Calibã e a Bruxa

Calibã e a Bruxa Silvia Federici




Resenhas - Calibã e a bruxa


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thay | @thaysavaldevino 13/05/2020

Sem dúvidas um livro que recomendado para todos aqueles que tem interesse no universo feminino e entre todas as situações que ocorrem há décadas contra nós. Fomos queimadas injustamente. Caladas. Humilhadas. Leitura com uma dose grandiosa de história e filosofia.
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Ingrid_mayara 31/12/2018

O outro lado da história
Quando eu era criança, havia uma professora que era muito temida. Sempre que o ano letivo estava acabando, a gente morria de medo de que no ano seguinte tivéssemos aula com ela. Quase ninguém sabia seu nome, aliás, quase ninguém a conhecia pessoalmente, inclusive eu. Mesmo assim, todos falavam que ela era “uma bruxa de professora”. Fiquei aliviada quando soube que ela estava trabalhando no antigo ginásio, lecionando Ciências.

O tempo foi passando e eu fui para outra escola. Aos onze anos, a turma toda se juntou para participar de uma palestra sobre educação sexual. No fim da exposição, nós, meninas, nos reunimos em volta da palestrante para falarmos sobre nossas intimidades. Senti um intenso nervosismo ao me aproximar, pois ela parecia ser a pessoa mais sábia que eu já tinha conhecido. Ela nos ensinou a fazer um chá feito com ervas que ajudam a diminuir a cólica menstrual. Não me lembro do nome do chá, nem do sabor, mas me lembro do quanto eu torci para que ela retornasse à escola algum dia. Já no ônibus, ao voltar para casa, fiquei alerta ouvindo o pessoal comentar que ela nem era tão má assim. Compreendi que ela era a tal da professora que tanto temíamos no início.

Um dia, eu descobri o motivo de tanto medo: é que essa mulher era estranha aos nossos costumes, afinal, como uma professora se atreve a conversar com jovens sobre tal assunto? Como ela era capaz de dar voz às meninas, se havia tantos meninos ansiosos para serem ouvidos? Por que ela tratava de temas tão espinhosos, se seria bem mais prático desenharmos uma pirâmide alimentar, o ciclo da água, ou então fazermos uma maquete do sistema solar? Que tal decorarmos todos os ossos do corpo humano?

Essas e outras lembranças retornaram esses dias em que li Calibã e a bruxa. Eu poderia ter elaborado uma resenha “decente”, escrito algo considerado mais didático acerca da obra, mas preferi representar o impacto causado quando começamos a conhecer o outro lado da história.

Calibã e a bruxa foi um dos livros mais desafiadores para mim. Li no máximo dez páginas por hora, sempre pesquisando o que desconhecia e os assuntos dos quais não me lembrava.

Recomendo a leitura às netas (e aos netos) de todas as bruxas que não puderam queimar. Você não precisa ler esse livro agora se sentir que não é o momento ideal. Leia o que você quiser, mas não deixe de ler.

Ah, graças a essa “bruxa de professora” e a tantas outras, aventurei-me pela árdua missão de cursar licenciatura.

site: Se quiser me seguir no instagram: @ingrid.allebrandt
Pffanny 31/12/2018minha estante
Fiquei com muita vontade de ler


Ingrid_mayara 31/12/2018minha estante
Esse livro mudou minha vida, espero que você goste.


Lah 07/03/2019minha estante
Que relato bonito! Me deixou ainda mais inspirada para lê-lo.


Edméia 14/03/2020minha estante
*Ingrid , sou professora e minha irmã diz que sou uma bruxa ! Não sei. Prefiro calar sobre isto ! Este livro me interessou porque fico estarrecida ao constatar que em pleno século XXI , terceiro milênio , ainda temos muitas mulheres que são escravas de falsas crenças , de todo um sistema social que deseja ver-nos caladas e inseguras e cabisbaixas e ... vou adquirir bons conhecimentos lendo este livro ! Obrigada pela sua resenha aqui ! Boa sorte na sua, na nossa profissão !!! Apesar de tantas dificuldades , realmente , ela VALE O NOSSO ESFORÇO !!! Um abraço. Fiques com Deus. Boas leituras.


