Ana 07/11/2017
Nem é preciso me conhecer direitinho para saber que solicitei Nunca Houve Tanto Fim Como Agora por causa desse título incrível e criativo. A história criada pelo mineiro Evandro Affonso Ferreira no seu nono romance, narra pela visão de Seleno, o dia-a-dia de um quinteto que tem como "lar" um viaduto na cidade de São Paulo. Apesar de viverem em cinco, as lembranças do protagonista são mais voltadas para Ismênio e Eurídice — a única mulher do bando —, os seus fiéis companheiros de Relento.
A história apresentada por Ferreira é uma enorme crítica social da mazela do nosso país: há vários Selenos, Ismênios e Eurídices em todos os cantos do Brasil que não são escutados, muito menos vistos. A morte, consequentemente, também é um assunto bastante retratado no livro, pois parece sempre estar a espreita. Creio que, justamente pelo tema do livro ser tão melancólico, a linguagem do mesmo é bastante rebuscada. Em algumas passagens, é até difícil entender o que o autor quer passar.
Particularmente, não tenho problema algum com uma literatura que possui narrativa mais culta, mas, para mim, há um grande abismo de diferença entre o rebuscado e o culto. Na minha opinião, Evandro Affonso fez "muita graça" para falar pouca coisa. Há diversas formas de narrar uma história mais pesada e nostálgica. Em Capitães da Areia, por exemplo, Jorge Amado explora o drama dos jovens abandonados nas ruas de Salvador com uma linguagem muito mais acessível, e a data da primeira publicação é de 1937.
É impossível negar que as memórias apresentadas por Seleno, agora um professor universitário, em Nunca Houve Tanto Fim Como Agora são necessárias para reconhecermos a realidade da miséria que as pessoas insistem em não saber do que se trata. Portanto, é uma obra importante, com uma história muito boa, mas com uma narrativa mal aproveitada.
É repetitivo, eu sei, mas o único ponto que me desagradou foi o suficiente para tornar a leitura cansativa ao extremo. Talvez um leitor mais maduro ou com o gosto mais chegado a uma narrativa poética e estética, aproveitaria mais a história de Nunca Houve Tanto Fim Como Agora. Eu, particularmente, teria preferido conhecer a vida de Seleno, Ismênio e Eurídice através de olhos um pouco menos obsoletos.
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