prestes a acontecer, e Henrik solicita que a voz de Konrad se faça ouvir acima da sua, é que o autor nos coloca diante deste clássico ?Pinter´s Moment? (ou ?Pinter´s Pause), em que no silêncio onde as palavras não são ditas, vertem significados.

Mas apesar da elegância e delicadeza desse lirismo, e da construção impecável de um extenso monólogo embriagado pelas emoções inflamadas de Henrik (e que se contrapõe de forma sublime ao silêncio sem qualquer piedade de Konrad), confesso que a beleza e a maestria do romance estão muito mais na sua construção, do que na sua significação.

Ler sobre a idealização infantilizada que Henrik fazia da sua relação no passado com Konrad, e a forma como ele se mostrava indignado e magoado pela ruptura de um vínculo afetivo que para ele parecia ser tão sagrado quanto os laços do matrimônio (se não mais!), chega a ser algo absurdo e até tolo.

Afinal, Henrik não é mais um garoto em idade escolar, mas sim um homem idoso, bem vivido, que assumiu as incontáveis responsabilidades que uma alta patente exige, mas que ainda assim passou páginas e páginas me entediando com sua linguagem infante para falar dessa amizade como se coubesse a ele reivindicar direitos sobre o outro.

Era como se Konrad fosse sua propriedade, ou seu servo, e sua vida estivesse presa a ele como dois gêmeos siameses. Aliás, houveram momentos na narrativa em que Henrik se mostrava como um verdadeiro Hamlet shakespeariano. Digo isso para descrever o nível de insanidade que se observa na fala dele.

E desse perfil pueril, arrogante e com ares de tirania, Henrik passa a se mostrar um homem de uma ingenuidade quase que imaculada, quando fala com surpresa dos atos abomináveis que sua amada e falecida esposa, e aquele que ele considerava o seu melhor amigo, quase como um irmão, cometeram contra ele.

A forma como ele narra o passado utilizando verbos no presente, me dava a ideia de Henrik ser um homem delirante, porque tudo era dito com uma dramaticidade excessiva, e que não caminhava para uma resolução, mas sim para a permanência neste estado de dor e sofrimento (vitimização).

Entendo a licença poética de Márai de escrever essas cenas com uma dramatização agonizante que foca muito mais nas dores do Henrik, do que na verdade que reside por trás do que realmente aconteceu. Mas quando permaneço páginas e mais páginas neste mesmo lugar, nesta mesma dor, nesta linguagem cíclica do narrador que decide que a verdade é o que ele acredita, e não o que o outro tem a lhe dizer, eu confesso que isso me enerva mais do que me encanta.

E o curioso é que por mais que a narrativa denunciasse os pecados atrozes cometidos por Konrad, ainda assim, eu me ligava mais a ele do que a Henrik. E sinto que isso acontecia, porque o que realmente contava (para mim!) na trama era exatamente o que Henrik não podia me dar de jeito algum: a verdade! Algo que se mantinha trancado a sete chaves na alma de Konrad.

A idealização que Henrik tinha sobre amizade era bem contrária à minha. Assim como não consegui concordar com a imagem final que ele faz sobre a paixão. E tudo bem ler sobre algo tão diferente do que eu penso, porque isso é o que há de mais proveitoso na literatura. Mas o caso é que essas eram concepções tão infantes e estúpidas, mesmo com toda essa prosa poética que lhe concede ares de uma respeitável sabedoria, que ao final, sinto como se esse romance não tivesse me acrescentado muita coisa.

De fato, quando olho para a construção da história e tudo o que a escrita de Márai representou (e continua representando) para a cultura húngara e todas as outras descendências que o compõem, eu consigo ver as inúmeras virtudes dessa narrativa que agradou tanto a muitas das pessoas que o favoritaram por aqui.

Mas quando eu paro para observar o seu conteúdo, e na minha singularidade busco pela sua significação, eu não consigo encontrar muito que me prenda a essa história.

E por isso mesmo é que mais do que continuar agindo como Henrik, reclamando perpetuamente os meus desagrados, eu escolho encerrar essa resenha com o meu próprio ?Pinter´s Moment?.
Regis 21/03/2024minha estante
Adorei a resenha, Flávia! ???
Você conseguiu, de maneira primorosa, passar todas as nuances da história, é uma pena que o personagem pareça não ser tão atraente quanto a escrita do autor.


