Emanuel.Müller 12/01/2023
Eis uma obra capaz de surpreender a quem a lê. Mas só surpreende a quem a lê com o coração.
Quem diria que esta “fábula” ou estória não somente conto de criança, mas um dos mais belos e profundos escritos que já li, ornados por palavras redigidas de forma tão simples e tão acessível. Dizem que este é o tipo de livro que quando se lê na infância, enxerga-se diante uma ótima, enquanto quando se lê na fase adulta, a visão sobre o escrito ganha novas cores e uma nova compreensão. Eu não sei como eu enxergaria se eu tivesse lido esta obra na íntegra quando criança. Na minha infância – não me recordo com que idade – li até uma parte esta estória, mas quando eu não gostava de ler, não cheguei a lê-la até o final. O que é uma pena! A leitura me dava sono. Quando passei a ter o hábito da leitura e a gostar de ler – graças a Deus e as insistências de meus pais, embora o gosto pela leitura fosse algo a se desenvolver aos pocuos – eu tinha um grande preconceito com esta obra e torno as palavras da booktuber Isabele Lubrano as minhas, eu enxergava como uma estorinha de criança e algumas frases que soavam como ditos de autoajuda.
Contudo, com o meu progresso nas leituras e no meu conhecimento filosófico e teológico, pouco a pouco tive um desejo e uma curiosidade de ler este livro, além das insistências feitas pelo meu pai em lê-lo. Acredito que os escritos teológicos de Hans Urs von Balthasar – “Si no haceis como este niño...” – e de Santa Teresa Benedita da Cruz (Santa Edith Stein) – “O Mistério do Natal” – influenciaram de alguma forma na vontade de lê-lo, embora tais obras nem mencionem o escrito de Saint-Exúpery.
Presumo que o leitor ou a leitora desta resenha não esteja interessado no meu histórico de leitura sobre a obra, entretanto preciso informar desde já que esta resenha apresentará não a ótica em si do autor, mas o ponto de vista de um rapaz católico cristão que enxergou a estória com os olhos da fé e quiçá da filosofia. Espero que esta resenha possa despertar de alguma maneira a leitura deste livro, aos que creem ou não no mesmo credo que eu, e aos que leram a obra, espero que este meu escrito possa de alguma forma despertar em vós o desejo à releitura desta estória.
Intriga-me saber qual é o significado daqueles homens solitários em seus planetas. Refiro-me aqui sobretudo ao rei que não tinha súditos, ao vaidoso que não tinha ninguém que o aplaudia, o bêbado que era solitário com o seu vício, o empresário perdido em sua avareza e o homem que acendia e desligava a lanterna de seu planeta (a respeito deste último, não tenho parecer muito claro a ele). Poderíamos nos perguntar, por que estes homens não tinham amigos?
Temos que recordar que o Pequeno Príncipe deseja ter amigos, isto torna-se claro no decorrer da estória – não entendam tal revelação como spoiler, pois acredito que a leitura da obra é mais frutífera com ou sem revelação, pois afinal de contas, há spoiler de clássicos se o essencial também se encontra na forma de sua escrita e no modo como o autor desenvolve a estória? – mas pode o menino receber amizade de tais homens que vivem sozinhos em seus planetas? Que significado tem deles habitarem solitariamente?
A explicação para tal questão talvez possa se encontrar nos pecados que os assombram e que os afastam da amizade com outras pessoas. O pecado, a começar pela soberba, faz com que a pessoa se centre em si mesma e muitas vezes leva ao deprezo e ao afastamento do próximo. O primeiro mandamento da lei de Deus que ensina aos seus filhos e servos a “amá-lO sobre as todas as coisas, e também ao próximo como a si mesmo” é violado com o pecado. Mas que vícios e pecados assombram a cada um desses homens supracitados?
