Medicalização em Psiquiatria

Medicalização em Psiquiatria Fernando Freitas...




Resenhas - Medicalização em Psiquiatria


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Fer 08/01/2022

Livro muito bom e didático, acredito que essencial a todos nós, não somente a estudantes e trabalhadores do campo psi, principalmente porque esse processo de medicalização é algo que tanto nos afeta ainda que não percebamos, muitas vezes, a real proporção de sua dimensão em nossas vidas. Escrita simples e passível de ser lida por todos aqueles que se interessarem! É gente, estudem pra ficarem ligados e não comprarem o que tanto querem nos vender como saúde, até porque saúde não é mercadoria, mas construída em nossas relações
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Blue 26/01/2021

Um livro necessário para se pensar as questões acerca da saúde mental, sendo que estas são multideterminadas. Recomendo muito!
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Raiza Boger 03/10/2020

Livro muito bom e com linguagem super acessível pra quem não é da área da saúde mas tem interesse pelo tema. A leitura flui muito bem. É um livro introdutório, mas passa longe de ser raso, o que é ótimo também. No final tem várias indicações de leituras e até filmes e documentários pra quem quiser se aprofundar. Super recomendo pra quem tiver interesse em temas como luta antimanicomial e saúde mental. Aliás, gosto muito de toda essa coleção "Temas em Saúde" da Fiocruz.
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Tito 12/08/2018

Medicalização em Psiquiatria
FREITAS, Fernando; AMARANTE, Paulo. Medicalização em Psiquiatria. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2015.

