Carous 11/03/2020Eu não esperava que esse livro fosse que conquistar tanto assim. Ele é bem narrado, tem personagens interessantes, os mistérios conseguiram prender minha atenção e a escrita de Shea Ernshaw criou o clima sinistro que a história pedia.
Gostei do modo como a autora construiu o livro; com capítulos focados na história de fundo das irmãs Swan, outros na de Bo e na de Penny.
Sem dúvidas uma história muito bem pensada pela autora, mas terminei o livro decepcionada e não consegui engolir algumas decisões dela:
1) Fiquei com dó da Penny. Ela é uma personagem muito simpática. A gente não a conhece verdadeiramente, mas o pouco que foi mostrado me fez ter simpatia por ela. Mas ela termina como prêmio de consolação do Bo quando os dois poderiam ter ficado simplesmente amigos. Ela merecia muito mais do que teve;
2) COMO NINGUÉM NUNCA OUVIU FALAR NUMA CIDADE QUE TODO VERÃO RECEBE A VISITA DE 3 FANTASMAS QUE AFOGAM ADOLESCENTES?
E ainda assim, o retorno dos espíritos das irmãs Swan é a maior fonte de turismo da cidade?
Isso seria de conhecimento público SIM. Nem a explicação de Sparrow é uma cidade que parou no tempo, portanto não se modernizou a ponto de ter uma torre de telefone ou internet e os habitantes não terem sequer um celular ou uma câmera é satisfatório.
Shea tentou contornar essa situação, e gostei dela ter tentado, mas quanto mais se justificava, pior ficava.
3) O que há de errado com os turistas que visitam a cidade justamente nesse período colocando suas vidas em risco, e com os habitantes que nunca cogitaram ir embora de lá?
O retorno das irmãs Swan não é nem uma lenda. Há 200 anos, elas voltam, invadem os corpos das jovens para poderem afogar os rapazes da cidade como vingança. HÁ 200 ANOS. Sem falha. Nem os turistas são poupados disso, mas as pessoas continuam vindo à Sparrow. Por quê?
4) Todos da cidade sabem que a maldição é mais do que um boato. Ainda assim:
- os jovens circulam livremente pela cidade;
- os jovens organizam festas perto da praia perto do horário do início do solstício e ninguém parece se incomodar;
- não há reforço policial durante essas três semanas;
Que tipo de polícia e que raio de prefeitura é essa que não cuida dos próprios cidadãos nem do pessoal de fora?
- cadê os pais desses adolescentes que não os trancafiam em casa para que seus filhos não morram nem suas filhas recebam os fantasmas das irmãs?
As festas que os adolescentes faziam... parecia deboche com os familiares que perderam seus filhos nos anos anteriores... e todo mundo parecia ok com isso. Com TUDO isso.
5) Shea se esforçou muito para retratar Hazel Swan como uma moça de nobres intenções enquanto suas irmãs, Aurora e Marguerite, foram pintadas como vacas mãs e vingativas, mas não conseguiu me enganar. No fim, as duas irmãs estavam certas em buscar vingança contra a cidade. Por baixo da faceta de moça apaixonada com nobres intenções, eu percebi que Hazel não passava de dissimulada egoísta. Ou, nas palavras da Bianca do blog Queria Estar Lendo, uma cuzona que se faz de vítima.
Digo, a culpada pela morte delas e início da maldição foi a Hazel.
A culpada pelo que houve com a Penny, foi a Hazel.
A culpada pela morte do irmão de Bo foi Hazel.
Mas a sonsa só abriu o bico quando as irmãs a colocaram contra a parede. Senão a maldição teria terminado e o Bo ainda acharia que Aurora e Marguerite é que tinham culpa no cartório. E Hazel é tão cretina que eliminou os espíritos das irmãs, mas não o dela porque ela simplesmente não conseguia DESAPEGAR e entender que ela estava MORTA.
Fiquei decepcionada. Achei que Shea fosse trabalhar como o machismo, o extremo conservadorismo e o preconceito religioso foram a verdadeira causa da morte das irmãs. E que no final, a cidade finalmente reconheceria que errou e a vingança das Swan teria o fim.