Flávia Menezes 21/03/2024minha estante
Obrigada, minha querida amiga Regis! ?
Que bom que consegui passar exatamente o que eu senti lendo. Porque acho que até pode ser bem proposital do próprio autor mostrá-lo dessa forma para criar a confusão de até que ponto ele é a vítima, mas o caso é que deixou tudo tão cansativo e monótono, que foi difícil manter o interesse, embora a obra seja magnificamente construída. ?????


Ana Sá 21/03/2024minha estante
Amiga, pra sua resenha eu dou um notão, já pro livro eu não daria tantas estrelas não, você foi generosa! rs Nossa, foi muito bom recordar o livro com o seu texto! Falou e disse! :)


Flávia Menezes 21/03/2024minha estante
Amiga Ana, estou me sentindo agora tendo a mesma impressão que você de mais um livro (porque pensarmos igual sobre ?Frankestein? foi tudo!) ??
E obrigada, amiga. Fico lisonjeada de ter uma nota boa nessa resenha. Até porque são tantos amantes de ?As Brasas? por aqui, que fiquei até com receio de criticar! ?


zxsaturno 21/03/2024minha estante
Adorei a resenha! Muito completinha.


Flávia Menezes 21/03/2024minha estante
Ah, Kakau! Muito obrigada!!!! ??


Talys 21/03/2024minha estante
Li recentemente, fiquei encantado com o lirismo da escrita do Márai. Concordo com vc em vários aspectos! Suas resenhas são um primor !


Flávia Menezes 21/03/2024minha estante
Talys, muito obrigada pelas palavras sobre a minha resenha! ??
Um livro de um lirismo encantador! Márai arrasou mesmo na forma como escreve e como construiu essa narrativa. Confesso que fiquei muito instigada com o Konrad! Achei o autor um gênio por nos deixar sem respostas! ??


Núbia Cortinhas 22/03/2024minha estante
Que resenha maravilhosa, amiga!! ??????


Flávia Menezes 22/03/2024minha estante
Núbia, amiga querida, muito obrigada pelas palavras e presença por aqui! ???


Luana 22/03/2024minha estante
??????


Flávia Menezes 22/03/2024minha estante
Lu.. ??


J. Silva 23/03/2024minha estante
Flávia, que bela resenha. Parabéns!


Flávia Menezes 23/03/2024minha estante
Muito obrigada, Jairo!! ???


Fabio.Nunes 23/03/2024minha estante
Kkkk adorei. Só faltou vc dizer "Henrik para de mimimi!".
Mais uma vez, fantástica resenha!


Flávia Menezes 23/03/2024minha estante
Fábio, você adivinhou?porque foi isso que eu pensei mesmo.. Henrik mimizento! ??
Obrigada pelos elogios. São seus olhos gentis! ???




Rimylles.Silva 09/03/2024

Literatura húngara
Eu curti bastante o livro por todas as reflexões que ele proporciona, mas eu fiquei muito incomodado com o fato de parecer um monólogo. Dois amigos se reencontram depois de 41 anos para uma espécie de acerto de contas, mas o protagonista não dá a palavra ao amigo. Tudo que sabemos é a versão do próprio narrador.
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Diego Rodrigues 09/03/2024

"Às perguntas mais importantes sempre terminamos respondendo com nossa vida"
Sándor Márai é um daqueles autores clássicos que, não sei porquê, eu vinha sempre adiando a leitura, mesmo com os inúmeros elogios que via por aí. Depois de muito tempo, finalmente desencalhei "As Brasas" da minha estante. E que livro! A obra narra o reencontro de dois amigos após um hiato de mais de quarenta anos. Sabemos que algo aconteceu entre eles, mas não sabemos os motivos que levaram ao rompimento, se é que houve algum. Em uma noite fatídica, o longevo e recluso general Henrik recebe o velho amigo Konrad em seu castelo com ares góticos, em meio às florestas cárpatas. No jantar à luz de velas, o passado, assim como um fantasma, ocupa seu lugar na mesa. É chegado então o momento de pôr tudo em pratos limpos.

Antes de mais nada, é preciso dizer que esse passado envolto em mistério é o que irá ditar os rumos da leitura, logo, esse é aquele tipo de livro que quanto menos você souber, melhor. Por isso, não vou me estender muito aqui. A "conversa" entre os dois amigos (conversa entre aspas porque o que temos aqui se assemelha muito mais a um monólogo) passa por toda a vida pregressa dos dois, desde o desabrochar da infância, o despertar das paixões, as vicissitudes da vida adulta e, finalmente, a resignação da velhice. Notamos que o passado tem um peso enorme, principalmente para o anfitrião, que parece ter passado esses mais de quarenta anos remoendo os acontecimentos de outrora. A narrativa se dá entre flashbacks e seus momentos de melancolia e reflexão, isso quando não está indagando ou confrontando o amigo mais diretamente.