Os autores apresentam a presente obra problematizando uma tendência muito clara da medicina de patologização de uma série de comportamentos que variam ao longo da história. A partir deste problema, propõem uma discussão crítica do modelo biomédico da psiquiatria que se consagrou a partir da 2ª metade da década de 1950, bem como uma análise das estreitas relações entre o processo de medicalização da vida, a indústria farmacêutica e os cientistas psiquiatras biomédicos.
No primeiro capítulo do livro – As diversas faces do fenômeno – os autores procuram ter uma abordagem histórica ao contextualizar a tendência de medicalização da vida aos marcos do pós-segunda Guerra. Nesse contexto, a medicina, de forma geral, tem avanços significativos. Também é desse período o advento das terapias freudianas e, contraditoriamente, é deste contexto o surgimento das “pílulas mágicas”. Todas essas transformações no campo da saúde estão inseridas no cenário de instauração dos diversos Estados de bem-estar social, que têm como uma das características centrais, uma política de saúde pública e universal. No contexto da medicalização da vida, os autores recorrem à Talcott Parsons para discutirem o papel social do doente. Doente este que é determinado socialmente, na medida em que é concebida (a doença) como um desvio das normas estabelecidas, sendo o objetivo do sistema social o enquadramento do desviante (o doente). Tratam também do papel social do médico. Recorrem a Elliot Freidson para contextualizarem as origens da vinculação da medicina com seu objeto inerente: a doença. Freidson trata essa vinculação como resultado de uma relação de poder. Nessa direção, também recorreram a Irving Kenneth Zola para enxergar o controle social com um dos objetivos da medicina; trata-se de uma instituição que assume os papéis outrora assumidos pela religião e a lei – dinâmica que torna a medicina, e seu consequente processo de patologização/saúde, numa instituição de controle. Os autores discutem ainda o processo de perda de autonomia dos sujeitos – resultante da medicalização da vida – referenciado por Ivan Illich, ao sugerir que o desenvolvimento da sociedade engendra sujeitos incapazes de lidarem com o sofrimento sem mediação bioquímica; infere ainda que essa dinâmica se associa à despolitização do “adoecimento” e ao boicote da autonomia. Os autores recorrem a Thomas Szasz para discutirem a fabricação da doença mental, no sentido de que, conforme Szasz, uma série de comportamentos morais foram associados historicamente à loucura, o que o levou a tratar as doenças mentais como doenças metafóricas, problematizando a autenticidade dessas doenças e da própria psiquiatria como especialidade médica. Concluindo o primeiro capítulo, os autores denunciam a epidemia das drogas psiquiátricas resultante da união das Big Pharmas com os médicos psiquiatras, que, conforme Marcia Angell, legitimam a medicalização da loucura à revelia de resultados científicos relevantes sobre a eficácia das drogas psiquiátricas. Denunciam também o cenário lucrativo do neoliberalismo para as Big Pharmas; a facilidade com que novas drogas são aprovadas pela FDA e a influência que a indústria farmacêutica exerce sobre o Estado e em seus representantes do executivo, legislativo e judiciário.
No segundo capítulo – Diagnosticar doenças – os autores lançam mão da ficção “O Alienista” de Machado de Assis para apresentarem o problema da medicalização, tratando o ato de patologização de comportamentos como um processo de Bacamartismo (em referência ao personagem Simão Bacamarte do conto supracitado). Em seguida, os autores contextualizam a necessidade de classificação das doenças mentais – classificação proposta pela Associação de Psiquiatria Americana (APA) através dos DSM’s (revistos mais de 50 vezes). É a psiquiatria americana quem mais exporta o conhecimento patologizante para o mundo, influenciando a própria OMS que propôs a Classificação Internacional de Doenças (CID); a despeito da crítica da antipsiquiatria nas décadas de 1960/70 os DSM continuam sendo autorizados pela APA, pois são resultados de aprovações determinadas por relações de poder, à revelia de provas científicas. Neste capítulo, os autores problematizam também as noções de confiabilidade (consenso) e validade da ciência psiquiátrica iniciada com Kraepelin, para em seguida discutirem a validade do paradigma da referida ciência. A hipótese aqui é a de que essa ciência foi erigida em torno da confiabilidade (consenso entre os pares) – a partir de pressupostos falsos – e não da validade factual. Colocam ainda em xeque o paradigma Krapeliano de categorização de sintomas para definir uma patologia. Problematizam os sintomas e o prognóstico da esquizofrenia com objetivo didático. Nesse transtorno, os sintomas não são exclusivos da esquizofrenia, mas estão presentes em inúmeros outros diagnósticos, não sendo possível estabelecer uma categoria de sintomas exclusiva para a esquizofrenia. Em relação ao prognóstico, a própria OMS chegou a resultados que mostrou melhora significativa nos diagnosticados esquizofrênicos tratados em países pobres, onde a presença da psiquiatria é menor. Nessa mesma direção, finalizando o segundo capítulo, os autores expõem o processo de crise por que passou a psiquiatria Kraepeliana, sobretudo em função da crítica da antipsiquiatria nas décadas de 1960/70 – baseada, principalmente, nos critérios diagnósticos absolutamente imprecisos. A partir daí surgem respostas da APA que objetivavam atacar o movimento da antipsiquiatria, com a publicação dos DSM III, DSM III-R, DSM-IV, DSM-IV.TR e DSM-5 (de 2013, o mais recente); manuais diagnósticos exaltados pela psiquiatria pela capacidade diagnóstica precisa.
No terceiro capítulo – Medicalização: incluir ou excluir – os autores mostram como com a militância do movimento gay americano a homossexualidade deixou de ser patologizada no DSM III, passando a ser vista como um estilo de vida que não deve ser visto como doença. Isso mostra mais uma vez como a APA – responsável pela revisão dos DSM – é movida sob pressão. Expõem também a militância de ex-combatentes de guerra para a inclusão de um transtorno no DSM, como resposta ao sofrimento traumático vivenciado pelos soldados americanos. Novamente, alianças entre movimentos sociais e profissionais da saúde mental são necessárias para mudar o DSM e incluir o transtorno de estresse pós traumático, o que reafirma a APA como uma instituição que funciona à base de correlação de forças e de relações de poder.
