Maria - Blog Pétalas de Liberdade 13/07/2017Resenha para o blog Pétalas de Liberdade Amélia era uma gata, e é ela que nos conta a história das viagens no tempo que acontecerão na trama. Mas Amélia já começa derrubando tudo o que acreditamos saber sobre a origem dos felinos. Segundo ela, os gatos vieram de outro planeta, mas são seres tão evoluídos que nós, simples humanos, nunca percebemos isso. Fomos escravizados e hipnotizados por esses seres de quatro patas.
O humano que pertence à Amélia se chama Oz (não é ela que pertence a ele, que fique bem claro). Ele é um rapaz que trabalha na floricultura da família, a Abelha Rainha, um trabalho bem calmo pra dizer a verdade. Até que um dia surge uma tal de Glória, de um jeito muito louco, que eu não vou contar qual é, e diz pro Oz que ele precisa viajar até o ano de 1998 para ajudá-la. Essa viagem seria feita através de um artefato mágico: um colar enterrado no jardim, com um pingente de abelha.
Mesmo estranhando muito a situação, o Oz decide ver se aquilo tudo era real mesmo. Só que a Amélia, curiosa como todos os gatos são, acaba tocando no Oz no momento em que ele coloca o colar para viajar no tempo. E aí a confusão começa! Os dois voltam ao passado, mas não exatamente na data para a qual deveriam ir para encontrar a Glória. Amélia fica no corpo de uma garota, e Oz, no corpo de uma senhora chamada Florinda!
"Enquanto subíamos as escadas, Oz (doravante denominado Florinda) colocou as mãos trêmulas na têmpora e dizia baixinho:
- Isso não é real... Isso não é real... Não é real! - enquanto uma lágrima escorria por seus olhos.(...)
- Me diz, garotinha, de onde você está tirando essas coisas? – a voz de Florinda era trêmula e no fundo devia incomodar a sua consciência, naquele momento Oz. – Por um acaso você é um ET? Sou cobaia de alguma experiência? – A velha pausou com ar de quem estava especulando algo em sua mente, olhou com olhar de quem me julgava e prosseguiu – VOCÊ É A GLÓRIA! Me tira disso agora!!! O que está fazendo comigo? Eu sabia que tinha uma parada errada, eu vi A Hospedeira, tenho certeza que isso é uma experiência alienígena!!!"
Mas a confusão não para por aí. Tentando voltar ao presente, eles acabam viajando para outra época e um deles vai parar no corpo de uma cantora super famosa! Adivinhem quem ficou pensando que queria ser a Madonna na hora errada? Será que o Oz e a Amélia conseguirão voltar aos seus corpos e suas vidas no ano de 2017? As confusões que esses dois aprontarão nas épocas pelas quais vão passar afetariam o resto do universo? E o que o Oz precisa fazer pela Glória? Isso vocês só vão descobrir lendo o livro, mas uma coisa eu já adianto: o final é surpreendente.
Quem acompanha o blog há muito tempo, talvez se lembre que em 2013 eu fiz a resenha do divertido "Babilônia Encantada", o primeiro livro do autor, e que na época já me tornei fã dele. Em 2016, resenhei o segundo livro dele, "Quero me lembrar de você, Amy Winehouse", uma homenagem à cantora falecida em 2011. E também no ano passado eu resenhei o conto que ele escreveu: "A Abnegada", onde ele já brincava com essas realidades paralelas.
"De qualquer forma, eu fui. Acho que de alguma forma eu gostava daquele idiota. (...) Era um humano medíocre que não explorava suas capacidades? Era um humano preguiçoso, com inteligência mediana e um pouco solitário? Era um humano que não se importava em contribuir pra sociedade em que vivia? Era! Era, talvez, o humano mais idiota que já convivi, mas era o meu humano!
E eu queria que respeitassem meu humano. Por isso, fui! Botei a cara no vento de 1975 e senti o cheiro do saneamento básico mal feito..."
Em "Fábula de Viagem no Tempo: Por Amélia, a Gata", o Hugo continua mantendo o excelente nível de suas outras obras, com histórias interessantes e uma escrita ótima. A forma como a floricultura e a abelha apareciam na trama ao longo de muitas décadas ficou super interessante. Amélia e Oz dividiram muito bem o protagonismo. É incrível ver uma gata descobrindo tudo o que um corpo humano pode fazer e experimentando sentimentos novos que ela não conhecia em sua vida como animal de estimação. Amélia faz com que a gente repense como nós, humanos, vivemos e aproveitamos a nossa vida e as nossas capacidades. Eu já li algumas histórias protagonizadas por gatos, mas nunca encontrei uma gata tão cheia de personalidade como a Amélia. Sobre o Oz, não vou falar muito para não estragar a surpresa. Só quero acrescentar que o autor costuma abordar a temática LGBT em suas histórias.
"Só de andar pelas ruas eu percebia mais estupidez que o normal. Os humanos passavam uns pelos outros sem se olharem, não me olharam também, é claro! Fingiam estar sozinhos, ou se estivessem em grupo, aí, fingiam estar só com aquele grupo, como se nada mais em volta existisse. Alguns, olhavam para outros humanos, mas desviavam o olhar antes que fossem descobertos. Era muito estranho essa coisa de ignorar, completamente, um igual. Reconheço que nós gatos costumamos não nos simpatizar, mas ao menos demonstramos, claramente, através de rosnados, caretas, saliva e umas mordidas, que não gostamos do pelo áspero do outro. (...) Assim como julgamos importante experimentar a presença de todos os outros gatos, simpatizando ou não com eles. Afinal, existimos graças aos outros gatos, porque com nosso filtro de realidade, os humanos podiam nunca nos descobrir, mas como eles são escravos... digo, seres maravilhosos para nos tratar, optamos por deixá-los nos descobrir."
Eu sempre tive um pé atrás com essa coisa de realidades paralelas, mas não tenho do que reclamar na história criada pelo Hugo. Eu gostei muito de "Fábula de Viagem no Tempo: Por Amélia, a Gata" e super recomendo que vocês leiam. Não é um livro extenso, é uma leitura com umas partes bem divertidas, e outras até emocionantes, imperdível para os apaixonados por gatos.
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https://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2017/06/resenha-livro-fabula-de-viagem-no-tempo.html