O rei que não possui súdito talvez seja o soberbo. É um homem tão centrado em si, que não possui ninguém que queira estar em sua companhia. Apesar dele parecer ser simpático, o que mais intriga neste rei é o fato dele reinar num reino de ninguém e pensar ter o domínio do cosmos. Será que esta não seria uma outra forma de entender que ele queria ser como deus, tal como Adão e Eva queriam ao comer o fruto proibido no Éden? Ser como deus sem Deus. Dominar sem a presença do verdadeiro Deus do Universo. Será que não é isto que quer o rei da estória, tomar posse do reinado do verdadeiro Rei da História?
Muito podemos interpretar com a imagem deste rei solitário e sem súditos, mas não quero dizer que não possamos extrair alguma verdade de seus ditos. Vejamos um deles: “Se eu ordenasse [...] que um general se transformasse numa gaivota, e o general não me obedecesse, a culpa não seria do general, mas minha” (EXÚPERY, 2018, p. 35). Poderíamos talvez declarar loucura da parte de um monarca que ordene o general a se tornar uma gaivota, porém extraiamos outro ponto a se refletir do dito do rei, ele não pode ordenar algo que os seus súditos não sejam capazes de realizar, pois se o fizesse, estaria sendo injusto e diminuiria sua dignidade enquanto rei ao ordenar algo insano e impossível de ser realizado.
O mesmo poderíamos refletir a respeito de Deus. Muitos poderiam pensar que é impossível seguir seus mandamentos, mas Ele envia seu Filho, e o Filho nos mostra o quão possível é realiza-los plenamente, sem violá-los em vida. Entretanto pode vir um sujeito em reivindicar “Mas Jesus é Deus. Ele continua o Espírito Santo em sua natureza humana que lhe permitia seguir os mandamentos do Pai em sua plenitude”. Não há problema. Jesus enviou o seu Espírito para que por meio dos sacramentos, a começar pelo batismo, a lei de Deus pudesse ser realizada em sua plenitude em nós, pois ela seria inscrita em nosso coração e o Espírito nos conduziria ao seu pleno seguimento. Em suma, desculpa não há para sermos discípulos do Amado!
Evidentemente que este seguimento dos mandamentos ocorre mediante a uma cooperação com a graça santificante, ou seja, não basta somente a ação salvífica de Deus, Ele quer que nós cooperemos com a nossa salvação. Ele é quem salva, mas nós temos que cooperar com a sua obra de salvação. O Noivo disse sim, mas a noiva – que é a nossa alma – também tem que dar a sua resposta, que tornar-se-á definitiva na hora da morte.
Mas voltando a estória do rei, ele vive sozinho por causa da soberba. É tão fácil ver pessoas egoísta serem tão solitárias, pois elas não tão cheias de si que não são dispostas a se entregar, a renunciar a si mesmas e a se sacrificar por amor ao próximo. Vide o exemplo Ivan Illitch Pralinski, da obra “Uma anedota infame” de Fiódor Dostoievski, que nem foi capaz de agradecer a mãe de seu empregado que cuidou dele quando ele passou mal. Será que um egoísta pode ser grato? Acredito que isto depende do nível de egoísmo, dependendo da quantidade de veneno encontrado em seu coração, o amor se torna quando tão raro dependendo da pessoa. Lembremo-nos que foi a soberba que fez com que Lúcifer se torna de anjo de luz para ser príncipe das trevas, o próprio demônio (chefe dos diabos). E a soberba não levou somente a ele, como também a terça parte dos anjos que ele levou consigo (vide como o Irmão Trovão aborda em seu livro “A Origem do Mal e a Queda dos Anjos”).
O vaidoso quer ser aplaudido, admirado e louvado. Mas por quê? Ele quer ser louvado por ele mesmo. Mas a vaidade não foi a que verdadeiramente levou a queda de Lúcifer? É importante que se fique claro que a vaidade é uma consequência da soberba e não ao contrário. Para querer tomar o lugar de Deus e ser como deus não precisa de atos de vanglória e ostentação, basta querer ter sempre razão, ser uma pessoa manipulativa e entre outros tantos atos que nem precisam de vaidade para ocorrer. Portanto, em outras palavras, a vaidade é uma consequência da soberba. Ninguém quer estar perto de alguém que se acha lindo, grandioso, ou melhor dizendo, alguém que pensa ser tudo.