A obra aborda temas como amizade, paixão, inveja, medo, solidão, escolhas, envelhecimento e, acima de tudo, as complexidades das relações humanas e a vida como ela é. Também é um livro que tem muito de autobiográfico. Márai foi um escritor que viveu grande parte de sua vida em reclusão e acabou por suicidar-se, já na sua velhice, aos 88 anos. Talvez o romance tenha sido um exercício, uma tentativa do autor de, no auge de seus 40 anos, acertar as contas com o próprio passado e com a solidão. A obra permite ainda um vislumbre do que era a vida aristocrática no Império Austro-Húngaro, na turbulenta virada do século XIX para o XX. Tudo isso com uma sensibilidade ímpar, mas também com cortes que estapeiam o leitor na cara, verdadeiros choque de realidade. Muitas páginas desse livro servem como lições de vida, embora nem todas sejam fáceis de digerir. Para exemplificar o que estou dizendo, deixo abaixo uma das passagens que mais me pegaram:

"Ser diferente do que somos, de tudo o que somos, é o desejo mais nefasto que pode queimar num coração humano. Pois a única maneira de suportar a vida é se conformar em ser o que somos aos nossos olhos e aos do mundo. Devemos nos contentar em sermos feitos de uma certa maneira e em sabermos que, uma vez aceita essa realidade, a vida não nos louvará por nossa sabedoria, ninguém nos conferirá uma medalha de honra ao mérito só porque nos conformamos em ser vaidosos e egoístas, ou calvos e barrigudos não, em troca dessa tomada de consciência não obteremos prêmios nem louvores. Devemos nos suportar tais como somos, este é o único segredo. Suportar nosso caráter, nossa natureza profunda, com todos os seus defeitos, seu egoísmo e sua cupidez, que não serão corrigidos nem com a experiência e nem com boa vontade. Devemos aceitar que nossos sentimentos não são correspondidos, que as pessoas que amamos não retribuem o nosso amor, ou pelo menos não como gostaríamos. Devemos suportar a traição e a infidelidade, e sobretudo a coisa que nos parece mais intolerável: a superioridade intelectual ou moral do outro."

Clássico da literatura húngara, "As Brasas" é uma narrativa poderosa, construída com um o primor e uma elegância que poucos escritores conseguiram atingir. Márai é, sem dúvida, dono de umas das escritas mais finas que já vi, sem soar rebuscada ou floreada, mas certeira. A obra parece ter sido escrita com o cuidado de uma peça musical e, assim como a música, é capaz de nos tocar nos pontos mais sensíveis, convidando o leitor para, assim como o anfitrião, lançar um olhar em retrospectiva para a própria vida (alerta de possíveis crises existenciais). Quando esbarro nesse tipo de livro, que eu vinha protelando a leitura há tempos e que se revela uma obra-prima, não fico arrependido de não ter lido antes, pelo contrário, fico encantando em pensar nos tesouros escondidos que ainda tenho aqui pra ler. E "As Brasas" foi uma dessas maravilhosas descobertas pra mim.

site: https://discolivro.blogspot.com/
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AndrA.Lima 20/02/2024

