Thaís @thanoslivros 01/08/2017Simplesmente Apaixonante"Arrebatada pelo desânimo, ela deixou o livro de lado. Em seguida, puxou o lençol para se proteger da brisa fresca, presente da madrugada. Mas antes que conseguisse se cobrir por inteiro, deparou-se com o contraste gritante entre a alvura da colcha e o tom da pele de sua mão.Claro e escuro. Branco e preto.
Certo e errado. Henrique e Malikah."
Ainda menina, Malikah chegou à Fazenda Real, de Euclides de Andrade, e passou a viver separada da mãe. Adana foi ajudar nos serviços da casa-grande e Malikah ficou junto aos demais escravos na senzala. Sozinha e desprotegida se viu obrigada a encarar a realidade do jeito que era possível e cresceu sem entender o porquê dela e de seu povo sofrerem tantos maus tratos. Em meio a tanta disparidade, Malikah encontrou um grande amigo e, alguns anos depois, seu grande amor: Henrique, filho do dono da fazenda. Um amor verdadeiro, mas que as “tradições” da época foi capaz de abalar. Com um filho dessa relação e ainda sofrendo muitos castigos, Malikah, conta com a ajuda de seus grandes amigos, Cécile e Fernão, para fugir da Fazenda Real e tentar construir uma nova vida. Mesmo após a fuga, Malikah, ainda magoada, tem que aprender a aceitar a presença de Henrique. Por perto, ele se mostra cada vez mais decidido a ter a confiança de sua amada de volta e a conquistar o amor de seu filho, Hasan.
Depois de O Amor Nos Tempos do Ouro, Marina Carvalho traz mais um romance histórico ambientado no Brasil. Em A História de Malikah temos como protagonista uma escrava africana. Como definir Malikah? Heroína? Guerreira? Sábia? Sim! Tudo isso e mais! Amiga, fiel, mãe, protetora... Mulher! Uma mulher cativante e inspiradora. Uma mulher que sofreu como muitos, mas que agiu como poucos. Com toda dificuldade que enfrentou, escolheu não se abater e correr atrás daquilo que se considerava digna. E era! Ao ser abandonada por Henrique, por uma artimanha do pai dele, Malikah só quer dar um futuro melhor para Hasan. A mágoa a acompanha e, mesmo ainda nutrindo amor por Henrique, acredita que não conseguirá voltar a aceitá-lo. Henrique, está decidido que a quer de volta. Percebeu que cometeu um erro e está decidido a mudar a visão que Malikah tem dele. Malikah vai passar um período de grande dúvida, dividida entre ouvir o coração ou continuar deixando que a mágoa prevaleça. Além disso, ainda tem de conviver com a sombra de um passado que insiste em incomodar: Euclides da Cunha, seu algoz. Sabe aquele vilão que você tem vontade de entrar no livro e esganar? Então, é ele!
" O animal enfurecido às vezes também raciocina. E quando o faz, emprega requintes de crueldade, pois não tem apenas a intenção de matar; ele quer ver sua presa padecer, lenta e dolorosamente."
Marina nos leva a acompanhar essa história belíssima onde desenvolve a força da mulher, as relações de grande amizade, o amor incondicional pelo filho e também o que é importante para prevalecer o amor.
O que mais mexeu comigo nesse livro, além da linda (LINDA!) história de amor, foi perceber o quanto as personagens femininas demonstram força mesmo com tudo e todos contra. Mesmo numa época em que as mulheres não tinham voz e as tradições favoreciam os homens, as mulheres dessa história fazem com que sejam as mais fortes. E essa força não é mostrada apenas na hora que encaram um malfeitor, ou um senhor de terra, ou lutam pelo que desejam. Temos essa força até mesmo na mais dura decisão de anular seus próprios anseios em favor de um filho. Esses fatos, tão presentes em todo momento da história, são mais um ponto que engrandece o enredo.
Tá. Você deve estar se perguntando e quanto ao mocinho, não é mesmo? Ok! Vamos lá. O Henrique é lindo. Apaixonante, sim! E, pelo menos pra mim, o que mais chamou atenção é que ele não é um mocinho convencional. Não. Perfeito ele não é. Encantador, sim. Perfeito, não. Errou e feio. Mas, quando percebe que enveredou por um caminho que iria tirar sua felicidade, voltou e foi capaz de se redimir e fazer de tudo para que não perdesse seu amor de uma vez por todas. Não forçou, não impôs sua presença de forma grosseira, apenas demonstrou com atitudes e palavras que não era mais um filho dominado pelo pai e que poderia sim fazer Malikah feliz. E, assim, ganhou meu coração.
"Conforme tuas crenças antigas, somos predestinados, como a noite e a lua, o mar e suas espumas. É mais que amor, Malikah, muito mais."
Outro fato que deixa o leitor ainda mais conquistado por essa leitura é a forma como a Marina desenvolve todo o enredo. Aliás, a escrita da Marina está esplendorosa. Nos conduz àquele ambiente de forma natural e gostosa. Há muitas passagens fortes, impactantes e, principalmente, emocionantes e, com uma escrita fluida somos levados a uma leitura rápida e prazerosa. Envolvente nos momentos doces e extremamente instigante nos momentos de mais tensão. Além disso, o grande levantamento histórico, o aprofundamento nas crenças e nos costumes do povo africano é enriquecedor. Dá um grande brilho à história. Acredito que esta pode ser uma de suas melhores obras, pois está incrível, arrebatadora, apaixonante.
Portanto, essa leitura é mais do que recomendada. Não só para aqueles que apreciam um belo romance, mas também para os que gostam de uma história em que os personagens fazem acontecer. Uma história repleta de amor, valores e muito, muito encantamento. Amei cada detalhe do livro. A história é emocionante, reflexiva e apaixonante. Já entrou pra listinha de livros favoritos e me fez ficar ainda mais fã da Marina.
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