Digo, pois, por ser músico, que a vaidade é o pecado que todo o músico é tentado a ter em alguma medida. Principalmente se for violinista. Estou no direito de dizer isto, porque sou violinista. Coloque 10 violinistas em uma sala, verão que cada um tocará o concerto mais difícil que souber, seja para se aparecer ou para estudar. Comento este exemplo para ser um pouco cômico, mas convenhamos, a vaidade é uma tragédia, pois para fazer com que um homem fique sozinho em seu planeta sem ser reconhecido, porque este se acha, revela que é um dos pecados capitais mais triste que se tem. Quem quer ficar perto de uma pessoa assim?
O bêbado é sozinho por causa do seu triste vício que o aprisiona em si mesmo. Vivemos em um mundo que ensina que o que importa é ser feliz e que para ser livre tem que se fazer o que se quer. Entretanto, a filosofia e a teologia ensinam que quando a pessoa se dispõe a fazer o que vem na telha, de uma forma totalmente deliberada, corre o risco de cair nos vícios mais infames. O libertino se perderá em adições sexuais (fornicação desenfreada, pornografia, orgias), tentará sair, mas será difícil, pois a carne passa a se tornar um organismo próprio que quer se apossar sobre as decisões da alma. O mesmo ocorre com o vício das drogas e do próprio álcool. A pessoa fica tão presa em si mesma que deixa de ver ao próximo. O libertino passa a ver a outra pessoa com os olhos da cobiça. O drogado verá com os olhos funestos que mendigam mais uma das substâncias que o deteriorará. E o alcoolatra vê ao próximo com uma tristeza.
Dependendo da tragédia do vício, o alcoolotra passa a ser uma espécie de Smigle/Gollum , ter uma personalidade normal e outra mais demoníaca. Não é em vão que é possível se encontrar viciados nestas substâncias capazes de espancar as pessoas que ele ama, ou julga amar. Talvez um dos maiores e tristes exemplos disso é a conscientização do Alex, do filme Madagascar, que ele por um momento de irracionalidade quis matar e comer o seu melhor amigo. Será que o viciado não pensa o mesmo? Talvez possa depender do caso, mas é inegável de reconhecer que alguém que é viciado em algo se torna refém de si mesmo. Em suma, quem pensa ser livre ao fazer o que se quer, torna-se escravo de si mesmo.
O empresário é a imagem do avarento. Alguém que se assemelha muito ao Scrooge, da obra “Uma canção de Natal” de Dickens, que só pensa em trabalho e em seus negócios. Talvez a pessoa que deseja possui e torna-se ambiciosa, cobiçando cada vez mais dinheiro, fortuna e bens, acaba trocando Deus pelo dinheiro. Uma pessoa pode ficar sozinha só por querer ficar somente com o dinheiro e com o trabalho. Exemplos não faltam além do próprio Scrooge, que teria apenas o seu empregado como único que viria a frequentar o seu velório; e o exemplo dos protagonistas do filme “Click” e “Tudo bem no Natal que vem”, que preferia muito mais o trabalho do que a família e o preço qual foi? Foi a solidão. A partir daqui vemos o quão certeiras são as palavras do Apóstolo: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (ITm 6,10).
Comentei acima a respeito dos homens que vivem sozinhos, embora tenha faltado um, mas este último é o que me careceu um entendimento de minha parte.
Há uma parte da obra, quando o autor comenta a respeito das sementes que me fez lembrar sobre os dogmas cristãos. Muitos pensam que a Igreja criou dogmas no decorrer da história, contudo esta é uma inverdade. Pois a Igreja, Esposa de Cristo, não criou dogmas, foi Cristo que plantou os dogmas desde o nascimento de sua Igreja. Lembremo-nos das palavras do Redentor: “Há muitas coisas que ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e vos anunciará as coisas que virão” (Jo 16, 12s).