No quarto capítulo – O mito científico do desequilíbrio químico e suas doenças – os autores pretendem expor o mito da experiência da doença mental como um desequilíbrio químico do cérebro; paradigma fomentado pela indústria farmacêutica aliada a uma perspectiva científica biomédica. Os autores tratam do funcionamento do cérebro para, em seguida, explicarem a teoria do desequilíbrio químico. Esse desequilíbrio se manifesta nas sinapses do cérebro (espaço entre um neurônio e outro), especificamente, com o excesso ou falta de substâncias neurotransmissoras – dopamina, serotonina ou a noradrenalina. Esses desequilíbrios explicam (?) o transtorno na perspectiva biomédica, mas os autores defendem que essa teoria é uma redução da complexidade do cérebro. Afirmam que a invenção da teoria do desequilíbrio químico do cérebro baseia-se numa premissa lógica que não considera a complexidade do cérebro. Os psicotrópicos que surgiram para combater tais desequilíbrios desencadeiam uma funcionalidade anormal da atividade cerebral. Tratando dos psicotrópicos, os autores discutem a revolução do Thorazine no processo de tratamento do transtorno mental. Esta inovação mostrou melhores resultados em relação às terapias convencionais de controle. Propõem a exposição do paradigma de ação dos psicotrópicos. Em relação aos antipsicóticos, afirmam possuir efeitos positivos em curto prazo, mas com a retirada dos medicamentos é desencadeado sintomas graves da crise psicótica. Portanto, mediante estes dados, consideraram-se os antipsicóticos o melhor tratamento para a psicose, mas não foram problematizados seus efeitos em longo prazo e não se compararam com diagnosticados que não fizeram uso do medicamento. Portanto, cria-se a hipótese de que os sintomas com a interrupção do uso é fruto da própria exposição às drogas psiquiátricas. Os autores consultaram estudo follow-up (de longo prazo) da década de 1960, que constatou melhores resultados (ajustamento à comunidade) em pacientes que receberam tratamento placebo em relação àqueles que receberam tratamento com antipsicóticos. Outro estudo consultado constatou que quanto maior a dose medicamentosa ingerida pelo paciente no início do tratamento, maior a probabilidade de recaída. O que determina a seguinte problematização: A recaída é fruto do transtorno ou do próprio medicamento? Em consulta a um estudo follow-up, os autores acharam dados que reforçam a ideia do sucesso de tratamento não medicamentoso com psicóticos em relação aqueles pacientes tratados com psicotrópicos. Expõem ainda os dados do estudo Fallow-up de Harrow e Thomas que acompanhou por 20 anos pacientes esquizofrênicos em 3 categorias diferentes de tratamento. Os resultados mostraram melhor recuperação em pacientes que não fizeram uso do medicamento; apresentaram menos atividade psicótica e menor incidência de hospitalização. Os autores também problematizam a depressão e o tratamento com antidepressivos. Apresentam números que mostram o aumento deste diagnóstico e criticam o caráter patologizador das características que compõem o transtorno da depressão. Tratando dos antidepressivos, expõem os dados do estudo de Kirshc que mostraram que os efeitos dos antidepressivos não superaram os resultados do placebo, antes, os antidepressivos mostraram efeitos colaterais extremamente danosos à saúde mental. Tratando também da ansiedade, os autores problematizam o uso de ansiolíticos que, historicamente, surgem como relaxantes e sedativos. Estes medicamentos foram extremamente usados pela população americana nas décadas de 1960/70, mas seus efeitos colaterais – dependência química, overdose e anestesiamento – fizeram com que elas fossem substituídas pelos antidepressivos a partir de 1980. Concluem este capítulo expondo os dados da literatura sobre os ansiolíticos, especificamente as benzodiazepinas. Reafirmam os efeitos nocivos dessas drogas, sobretudo o caráter dependente e análogo às drogas psicóticas.
No quinto capítulo – Ninguém pode escapar – os autores expõem a problemática da expansão do mercado da psiquiatria, a exemplo das prescrições para fins estranhos aos das drogas psiquiátricas. Tratam da problemática que tem sido a capilarização dessas drogas no segmento dos idosos. Muitos antipsicóticos têm sido prescrito numa clara perspectiva de patologização da velhice. As benzodiazepinas também têm sido receitadas, fazendo com que todos os efeitos colaterais dessas drogas sejam cada vez mais presentes no segmento geracional dos idosos. Os autores tratam ainda da dinâmica de medicalização da infância e da população carcerária, num contexto onde situações de explosão de raiva são administradas com medicamentos objetivando sempre o controle e não um tratamento terapêutico.
No sexto e último capítulo – A desmedicalização é possível: experiências – os autores discutem o exemplo de experiências desmedicalizadoras. Expõem a originalidade do projeto Soteria, que nas décadas de 1970/80, foi uma instituição alternativa ao tratamento convencional, baseada num tratamento na comunidade com redução ao máximo ou sem uso do medicamento. Os resultados dessa experiência são extremamente positivos. Tratam também do sucesso do projeto Finlandês (Open-Dialogue), que tem se tornado o sistema mais eficaz para a redução de pacientes psicóticos. O sucesso desse sistema é baseado na resposta imediata à crise; na aproximação com a rede social do usuário; no diálogo no processo terapêutico – dando relevância e legitimidade às questões postas pelo usuário; e na redução significativa na administração de antipsicóticos. Por fim, os autores ainda expõem a alternativa das experiências de redução de danos para tratar do problema da medicalização. Discutem esses programas de desmedicalização como estratégias de informação numa perspectiva de redução de danos causados pelas drogas psiquiátricas.
Concluindo a obra, os autores diferenciam os conceitos de medicação e medicalização, conceituando este último como uma tendência patologizadora e medicalizadora de condições humanas. Além de apresentarem os desafios postos à assistência psiquiátrica brasileira diante destes dados: desafios referentes aos usuários que não estão sendo curados e desvencilhados do sistema psiquiátrico; e desafios relacionados à indústria farmacêutica, que tem influenciado claramente o atual paradigma de tratamento.
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