Ingrid_mayara 18/06/2020minha estante
Oi, Edméia! Fico feliz por você ter gostado da resenha. Boa leitura!




Kiki 05/10/2021

Livro maravilhoso
Que livro maravilhoso, quanto conhecimento me trouxe!
Silvia Federici, através de suas pesquisas, deu explicações que me levaram a tantas reflexões. Esclareceu tantos por quês; além de me abrir os olhos para muitas questões, e não só questões relacionadas às mulheres, mas questões relacionadas à humanidade.
De fato Calibã e a Bruxa deveria ser lido por todes.
Entrou para meus favoritos.
Patricia 06/10/2021minha estante
Tá na minha lista. Lerei em breve.




cat ð 02/09/2021

Aprendi muito!
O livro é muito bom, extremamente referenciado e apresenta um cadência de argumentos muito interessante. Entretanto, para alguns pesquisadores a proposta da autora de uma questão de classes pode soar anacrônica pois o período de transição entre medievo e modernidade de assemelha mais com as formações estamentais, e não classes sociais. Fora isso, recomendo muito!
Brenda Dabila 02/09/2021minha estante
Quero muito ler, está na lista de desejados.




Nat 29/06/2022

incendium
O que a Silvia Federici trás em Calibã e a Bruxa não é nada além de fatos históricos que mostram "o que", "como" e "quem" definiram o caminho árduo por onde nós, mulheres, estamos passando até hoje. São fatos e o pior é perceber como esses "fatos" se repetem ao longo desses anos de maneira muito semelhante. É desesperador. Li em algum lugar(não lembro onde) que basta uma crise econômica para que os direitos das mulheres sejam revistas e rechaçadas. Não podemos nem por um segundo achar que estamos seguras dos nossos direitos. Eu diria que esse desprezo e ódio que a "raça humana" ( sim, porque até as mulheres odeiam as mulheres) tem das MULHERES se tornou quase biológico. Quem sabe deux, em sua infinita perspicácia, tenha soprado o fôlego da misoginia na goela do bonequinho de barro que ele chamou de Adão e desde lá a história vem sendo escrita sob tortura, dor e sofrimento de TODAS as MULHERES que já existiram na face dessa terra. Minhas queridas irmãs, toda a história dessa humanidade podre foi escrita com a tinta do nosso sangue e aceitamos isso sob alegação divina. Por que aceitamos isso? POR QUE?
Calibã e a Bruxa, que deveria se chamar "A Bruxa e o Calibã" é sobre os títulos que nos deram e simplesmente não reivindicamos. É sobre a história não terem as versões femininas e não reivindicamos. É sobre todas as mentiras absurdas que contaram sobre nós e não reivindicamos. É sobre o medo que "eles" tem que percebamos o tamanho do nosso poder e da nossa importância neste mundo e para a história que não foi contada, porque, definitivamente, Calibã e a Bruxa é a história que não nos contaram. E o que faremos com isso? Por fim eu digo, LEIAM ESTE LIVRO e se aprofundem nos contextos históricos. E digo mais, me chamem para incendiar e derrubar as instituições que foram erguidas sobre os nossos corpos.
Kell 28/07/2022minha estante
Foi Simone de Beauvoir quem fez essa citação: "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados".
Adorei a resenha ?????




Hugo.Lousada 18/03/2021

Superou minhas expectativas
Sempre me indicavam esse livro mas eu sempre procrastinava pra comprar e ler, mas ano passado comprei e comecei a ler nesse ano. Não me decepcionei.
A autora escreve de um jeito simples de entender, apesar da complexidade do tema. Me impressionou a interdisciplinaridade que o livro traz, de um jeito leve e perspicaz. Discordo do livro em poucas partes: acredito que algumas críticas feitas a autores clássicos não caíram bem, me pareceram anacrônicas, mas essa é uma das poucas partes do livro que eu não curti muito.
Enfim, recomendo a todos que gostam de temas como a história das mulheres, (anti)capitalismo, caça às bruxas e colonização da América.
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stelindner 24/04/2021

Conteúdo!
Esse livro é um marco! Indico para todas as minhas amigas! Ele é intenso, CHEIO de conteúdo. Demorei bastante tempo pra ler ele porque você praticamente ?estuda? ele!