O Espírito Santo - como bem ensina Raniero Cantalamessa, em seu livro “As Primícias do Espírito Santo” –, por ser o Espírito de Cristo, não somente preserva as verdades da fé, como as revela e as atualiza para nós termos cada vez melhor conhecimento da verdade. Vejam que no início, por mais que os Apóstolos soubessem que Jesus era o próprio Deus encarnado, eles não tinham a mesma compreensão complexa da Trindade e da União Hipostática que um Santo Agostinho e um Santo Tomás de Aquino teriam séculos depois. Por quê? Porque o Espírito Santo revela aos poucos, levando cada vez mais a Igreja a uma compreensão mais madura de seus dogmas. Por isso as palavras de Exúpery, ao dizer que “[...] as sementes são invisíveis. Elas dormem nas entranhas da terra até que uma cisme de despertar. Então ela se espreguiça e lança, timidamente, para o sol, um inofensivo galhinho” (EXÚPERY, 2018, p. 20). Os dogmas são como as sementes, elas são plantadas por Cristo e regadas pelo Espírito de amor do Pai e do Filho, que é o Espírito Santo. Quando vê, aquela semente invisível aos primeiros cristãos, torna-se levemente aparente a eles, mas muito evidente e claro com as gerações futuras, que contemplam aquela semente que antes era invisível aos olhos humanos, agora não mais, pois tornou-se uma majestosa árvore cuidada pela Igreja e pelo Espírito de Cristo.
O ápice da estória reside no encontro do Pequeno Príncipe com a Raposa. Longe de ter um simbolismo negativo à imagem deste belo animal, a Raposa apresenta, nesta obra, alguns dos ensinamentos mais belos e profundos que podemos colher dela, a começar com o significado da palavra “cativar”. Quem cativa cria laços com a pessoa. Em uma explicação melhor detalhada, nas palavras da Raposa ao menino:
“Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
[...] Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco. Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...” (EXÚPERY, 2018, p. 66s).
A rosa do Pequeno Príncipe não é uma rosa comum, é a rosa. Aquela raposa, não era uma raposa comum, é a Raposa. O Pequeno Príncipe para Exúpery não é mais um menino como os outros, é o menino, o Pequeno Príncipe. Cada pessoa que nos cativa, e que amamos, seja pela amizade ou pelo amor, torna-se especial para nós. A pessoa amada não é mais uma moça dentre as demais, não! Ela é única! Se ela gosta de rosas, as rosas farão a pessoa se lembrar dela. Da mesma forma que para a Raposa que lembra de seu amigo, o Pequeno Príncipe, ao olhar para os trigos, por quê? Porque os trigos lembravam-na da cor de cabelo de seu melhor amigo que ela cativou em seu coração.
Seria Jesus mais um mestre espiritual que muitos outros, tal como Buda, Maomé, Moisés e etc., como pregam algumas ondas da Nova Era e algumas pessoas das modas do mundo? Para quem crê em Jesus e O ama, Jesus não é mais um, Ele é único. Ele não é um deus qualquer, Ele é o Único Deus. Quem sabe disso, se deixou ser cativado pelo amor do Senhor e o experimento. E quem experimentou o amor de Deus, sabe que é amado e não há de esquecer. Contemplará a criação e sempre se lembrará dEle, dAquele que deu a sua vida por ela e por nós. Jesus não é mais um, mas sim o Amado, que amou tanto nós que deu o seu sim na cruz, e como já disse anteriormente, Ele espera o nosso sim. Deus nos ama desde toda a eternidade, desde sempre Ele é cativado por nós, tanto é que nos criou e morreu por nós, para que nEle tenhamos vida. E Deus quando cria, não é indiferente a nós, mas estabelece uma relação conosco (sobre a criação e a relação de Deus para conosco, vide RAVASI, Gianfranco. Darwin e o Papa: o falso dilema entre evolução e criação. Tradução de Federico Guglielmo Carotti. – São Paulo: Edições Loyola, 2021. p. 13s).
Antes de encerrar esta longa resenha, reflitamos as palavras da raposa: “[...] só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (EXÚPERy, 2018, p. 70).
