Raquel 22/01/2021
Uma obra bela e delicada
"Olhe nos meus olhos" é uma autobiografia de John Elder Robinson, portador da Síndrome de Asperger. Na época da infância e juventude de John, hoje com 63 anos, não havia o diagnóstico desta síndrome e ele nos conta como foi sua vida sem saber da sua condição.
John era de uma família que tinha tudo para ser perfeita: o pai era professor de uma universidade renomada e a mãe cuidava dele e seu irmão mais novo. Porém, a predisposição do pai ao alcoolismo e à depressão, juntamente com a condição mental da mãe (que foi internada diversas vezes em sanatórios) e a incompreensão de ambos do porquê o filho agia de modo estranho fez de sua vida um inferno sem fim até que ele completou 17 anos e saiu de casa.
Assim como muitos autistas e portadores de Asperger, a falta de tato social era compensada com uma genialidade incrível no campo da ciência. John tinha extrema facilidade com eletrônica, tendo trabalhado no laboratório da universidade que seu pai lecionava desde criança consertando aparelhos eletrônicos. Apesar deste dom, John preferiu não se graduar na faculdade, mal tendo terminado o ensino médio com notas medianas. Porém, essa habilidade o possibilitou sair de casa, voltando seu dom para a música, onde foi capaz de produzir efeitos sonoros e visuais de guitarra e amplificação, trabalhando e viajando com bandas como Kiss e Pink Floyd.
Além destas experiências incríveis trabalhando e sendo reconhecido por bandas renomadíssimas do rock, John também conta fatos cotidianos praticamente desde que ele possui memória. Ao contar ele se lembra, sente novamente e nos faz sentir como era difícil ser incompreendido. Ele, assim como a maioria dos portadores de Asperger sabe que age de modo estranho e gostaria muito de agir de modo dito normal, porém não consegue, simplesmente não sabe como.
Ao longo da sua vida o autor foi observando e repetindo o que era considerado socialmente aceitável até que um amigo psiquiatra, observando hábitos peculiares como o amor exacerbado por máquinas e o fato de John não olhar nos olhos de quem conversa, o diagnostica já aos 40 anos. A partir de então, John, que já se esforçava para levar uma vida normal com esposa, filhos, emprego estável e amizades duradouras, começou a ter ciência e a compreender seu comportamento, escrevendo sua biografia ao final dessa jornada de autoconhecimento.