Passa por diversas fases da sociedade e traz muuuita explicação de como tudo que temos atualmente foi se formando.
É isso tudo com MUITA referência bibliográfica!

Esse livro é necessário!!
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Vanessa Prateano 09/10/2017

Calibã e a Bruxa: o terror contra os corpos das mulheres a serviço do capital, ontem e hoje
As bruxas não são necessariamente uma figura desconhecida dos nossos dias. Elas são tema de filmes, histórias em quadrinhos, músicas, contos infantis, festas e obras literárias. O chapéu preto e pontudo, o vestido comprido da mesma cor, a vassoura, o caldeirão e o gato por companhia compõem o imaginário simbólico de um dos arquétipos femininos mais conhecidos e explorados – seja para se referir de forma caricata e estereotipada às mulheres, seja para, numa releitura, colocar a bruxa como uma figura sedutora e mística. Não são estas, porém, as facetas exploradas pela historiadora feminista Silvia Federici, autora de Calibã e a Bruxa – Mulheres, corpo e acumulação primitiva, traduzido pelo Coletivo Sycorax e lançado neste ano no Brasil pela Editora Elefante, em um projeto gráfico e editorial de encher os olhos.

O nome do livro é uma referência a dois personagens da obra “A tempestade” (1610-1611), de William Shakespeare: Calibã, um homem negro escravizado e descrito como “selvagem” e “deformado”, e sua mãe, a bruxa Sycorax, que no livro de Federici são tomados como os símbolos do racismo e da misoginia que sempre andaram de mãos dadas com o capitalismo.

A perspectiva que interessa a Federici, e que é contada em 418 páginas repletas de referências e análises aprofundadas e dialogadas com outras obras e autores, é a história de como a construção da figura da bruxa está intimamente ligada à história da origem do capitalismo, cujo objetivo era transformar os corpos femininos, por meio de um processo de aterrorização, em máquinas de produzir crianças, os futuros trabalhadores responsáveis por manter a nova ordem econômica em funcionamento.

Tal trabalho historiográfico, diga-se de passagem, foi monumental: Federici trabalhou em Calibã e a Bruxa por quase 30 anos, e decidiu-se pelo tema após viver na Nigéria em meados dos anos 80, em um momento em que as terras comunais daquele país passaram por um processo de cercamento semelhante ao ocorrido no período entre a crise do feudalismo e o advento do capitalismo.

Ali, percebeu a cruel associação entre a perda da posse da terra, a liberalização econômica e a exposição das mulheres à violência. Foi o clique para que decidisse estudar a relação entre o capitalismo e a caça às bruxas, período que durou aproximadamente 200 anos, dos séculos XV ao XVII.

História de homens

De início, Federici explica que buscou contar a história do capitalismo levando-se em conta a experiência das mulheres, praticamente invisibilizada e ignorada nas análises de Karl Marx.

Segundo Federici, o pensador alemão ignorou o papel da caça às bruxas para a construção de uma ordem patriarcal em que a capacidade reprodutiva e laboral das mulheres (gestação e cuidado das crianças e trabalho doméstico) foram colocadas sob o controle do Estado e transformadas em recursos econômicos.

Neste caso, o processo de formação e acumulação do proletariado mundial, ela explica, não se deu apenas pelos cercamentos das terras dos trabalhadores europeus e pela escravização dos povos originários da África e da América (a acumulação primitiva), mas também pela transformação dos corpos das mulheres em máquinas de trabalho doméstico e de parir – foi um processo de acumulação de diferenças e divisões dentro da classe trabalhadora.

Ao classificar tais atividades como não produtivas (uma vez que são atividades não pagas), Marx invisibilizou o fato de que as mesmas também eram uma forma de trabalho, essencial para a reprodução da força de trabalho que sustenta o capitalismo em si, e também o fato de que a dependência das mulheres do salário dos homens da família contribuiu para reforçar a opressão femininas dentro das relações de afeto e parentesco.

Ao não tocar nesta temática, Marx não entendeu ou não demonstrou entender que tal subordinação só foi possível a partir de uma política de aterrorização das mulheres – por meio da parceria entre Estado, Igreja Católica e Igreja Protestante – e enfraquecimento do poder que possuíam perante a comunidade. A caça às bruxas, portanto, foi o meio encontrado para domesticar e subjugar as mulheres à função determinada a elas pelo sistema capitalista nascente.