Uma aula sobre laços.
Demorei muito para conseguir digerir tudo que este livro trouxe pra mim e demorei mais ainda para conseguir escrever uma resenha sobre ele, sinto que não importa o quanto irei escrever aqui, ainda faltará muito a dizer sobre essa obra-prima.
O livro inicialmente nos apresente ao protagonista, o General Henrik que possui se não me engano em torno de 70 anos, aliás seu nome só é revelado mais da metade para frente do livro; após uma breve caminhada pela casa, onde de maneira brilhante são postos objetos e ambientes que contêm lembranças e informações sobre o passado do General, que posteriormente irá receber um amigo de infância, o qual ficou sem ver por 41 anos, o motivo é o que alimenta toda a história.
Esse livro apesar de não chegar a ter 200 páginas é extremamente rico e denso, é uma grande reflexão não apenas sobre amizade, mas também aborda maternidade, desigualdade social, amor, posse, solidão, isolamento e melancolia e mais.
Eu (talvez infelizmente) me identifiquei pessoalemnte com a personalidade de Henrik e sua meneira de enxergar as coisas, tanto que me pareceu algumas vezes uma mensagem de uma versão mais velha e muito mais sábia de mim querendo ensinar algo para mim mesmo.
Os personagens apresentados, apesar de serem poucos, são extremamente profundos e bem desenvolvidos, claro deixando maior destaque ao protagonista devido a forma como o enredo é conduzido.
No decorrer da obra senti a partir do protagonista uma sensação de estar certo, de ter feito tudo de maneira honesta, íntegra e ainda sim, sentir que perdeu a batalha, a obra toda me remete a um gosto amargo na boca, e uma melancolia guardada por anos, até se tornar uma forma de viver a vida, quase sem lembrar o motivo para tal, devido ao tempo.
É um livro extremamente enriquecedor que vou guardar com muito carinho dentre meus favoritos, nunca havia lido nada do autor e foi uma surpresa inesperada, um dia pretendo reler e me aprofundar mais na obras de Sándor Márai.
Brujo 26/02/2024minha estante
Excelente resenha !
Pretendo ler essa obra em breve


AndrA.Lima 27/02/2024minha estante
Vale muito a pena!!




Josie 16/02/2024

Poucos livros na vida me deram essa sensação: de querer voltar a um tempo em que não o havia lido, só para degustar o prazer de lê-lo pela primeira vez.
Imenso, imenso, imenso!
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Alana 12/02/2024

Parece que ultimamente as leituras desnecessariamente longas me perseguem? A história é muito arrastada, e parece ser só um fluxo de consciência, já que os outros personagens tem pouquíssima participação em diálogos. Mas apesar dos pesares, é muito bem escrita. ??
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Alex 10/02/2024

Uma ode à amizade
Em as Brasas, nos deparamos com uma obra de arte em palavras, e ainda assim, o autor húngaro, atribui-lhe a pecha de, uma de suas obras menores.

Pois bem, pelo contrário, essa é uma obra de um refinamento ímpar. Conta a história sob a perspectiva de um velho general, que no alto seu castelo, nos Carpatos, aguardou 41 anos por um diálogo com seu interlocutor.

Nessa noite - o livro se passa em uma conversa de uma noite - recheada de flashbacks, os dois conversarão sobre amizade, lealdade, amores, sociedade. Sobre tristezas, derrotas e traições. Nessa noite, um fato não explicado há 41 anos será desvendado. Nessa noite essa amizade se restaura ou morre.

Com uma narrativa ímpar, o autor exibe domínio absoluto sobre a narrativa, mostrando exatamente como contar uma história.

Fluído e sombrio, terno em sentimentos e musical, emocionante e chocante, ?As brasas? é uma leitura pouco conhecida, mas que merece estar no panteão, entre os melhores.
Brujo 12/02/2024minha estante
Sou louco pra ler esse livro !


Alex 12/02/2024minha estante
Brujo, eu nunca tinha ouvido falar, mas fui presenteado com um exemplar, que presente, é magnífico.


Brujo 12/02/2024minha estante
Vou colocar aqui na fila de leitura ! E é curtinho, né?




Isadora1232 06/02/2024

Em "as brasas", um general do Império austro-húngaro recebe a visita de seu antigo melhor amigo, com quem não teve nenhum contato há mais de 40 anos.

Dono de uma escrita elegantérrima, Márai consegue envolver o leitor e contar histórias como poucos. Por esse motivo, sugiro que sua leitura seja feita sem muito conhecimento sobre os personagens e seus acontecimentos. O texto da orelha dessa edição é um perigo.. Não que algo da qualidade seja perdido com o conhecimento prévio. Como todo bom livro, esse aqui se sustenta independente de plot twists. A história é simples, sem grandes reviravoltas ou revelações engenhosas. Mas a forma como os fatos vão se desenrolando revela um talento especial do autor.

Tal como o protagonista, que esperou longos quarenta e um anos e quarenta e três dias para o reencontro, aqui nós, leitores, também sentimos o peso da espera, descortinando pouco a pouco a memória e os sentimentos desse personagem.

O livro acompanha os pensamentos e longos monólogos do general, desnudando sua essência humana, a despertar reflexões sobre a solidão, amizade, o tempo, memória e paixão. Como bem disse o personagem, "fatos do passado acabam ficando mais inconsistentes que o pó e as cinzas". Mas ainda assim, permanecem...

Vale a leitura!
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