z..... 08/07/2017
Obra preciosa, disponibilizando referencial histórico pouco difundido e, em termos gerais, desconhecido pelo povo amapaense. A abordagem apresenta pesquisa sobre o centenário da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amapá este ano, tratado também em valorosas publicações recém lançadas, mas com diferencial de estudo mais abrangente, com resgate histórico da trajetória do catolicismo e de outras denominações evangélicas no estado.
Os autores, pesquisadores vinculados à faculdade FATECH, traçaram um panorama que permite a percepção da igreja na Amazônia e Amapá, ressaltando fases, principais aspectos relacionados a elas e atual situação do "assembleianismo" amapaense. Aspectos explanados em quatro artigos de maneira sucinta e com riqueza e ineditismo de informações, principalmente para a classe estudantil.
"Breve História da Igreja Católica no Amapá" é o primeiro momento e o que chamou minha atenção foram as considerações sobre a ação missionária na Amazônia, marcada pela expulsão dos jesuítas na metade do século XVIII (1759). Nas considerações, essa ação deixou as missões suscetíveis e propiciou a formação de um catolicismo informal com a incorporação de tradições, ritos e festejos até então não oficializados, mas aceitáveis na adesão popular (o livro não cita, mas me veio como exemplo a visão sobre a festa em Mazagão ou o reconhecimento de santos vindos do apelo popular, que ultrapassaram uma hierarquia administrativa em certo momento não reconhecida).
Outros aspectos importantes foram a oficialização do catolicismo como religião do país (entre as constituições de 1824 e 1891, criando raízes para conflitos que se estabeleceram na abertura para outros credos por criar uma mentalidade sobre o legalmente permissível e o subversivo, transmitido de forma tradicional entre as gerações); o engajamentos nas causas sociais (notáveis principalmente no século XX, como a Pastoral da Terra); e a reformulação dinamizada pelo Movimento Carismático.
Em Macapá, destaque para a Igreja de São José (o prédio mais antigo da cidade), os conflitos com a chegada dos primeiros missionários evangélicos e a história do estabelecimento do Círio de Nazaré.
Em "Breve História das Igrejas Evangélicas no Amapá" é apresentado o pioneirismo dos missionários da Assembleia de Deus (algo que tem sido mostrado em maior destaque esse ano), por isso me instigou mais a leitura do início de outras denominações (como os Presbiterianos nos anos 40 e os Batistas nos anos 50). A partir desse artigo o foco é voltado aos assembleianos e, a exemplo do que aconteceu em outras partes do Brasil e em histórias desde o início da denominação, houve dissensões entre os líderes no Amapá, gerando separações. Fato decorrente de desacordos ministeriais, que deram origem a duas convenções estaduais de pastores assembleianos (CEMEADAP e UFIADAP, que tem suas histórias contadas em aspectos que não são bonitos, mas presentes na trajetória denominacional e de importância para estudos).
"As transformações na Assembleia de Deus" é o terceiro artigo e um dos mais interessantes do livro, por mostrar a identidade atual dos assembleianos no Amapá. Duas coisas se destacam: a educação teológica de cunho acadêmico valorizada e incentivada entre os líderes, e a admissão de pastoras no ministério. Esses aspectos se ressaltaram na convenção de ministros ligados principalmente à UFIADAP que, ao lado de outra convenção de pastores do Distrito Federal, são as únicas que fazem a consagração de pastoras no ministério da Igreja Assembleia de Deus. Temos congregações que são lideradas por pastoras e é ressaltado que a aceitação é grande, apesar do conservadorismo ainda presente.
O capítulo tem uma parte também muito interessante sobre a participação de mulheres no ministério nos textos do Novo Testamento. Deixo em registro as profetizas filhas de Felipe (Atos 21:8-9), a docencia na igreja de Priscila (Atos 18:26) e o trabalho assistencial de Tabita, também chamada de Dorcas (Atos 9:36-43). Destaque para Gálatas 3:28, sobre a ação na igreja.
"O crescimento das Assembleias de Deus no Brasil e Amapá" mostra um decréscimo no movimento pentecostal em termos gerais, baseado em dados do IBGE. O texto cita aspectos que favoreceram o avivamento em primeiro momento da chegada dos pentecostais, relacionados à valorização dos marginalizados (pobres, negros, índios, ribeirinhos, analfabetos) e, principalmente, entrega a um propósito de vida que para muitos não parece mais novidade hoje. Penso em frieza espiritual quando o evangelho parece encoberto em seu valor aos olhos de uma sociedade que procura enquadrá-lo a seus interesses e não ao real objetivo de viver em comunhão com Deus.
O livro tem esses e outros aspectos muito interessantes para reflexão e, sobretudo, de conhecimento da trajetória da igreja evangélica assembleiana no Amapá.
Não gostei de alguns pontos na organização, pois esperamos um pouco mais de cuidado em obra acadêmica. Erros de digitação são suscetíveis, mas são crassos quando relacionados a datas importantes (como a chegada dos assembleianos em Belém e Macapá em alguns momentos - agravantes para pesquisadores em descoberta das informações).