Tal história de dominação dos corpos das mulheres também ignorada pelo historiador Michel Foucault, que produziu uma historiografia androcêntrica, focada numa experiência universal do corpo e da sexualidade que, ao fim e ao cabo, era a experiência masculina.

A história da caça às bruxas, e de como a mesma alimentou o sistema penal inquisitório, a instituição da tortura e o controle dos corpos pelo Estado não está presente nos escritos de Foucault, daí a grande contribuição de Federici para a historiografia e para o movimento feminista e de mulheres, que faz com que tal obra devesse ser ensinada nas escolas e universidades.

Misoginia, enfraquecimento do poder feminino e da solidariedade entre mulheres

Na reconstituição do processo de caça às bruxas na Europa, Federici explica que o poder das mulheres começou a ser quebrado a partir dos cercamentos das terras comunais, já que tendo menos poder sobre a terra e menos poder social do que os homens, as mulheres dependiam fortemente das terras comunais para plantar sua comida, garantir sua subsistência e autonomia e exercitar formas de sociabilidade junto a outras mulheres. Despossuídas da relação com a terra e dependentes de contratos de trabalho individuais acordados por seus integrantes, as famílias começaram a se desestruturar.

A historiadora conta que esse cenário foi particularmente cruel para as mulheres mais velhas, cujos filhos migraram para as cidades. Sem a posse da terra, sem animais e sem ter o que comer, tais mulheres caíram na miséria e, para sobreviver, passaram a depender de empréstimos, pequenos furtos e a atrasar o pagamento de suas dívidas.

Como resultado, não houve apenas a polarização entre ricos e pobres, mas também entre homens e mulheres: a obra explica que discussões resultantes da mendicância feminina, da entrada sem autorização em propriedades alheias e do atraso dos aluguéis estavam por trás de muitas acusações de bruxaria feitas contra elas.

Ao mesmo tempo em que se cercavam as terras, com a expulsão do camponeses que ali sempre viveram, e a Europa passava por uma crise populacional, o novo sistema econômico que nascia necessitava de braços que mantivessem a fábrica produzindo. Neste momento, entra em cena a importância de se controlar o potencial reprodutivo da mulher, capaz de gerar os corpos que colocavam as máquinas em movimento. Diante da resistência feminina ao controle, a caça às bruxas foi o próximo passo.

Entram em cena, então, a criminalização do controle da natalidade e dos métodos contraceptivos e abortivos utilizados pelas mulheres até então, junto com um processo de redução das mulheres a não-trabalhadoras, uma forma de encerrá-las no espaço doméstico como máquinas de fazer filhos e também como sustentáculo sobre o qual se apoiavam os homens que trabalhavam nas fábricas, a parte da população considerada “produtiva”.

Diz Federici, em resumo: “Os homens perderam terras, mas ganharam servas”. Ao mesmo tempo, os saberes femininos eram dizimados, e, devido ao medo do infanticídio, surge a figura do médico homem a realizar e fiscalizar os partos das mulheres, uma função que sempre foi feminina. Esse ocultamento do trabalho feminino e o processo de cercamento, controle e colonização de seus corpos para a reprodução da força de trabalho é chamada por Federici de “Patriarcado do salário”.

Além disso, a pobreza levou muitas mulheres, solteiras e viúvas, mas também casadas, à prostituição, como forma de complementação da renda. A misoginia contra tais mulheres atingiu níveis estratosféricos, com a tortura e a humilhação pública das prostitutas. Ao mesmo tempo, as mulheres passaram a ser pintadas como demoníacas, promíscuas, assassinas de crianças, a rondar as vilas em busca de sangue e de homens, enquanto participavam dos sabás, onde cultuavam o demônio e praticavam orgias.

