Isabella.Wenderros 27/01/2022“Eles eram almas gêmeas, sintonizados nos pensamentos um do outro, nas emoções e com as mesmas afinidades. Só que eles não tinham conhecido a história um do outro.”Após 40 anos de casamento, Arthur Pepper fica viúvo e precisa enfrentar a nova realidade sem a sua companheira de uma vida inteira. A maneira que encontra para dar sentido aos seus dias é criar uma rotina imutável que abafe sua dor e a saudade constante que sente de Miriam. Com filhos adultos que possuem seus próprios problemas, sua única companhia é Bernadette, a vizinha que cuida de todas as pessoas do bairro que precisam de atenção. No primeiro aniversário de morte da esposa, ele decide que está na hora de limpar os armários e durante essa tarefa acaba encontrando um bracelete cheio de pingentes intrigantes, que nunca viu e que desperta nele uma curiosidade impossível de ignorar.
Através das histórias por trás de cada berloque, Arthur descobre uma nova Miriam e embarca em aventuras que irão tirá-lo da sua zona de conforto. Ele vai parar em Bath, Londres, Paris e Índia em busca de respostas sobre sua mulher, mas, surpreendentemente, descobre mais sobre si do que julgava existir.
Os primeiros capítulos desse livro me passaram todas as sensações descritas pela autora. Consegui sentir sua solidão, sua tristeza e a necessidade de hábitos que mantivessem sua cabeça acima daquele oceano de pesar. Depois de tantos anos de união feliz, Arthur precisava enfrentar uma vida em que a pessoa que era praticamente uma parte sua já não existia. Além disso, as relações com os filhos estavam estremecidas, mesmo que ele não soubesse o motivo. Bernadette é uma figura constante nessa sua nova existência, mas diferentemente do que afirma a sinopse, eles não fazem nenhuma viagem juntos; ela oferece uma pequena carona, que ele aceita, mas o caminho do personagem é trilhado, na maior parte do tempo, sozinho.
Acompanhar toda sua trajetória de autoconhecimento foi legal, mas algumas coisas me incomodaram demais durante a leitura. A principal delas foi o fato de achar que várias situações eram muito convenientes para o protagonista: se ele desejava entrar na casa da infância de Miriam, a nova dona simplesmente abria a porta para sair, encontrava esse desconhecido na calçada e o convidava para entrar; se queria encontrar alguém na internet, mas não sabia como fazer, o filho da vizinha tocava a campainha para bater um papo e estava à disposição para realizar essa busca online.
Apesar dos capítulos serem curtos, a narrativa me cansou e demorei quase uma semana para terminar. A explicação que Arthur encontra para o silêncio da falecida esposa sobre o próprio passado também não me agradou – pareceu ser uma desculpa para seguir em frente sem amargura com relação ao fato de descobrir uma nova personalidade sobre a mulher com que formou uma família. Um diário perdido ou, talvez, cartas trocadas com antigos amigos, seriam coisas que me ajudariam a entender a necessidade do segredo.
Como eu disse, gostei de ver o protagonista reconstruindo suas relações com os filhos, se abrindo para os vizinhos e novas experiências, descobrindo mais sobre quem é agora como um homem de 70 anos e sem uma esposa. Esse processo me interessou mais do que o foco principal do livro: os pingentes e as histórias por trás de cada um.