Nath @biscoito.esperto 20/08/2018 Li muitas resenhas deste livro depois de terminar de lê-lo. Isso por que eu adorei o livro, mas aparentemente muitas outras pessoas que o leram não compartilham da minha opinião. Decidi investigar o motivo, e a principal razão pela qual as pessoas parecem não ter gostado de Estamos Bem é o fato de a autora não explorar a sexualidade da protagonista, que é lésbica.
Nesse ponto, acho que eu li um livro diferente. Primeiro por que este não é um livro LGBT+, com foco no romance ou na descoberta da sexualidade. Este é um livro sobre luto, família e amizade, com uma protagonista lésbica. O foco do livro não é mostrar um romance avassalador entre duas meninas ou descrever o despertar/ a realização sexual da protagonista. Ela só é lésbica. Da mesma forma como ela poderia ter sido heterossexual e o livro teria acontecido da mesma forma. Segundo por que a autora explora, sim, essa faceta da personagem, mas não faz da sexualidade da protagonista sua característica principal ou o norte da história.
Sinceramente não sei por que as pessoas esperam que todos os livros com personagens LGBT+ sejam exclusivamente histórias românicas ou livros de superação e descoberta. Personagens LGBT+ podem existir em histórias com outros focos. Fim.
Deixando isso de lado, quero dizer que realmente amei esse livro. Por que eu me vi muito na Marin, e por que a escrita da Nina LaCour é suave e descritiva, mas principalmente por que suas personagens são interessantes e, mesmo que a gente já saiba logo no início do livro o que vai acontecer, e interessante saber como as coisas se desenrolaram.
No primeiro capítulo de Estamos Bem nós somos introduzidos a Marin, uma garota que está num momento de depressão profunda. Seu avô, a única família que ela tinha, morreu há seis meses. Desde então ela tem vivido na república da faculdade, mas agora é o recesso de fim de ano e ela está completamente sozinha. Ela tinha uma melhor amiga, Mabel, mas elas se distanciaram depois de terem experimentado um breve romance, mas principalmente por causa da mudança de Marin para estudar numa faculdade longe de casa.
A morte do avô, o relacionamento de Marin e Mabel e sua depressão e isolamento são apresentados nas primeiras páginas do livro. Já sabemos que todas essas coisas aconteceram.
Durante o livro nós caminhamos entre presente e passado. Descobrimos através de flashbacks como era o relacionamento de Marin com o avô, e como foi sua morte. Também aprendemos mais sobre Marin e Mabel, e como a amizade deles se tornou algo mais, que depois acabou. No presente, vemos Marin vivendo com uma depressão terrível, tentando aceitar o fato de que todas as pessoas de sua família estão mortas e que ela terá que se virar sozinha, sem emprego ou dinheiro para pagar a faculdade. Seu avô pagara um ano de faculdade para ela, mas logo esse ano chegará o fim e ela ficará sem sequer ter onde morar.
Este não é um livro feliz, a princípio. A história começa num inverno rigoroso e o clima guia a história. Marin está miserável e sem esperanças, mas está um pouco animada para receber Mabel por três dias. As duas praticamente não se falaram nos seis meses desde a morte do avô de Marin e de sua mudança, e logo a animação é substituída pelo terror de não conhecer mais a melhor amiga.
Eu realmente gostei do livro. A narrativa é lenta e gostosa de acompanhar, e as partes tristes são bem balanceadas com momentos bonitos entre Marin e seu avô e Marin e Mabel.
O livro é curto e eu não quero dar spoilers, mas eu sinceramente não compreendo as pessoas que não gostaram desse livro. Claro que gosto não se discute, e todos tem o direito de não gostar desse livro. Mas acho muito chato darem nota baixa para esse livro com a desculpa de ele não ser um bom livro LGBT+ quando ele nem é um livro LGBT+ para começo de conversa.
Vamos normalizar personagens LGBT+ em livros cujo o foco não é ser uma história LGBT+, que tal? Personagens gays, lésbicas, bis, pan, trans, ace e etc podem fazer parte de histórias que não sejam exclusivamente sobre seus gêneros ou orientações sexuais. I rest my case.
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