“A caça às bruxas foi, portanto, uma guerra contra as mulheres; foi uma tentativa coordenada de degradá-las, de demonizá-las e de destruir seu poder social. Ao mesmo tempo, foi precisamente nas câmaras de tortura e nas fogueiras onde se forjaram os ideais burgueses de feminilidade e domesticidade. Também nesse caso, a caça às bruxas amplificou as tendências sociais de então. De fato, existe uma continuidade entre as práticas que foram alvo da caça às bruxas e aquelas que estavam proibidas pela nova legislação introduzida na mesma época com a finalidade de regular a via familiar e as relações de gênero e a propriedade. De um extremo a outro da Europa Ocidental, à medida que a caça às bruxas avançava, aprovavam-se leis que castigavam as adúlteras com a morte (na Inglaterra e na Escócia, com a fogueira, como no caso de crimes de lesa-majestade) e a prostituição era colocada na ilegalidade, assim como os nascimentos fora do casamento, ao passo que o infanticídio foi transformado em crime capital. Ao mesmo tempo, as amizades femininas tornaram-se objeto de suspeita, denunciadas no púlpito como uma subversão da aliança entre marido e mulher, da mesma maneira que as relações entre mulheres foram demonizadas pelos acusadores das bruxas, que as forçavam a delatar umas às outras como cúmplices do crime. Foi também neste período que, como vimos, a palavra gossip [fofoca], que na Idade Média significava “amiga”, mudou de significado, adquirindo uma conotação depreciativa: mais um sinal do grau a que foram solapados o poder das mulheres e os laços comunais. Há também, no plano ideológico, uma estreita correspondência entre a imagem degradada da mulher, forjada pelos demonólogos, e a imagem da feminilidade construída pelos debates da época sobre a “natureza dos sexos”, que canonizava uma mulher estereotipada, fraca do corpo e da mente e biologicamente inclinada ao mal, o que efetivamente servia para justificar o controle masculino sobre as mulheres e a nova ordem patriarcal.” (Calibã e a bruxa, páginas 334-335)

Segundo Calibã e a Bruxa, os homens se calaram a respeito do massacre de mulheres que ocorriam em suas vilas e nas cidades, até porque se beneficiaram com a perda de poder das mulheres e a ideia de que não eram produtivas e não mereciam um salário.

A discussão é extremamente atual, uma vez que a luta das mulheres pelo fim da discriminação de gênero ainda é invisibilizada, negada ou minimizada pela esquerda dita revolucionária. Federici nos mostra que o silenciamento das mulheres pelos homens que deveriam ser seus companheiros de luta é antiga e persiste.

Com a demonização das mulheres e o terrorismo contra seus corpos, saberes e modos de vida, o que restou foi um cenário de destruição do senso de comunidade, de solidariedade e de confiança entre as mulheres que ainda se reflete nos nossos dias.

Testemunhas das torturas e da má fama das bruxas, nenhuma mulher queria ser apontada como tal nem andar ao lado de uma. As consequências da caça às bruxas para a psique feminina foram desastrosas.

Novo Mundo e o mundo atual

A caça às bruxas, como se sabe, também chegou ao continente americano, o chamado Novo Mundo. Numa tentativa de se controlar os recursos naturais da população nativa e forçar a adoção da mentalidade proprietária entre os povos originários da América, a classe dominante europeia exportou os métodos terroristas de controle e genocídio de mulheres que pratica em casa.

Paralelamente ao tráfico de escravos e ao genocídio indígena, o colonialismo foi marcante também pela sua misoginia, pois foram as mulheres as que defenderam de forma mais ferrenha o antigo modo de existência, já que foram elas as mais afetadas pelo novo modo de vida imposto pelos europeus. As consequências da união nefasta entre misoginia e racismo, bem sabemos, se refletem até hoje nos maiores índices de violência que acometem mulheres negras e indígenas, as primeiras a sofrer com o desemprego, com a violência sexual, com a criminalização estatal e os feminicídios.

Por isso, uma das grandes lições de Calibã e a Bruxa, se não a maior, é mostrar a importância de um movimento feminista que não realiza suas análises a respeito da opressão das mulheres de forma apartada da luta de classes e das discussões sobre raça, etnia, território e o impacto da globalização sobre a vida das mulheres.

Igualmente, demonstra a importância de se discutir a divisão sexual internacional do trabalho e o acesso à terra e aos recursos naturais, além das violências e violações de direitos impostas às mulheres migrantes e em situação de refúgio por conta de guerras, conflitos armados, fome e desastres ambientais. Afinal, a caça às bruxas, literalmente falando, ainda não acabou, e segue forte. Talvez, com nova roupagem. A mentalidade misógina, porém, é antiga, e velha conhecida de todas nós.

site: http://deliriumnerd.com/2017/09/29/caliba-e-a-bruxa-resenha/
Layanne 07/06/2019minha estante
Os a nota?


