Kristianno 08/07/2020
A capa é bonita [aviso de gatilho]
Em primeiro lugar, parabéns aos criadores da capa deste livro. É incrivelmente linda. Digna de aparecer nas prateleiras com orgulho. E, ao ver a sinopse, parece um livro jovem adulto até interessante, além de ser um livro curto, menos de 250 páginas.
Seguindo a ordem de análise, a sinopse até tenta mostrar como resumidamente é a história, mas a trama não é de tirar o fôlego, tem um capítulo que sim, este teima em te deixar interessado no que acontece, fora isso é tudo muito questionável pela lógica. "Repensar a vida" é muito forçar o leitor a ter algum momento de comparação com a própria vida. Talvez esse "carpe diem" seja alusão ao curso de filosofia em que se encontram e é estopim para uma ou outra introdução para o personagem pensar na vida.
Sim, Danilo Leonardi vai direto ao ponto, sem rodeios, é tão direto que você escorrega e fica com cara de interrogação. Os temas difíceis de lidar são ora improváveis demais, ora ficcionais demais, talvez a sua reação, caro leitor, seja a legenda desse tal "repensar na vida?".
O livro é dividido em cinco capítulos, cada qual uma visão separada do personagem na história, e seguindo a linha do tempo. Para quem conhece esse tipo de técnica narrativa, popular em Percy Jackson, você vai ter uma dificuldade em separar os personagens entre cada capítulos. Existem dois personagens centrais e duas narrativas que estão ali.
Começa com a Cris, mostrando uma garota iniciando sua vida de jovem adulta, ela conhece todos os outros personagens-capítulos e a história se molda nesse romance entre quatro pessoas. O problema com esse capítulo é que a personagem é fraca demais, não corresponde com sua própria construção de imagem. Neste capítulo o tema relação abusiva, estupro e consumo de drogas são abordados.
Por este capítulo eu largaria a leitura, é tudo muito ficcional demais. Os atos da Cris não correspondem a realidade dos temas abordados e fica tudo muito, mas muito detestável.
O capítulo Raí é o capítulo livro. É a pessoa que é o início, meio e fim da história toda. Ao terminar de ler este romance, me parece que só havia Raí e Bernardo e todo o resto foi construído para dar volume. Neste capítulo você sente o quão forte e delimitado é o personagem. O tema abordado é a tortura, com grande, forte e direto referencial ao anime Tokyo Ghoul. Indico você assistir este anime e revisitar Raí para comparar as semelhanças.
O capítulo de Bianca é forçado. Mostra o suspiro dos quatro após tudo desabar. É uma cena estrangeira, muito sexual e que tenta desemaranhar os sentimentos dos personagens, sim, tudo isso num suposto mistério traumático e psicótico de Bianca. A pessoa fodona, rica, organizada e sempre à frente é tomada por uma mulher que espera, pacientemente apaixonada e ainda rica. O tema aqui é trauma, eu acho.
No ultimo, temos Bernardo, que é o spin-off de tudo isso. Fala do pós-Bianca, de maneira única e pessoal, a trama se desenvolve como episódio de série, chega num momento que você nem lembra que existiu Cris ou Bianca. Aqui novamente você sente que tudo não passa de Raí e Bernardo.
Por ultimo, mas não tão importante, o desfecho em quadros de toda confusão do capítulo Bernardo. O tema é doidice. Tá tudo tão recortadamente confuso que você só vai. E no final diz "tá bom".
O livro não é difícil porque beira ao absurdo, é rápido e seco quando não deveria. Parece que havia um prazo a cumprir e um tema já sólido que não conseguiu ser explorado. Cris é altamente irrelevante até quando supostamente deveria ser o tino do desfecho.
Em vez de ter uma citação de aprovação do Raphael Montes na capa "O universo jovem-adulto com sexo, drogas e rock n’roll embalados por toques de absurdo" que é altamente um produto que você não compraria depois ler este livro, porque se ele leu este livro eu me pergunto se é o mesmo livro.
Talvez devesse constar aviso de gatilho em vez desta nota convidativa ao estilo sessão da tarde.
O livro é facilmente adaptável para roteiro, já que traz muitas passagens espedaçadas que você leitor é obrigado a supor o que acontece, e isso me fez reler vários trechos por vezes para ter certeza que não pulei nada, já que sentido não fazia. As cenas costumeiras de pesadelos acontecem por vezes, deixando um tanto confuso no começo e enfadonho no final. "Já sei que é pesadelo" você pensará, e estará correto.
Lembrando que é, também, mais um livro com desgraça com os LGBT+.
Como falei: a capa é bonita.
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