Ana Sá 16/11/2023
Desidratei, mas passo bem!
Eu diria que "Relatos de um gato viajante" (2017), da escritora japonesa Hiro Arikawa, é fofo e triste na mesma medida! Nele, acompanhamos a relação (e a viagem, claro) de Satoru com o gato que ele resgatou das ruas, o Nana. De carro pelo Japão, os dois vão visitando, cidade a cidade, amigos da infância e da adolescência de Satoru, e assim, aos poucos, nos vão sendo reveladas tanto a motivação da viagem quanto a história de vida do protagonista-humano.
Quanto ao protagonista-felino, a maior e melhor surpresa vem do fato de Nana ser uma das vozes narrativas do romance! Pra quem tem ou gosta de gatos, é incrível e delicioso observar como a autora conseguir entrar na cabeça desses animais tão peculiares, dotando Nana de uma personalidade sagaz, muito convincente e coerente. O modo como ele julga os humanos, os espaços, outros animais... "Se um gato conversasse comigo, acho que ele falaria exatamente isso, nesse mesmo tom!", foi o que pensei a cada capítulo.
Minha crítica negativa se restringe a alguns aspectos estéticos da narrativa. Achei o protagonista-humano unidimensional, meio raso, e até "coitadinho" demais... Vejo algo forçado na sua construção, que talvez tenha sido feito para deixar a obra bem dramática mesmo, sabe? Por outro lado, adorei a composição de quase todas as demais personagens, com destaque pra tia de Satoru. Ela e os amigos de Satoru sim, são personagens complexas, interessantes, cativantes!
Ah, e apesar de eu ter adorado todo o conteúdo relacionado ao gato, preciso confessar que também tenho críticas quanto à forma como sua perspectiva é exposta: ao invés de simplesmente expor os pensamentos de Nana, a autora opta por colocá-lo quase que como um palestrinha porta-voz de todos os gatos, então frequentemente ele se expressa por meio de frases como "nós, os gatos, somos assim, assado", pra mim faltou fluidez nessas passagens.
Considerando essas questões pontuais, se eu usasse pra este livro os mesmos critérios que adoto em outros, em termos de nota eu daria 3.5 e não 4.0. Mas acontece que a experiência afetiva supera todos esses pequenos "deslizes"/"desgostos" que eu listei… Fui tomada por uma onda de sentimentos e de emoções, o que vai garantir um bom lugar pra "Relatos de um gato viajante" na minha biblioteca de memórias literárias. Além disso, a narrativa me colocou em contato com elementos culturais e com rituais japoneses que eu desconhecia, foi bem enriquecedor. A descrição das paisagens de diferentes cidades japoneses é outro ponto forte! Nota 4.0 emocionada e com louvor!
Me desidratei de tanto chorar, mas passo bem!
Obs.: Não leiam a parte final deste livro em público! Eu inventei de viajar com o gato viajante e mais um pouco a aeromoça era capaz de me oferecer uma água com açúcar! Foi uma mão no livro e a outra no lenço, fiquei com os óculos embaçados e com o nariz escorrendo, uma tragédia particular em praça pública... Façam como os gatos e escolham um lugar bem privado pra essa experiência! hahaha