Layanne 07/06/2019minha estante
Kd




isa.dantas 19/04/2020

Um trabalho de pesquisa incrível elaborado pela Silvia Federici, que nos traz todo um contexto histórico para nos falar sobre acumulação primitiva e mulheres. Este livro sim deveria ser leitura obrigatória nas escolas! Maravilhoso. Um divisor de águas para mim.
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Rosinha.Correia 24/07/2020

O título do livro faz referência a dois personagens da obra "A tempestade" (1610-1611), de William Shakespeare. Calibã um homem negro escravizado, tido como selvagem, brutal e deformado, e sua mãe, a bruxa Sycorax, que no livro são postos como os símbolos do racismo e da misoginia que sempre estiveram lado a lado, de mãos dadas com o capitalismo.
Federeci faz diversos apontamentos históricos e filosóficos, o livro é repleto de referências fantásticas, que contam a história desde o princípio. Através de análises e diálogos íntimos com diversos autores, a história das bruxas e seu ligamento com o capitalismo é contada, de forma a retratar o objetivo do capitalismo que era reduzir os corpos das mulheres a partir de um longo processo de repressão e tortura.
Muito do que é posto no livro faz entender coisas que acontecem na presente sociedade em que vivemos e assim podemos perceber o tanto de coisa enraizada temos em nossa cultura.
Muitas mulheres foram apagadas durante a história e formação da sociedade, não podemos esquecer esse fato. "Vencidas pela tortura e pela dor".
.
Passei muito tempo para ler essa obra, pq realmente requer atenção para os fatos, sendo assim considero um livro extremamente denso, rico e proveitoso, recomendo a leitura.
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Tamy 03/11/2023

Uma aula de história ????
Após 30 anos de estudos, Silvia nos apresenta um novo olhar sobre o capitalismo: um olhar para as mulheres, para o corpo feminino, para a exploração deste corpo e o que tudo isso fala sobre o surgimento da sociedade capitalista.

Ao longo destas páginas você terá uma verdadeira aula de história, relembrando os papéis das mulheres no sistema feudal, como elas se envolveram na crise desse mesmo sistema e toda perseguição sofrida com o início do capitalismo, levando à caça às bruxas.

Uma leitura que me trouxe bastante clareza sobre diversos estigmas direcionados às mulheres, bem como sobre os vários direitos e a importância que a mulher tinha na sociedade e que foram lhe sendo proibidos, passados para os homens, pois as mulheres passaram a ser vistas como uma ameaça para o sistema que vinha surgindo e era preciso contê-las de alguma maneira...
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Antonio 03/09/2022

Uma releitura da história da caça às bruxas
Excelente livro que rediscute o fenômeno da caça às bruxas em uma perspectiva inovadora e crítica, revelando o papel seus fortes laços com o surgimento do capitalismo e da exploração do trabalho assalariado, e como estratégias semelhantes foram utilizadas durante a colonização das américas. Uma pesquisa abrangente e consistente, que expande o conhecimento histórico sobre um assunto que sempre foi tratado como ?lendário? ou ?pitoresco?. Leitura altamente recomendada!
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Mariana Dal Chico 27/12/2018

“Calibã e a Bruxa” foi uma dos livros mais desafiadores do ano, tanto pelo seu tema denso, quanto pela escrita que tende para o lado científico/analítico ao qual não estou muito acostumada.
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O livro foi traduzido pelo Coletivo Sycorax e publicado pela @editoraelefante com um projeto editorial e gráfico de deixar qualquer um babando com tamanha beleza e cuidado.
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Federici analisa a construção da figura da bruxa acompanhando a história das mulheres durante a transição do feudalismo para o capitalismo; e a relação entre a caça as bruxas e a nova divisão de trabalho que confinou as mulheres ao trabalho reprodutivo.
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Alguns pontos me chamaram atenção como por exemplo:
O novo regime monetário (capitalismo) valorizava apenas o trabalho voltado para o mercado, logo, as atividades domésticas se tornaram invisíveis por não serem geradoras de capital. As mulheres perderam posto de trabalho e o salário masculino passou a ser mais uma ferramenta de controle sobre as mulheres. Com isso, o trabalho feminino passa ser visto como recurso natural, vocação.

