Gildo 08/02/2020
Respira por aparelhos
O mais fraco volume da série Wild Cards até agora. Boa parte do sucesso da saga está calcado em personagens carismáticos. Diferente do tempo do cinema e da televisão, quando o apego a um personagem tem de ser mais fácil, imediato, na literatura há mais tempo para isso. Lemos os pensamentos dos protagonistas, sabemos a exatidão de dor, incerteza, gratidão, confusão. Por isso, é difícil não se identificar, em algum momento. Mas "Luta de Valetes" consegue o improvável.
Mesmo com incursões longas e detalhadas sobre a psiquê dos personagens, a maioria de ases e curingas neste volume é chata. Nos livros anteriores, há uma boa mescla de carisma e de tédio em determinados momentos; neste a proporção está muito desigual. Quem se importa com o preguiçoso que vira dragão ou com Estranheza? Claro que, conhecendo-os melhor, eles tornam-se personagens esféricos, mais interessantes do ponto de vista ficcional. Mas... ganham nossa simpatia? Não parece. Além disso, há uma certa forçação de barra para que os arcos se encontrem, não está fluido o desencadeamento dos acontecimentos - o que já foi um dos destaques nesta série, em outros momentos.
A gangue dos Garças e Punhos Sombrios já era uma história 'pulável' em outros volumes. Neste, não dá. Mas é sonolento mesmo assim. Um dos capítulos, sobre uma disputa judicial da guarda de uma criança é especialmente muito enfadonha, ainda que ganhe alguma ação no final.
As últimas cinquenta páginas são um alívio, primeiro porque parte dos arcos abertos começa a se fechar, ainda que forçadamente. E, segundo, porque a presença de Tachyon e Blaise melhoram o rol de personagens cansativos.