Certa vez ouvi de uma homilia do Padre Paulo Ricardo - que pode ser tanto inspirada nesta obra, como também pode se tratar da mesma verdade universal abordada pelo sacerdote e pelo autor do livro – a respeito que o essencial é verdadeiramente invisível aos olhos. O exemplo por ele dado é o do namorado que dá presentes a sua amada. O importante não está no presente material, mas na intenção que é invisível aos olhos. Pois o presente foi o sinal, o símbolo de seu amor por ela.
Se o essencial é invisível aos olhos e só se vê bem com o coração, esta verdade deve ser vivida por quem é cristão. Dom Henrique Soares da Costa ensina, se eu não me engano em seu livro “Encontros de Jesus”, que temos que olhar com os olhos de Deus. Pois olhando com os olhos de Deus, enxergaremos o que é essencial. Para isso, é necessário ter os olhos da fé. Quem não tem fé, acha que a vida é só ruindade. Mas quem tem fé, vê e percebe a operação de Deus nas pequenas coisas do dia-a-dia, a ponto de chegar a conclusão de que, de fato, tudo é milagre. Ver uma flor desabrochar, o nascer de uma nova vida, uma criança a rir, o amor a fluir, o simples ato de poder respirar e etc, não seria tudo isso demonstrações de milagres?
Outro exemplo mais evidente disso se encontra na Santa Missa, onde há o momento da consagração em que as espécies de pão e vinho tornam-se VERDADEIRAMENTE Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo transubstanciados. Mesmo se creres ou não nesta realidade, quem crê enxerga com os olhos da fé e vê que é real, não é simples pão e vinho, embora tenham aparência de pão e vinho, depois de consagrados, agora são Corpo e Sangue do Senhor. Só com os olhos da fé pode se ver esta realidade, assim como somente com os olhos da fé podia se distinguir claramente Jesus dos demais homens. Na Consagração, na Eucaristia e na Comunhão, o fiel pode verdadeiramente entender ainda mais as claras a fala da raposa: “[...] só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (EXÚPERY, 2018, p. 70).
Muitas reflexões podem se extrair desta obra, tal como a abordagem sobre a morte como uma passagem, lembrando-nos de certa forma no modo como o Apóstolo associa a Páscoa com a Paixão do Senhor “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1; vide a abordagem de Raniero Cantalamessa, no primeiro capítulo de seu livro “O Mistério da Páscoa”). Quando a morte é vista como uma passagem e não numa desintegração da existência, a esperança na ressurreição torna-se um consolo, pois sabemos que veremos novamente as pessoas que amamos.
Recomendo a todos a leitura deste livro. Não precisam chegar as mesmas conclusões e reflexões que eu. Está é apenas o meu ponto de vista e minha reflexão sobre a obra que muito aprendi. Nunca imaginei que uma obra literária pudesse me fazer chorar. Pois esta me fez. Não sei se o autor trabalhou artisticamente com a proporção áurea, porque de fato, o ápice da história se encontra no encontro com a Raposa, mas digo uma coisa, se pretendem este livro, não leiam superficialmente, mas leiam com o coração, pois muito pode se aprender com ele, pois ele não é mais um livro, ele é um clássico e é O clássico. Talvez esta obra possa despertar algumas coisas que se tenham perdido em vossos corações, como tudo aquilo que é essencial, e de repente lembrar-vos da vossa criança interior. Pois como disse Exúpery, “Todas as pessoas grandes foram um dia crianças - mas poucas se lembram disso" (EXUPÉRY, 2014, p. 5).
Encerro esta resenha com estas passagens:
“Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede crianças; mas quanto ao julgamento, sede homens” (I Cor 14, 20).
“Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos Céus é para aqueles que se lhes assemelham" (Mt 19, 14).
“Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus. .Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos Céus. E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe” (Mt 18, 3ss).
“Todas as pessoas grandes foram um dia crianças - mas poucas se lembram disso" (EXUPÉRY, 2014, p. 5).
“E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe” (Mt 18, 5).