Enquanto mulheres consideradas bruxas eram caçadas, os homens considerados magos formavam uma elite, serviam a nobreza, os demonólogos os distinguiam ao incluir a magia cerimonial no âmbito da ciência.

Na busca de disciplina social, o tempo livre passou a ser rechaçado e houve tentativa de imposição para transformá-lo em tempo produtivo. E aqui podemos perceber o quanto esse conceito ainda ecoa nos tempo atuais, cada dia há mais incentivo para você “otimizar” seu tempo aumentando sua produtividade.
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Esse é um livro com tantos temas e fatos a serem refletidos, discutidos e pesquisados, que beira o inesgotável . Com certeza vou reler e consultar esse texto muitas vezes ao longo dos anos.
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A sensação que me dominou durante toda a leitura/estudo foi de pesar, por não ter tido essa visão da história nas aulas que tive na escola.
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Mulheres maravilhosas conduziram projetos de leitura e discussão dessa obra e me ajudaram muito nessa jornada literária: @claricesemarias @carolmirandalivros @literatamy @camillaeseuslivros vcs foram incríveis ao compartilhar conhecimento com tanta qualidade e de forma tão acessível, obrigada!
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Instagram @maridalchico

site: https://www.instagram.com/p/Brn3dWYl57f/
Layanne 07/06/2019minha estante
Kd a nota?




Maikel.Rosa 09/12/2020

"o mundo deve ser desencantado para poder ser dominado"
na mesma semana que comecei a ler "Calibã e a bruxa", a revista Piauí publicou o caso de assédio moral e sexual sofrido pela atriz Dani Calabresa, duas meninas de 4 e 7 anos morreram atingidas por balas perdidas no Rio e 1.000 dias se completaram do assassinato não solucionado da vereadora e socióloga Marielle Franco.

infelizmente não há como saber quando as mulheres se tornaram o alvo preferido da violência irracional, mas este livro traz pistas contundentes de como a perseguição ao sexo feminino se intensificou entre os séculos XVI e XVII.

pra nomear a obra que conta sobre esse momento obscuro da história, Silvia Federici escolheu o ameríndio Calibã e sua mãe, a bruxa Sycorax, personagens de Shakespeare que metaforizavam os povos colonizados e o movimento de resistência que marcou a triste "transição" da economia feudal ao capitalismo.

o livro mostra, por meio de dados históricos e conexões surpreendentes, o quanto o nosso atual sistema econômico-social está ligado ao racismo e ao sexismo. o tema central - a caça às bruxas, contemporânea ao processo de colonização e extermínio dos povos nativos do novo mundo - traz uma terrível conclusão: a de que sempre que o sistema capitalista se vê ameaçado por uma grande crise econômica, a elite acumuladora dá início a um processo de colonização e escravização em grande escala.

é um alerta de que precisamos, urgentemente, nos atentar aos numerosos sinais dos tempos sombrios que se assomam no horizonte.

porque, quando a "nobreza" se amedronta, atacando o que há de mais frágil e encantador no mundo, todos nós damos um passo em direção à fogueira.
Marina 07/01/2021minha estante
??????




@leiolivros 13/04/2022

Calibã e a Bruxa contextualiza e explica o período da caça às bruxas, que aconteceu mais ou menos entre entre os séculos XV e XVIII e cujas consequências reverberam até hoje na sociedade, resultando no machismo e misoginia que nós, mulheres, ainda enfrentamos.

Silvia Federici descreve como o surgimento do capitalismo e o poder da igreja foram fortes influências de controle sob o corpo da mulher, mudando seu papel na sociedade para um de submissão e servidão; e como isso culminou eventualmente em uma das maiores perseguições contra as mulheres na história.

Como uma amiga disse muito bem, esse livro é a aula de história que não tivemos na escola, e que explica muito de como nossa sociedade se moldou no que é hoje.

Passando por todo o conflito na Europa e se estendendo até a conquista do Novo Mundo e como a caça às bruxas se instalou na América, Silvia Federici não deixa a peteca cair em nenhum momento.

Essencial.
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