mpin 23/08/2018
Ascensão e queda
Livro de jornalista, escrito pela dupla Marcelo Cabral e Regiane Oliveira, com narrativa ágil, fácil de ler. Por vezes encontramos alguns cacoetes desta profissão, como chavões e aspas usadas para funções alheias às da gramática, mas o resultado final é uma história consistente e segura, que não se intimida com o pouco tempo em que todos os eventos relatados ocorreram. Mesmo o que era arriscado incluir no texto o foi, por meio de fontes anônimas ou outro recurso retórico. Em vez de temer pouca precisão no que é relatado, o que ocorre pouco, isso é usado a favor do texto, para demonstrar como as relações de Odebrecht com o poder público sofreram uma brusca ruptura nos últimos anos. Dedicar um capítulo sobre a TEO, por exemplo, foi uma escolha inteligente: dá uma dimensão interessante da cultura organizacional da empresa e traz maior profundidade aos personagens envolvidos. Durante a menção a alguns políticos, eu tive a sensação de se ter privilegiado determinado partido, ao passo que outros foram escondidos. A classe política como um todo estava envolvida na operação Lava Jato, e mencionar políticos pontuais me soou um tanto tendencioso. Claro, nada tão escrachado quanto o que José Padilha e seu Mecanismo fizeram, mas é importante dar um desconto, dada a acentuada polarização pela qual o país passa.
Uma ressalva a se fazer é que, em quase metade da obra, não se fala de Marcelo. Tudo bem que, após a prisão deste, os desdobramentos do destino da Odebrecht são muitas vezes alheios a Marcelo. Eu apenas fiquei com a impressão de que a obra poderia se intitular como sendo sobre a Odebrecht como um todo, e não apenas sobre Marcelo, como o título dá a entender. Feita esta observação em relação à apresentação do livro, cabe dizer que o volume de informações trazido é robusto e o material consultado para isso é respeitável, elencado ao final do livro. Trazer o depoimento de Marcelo junto à República de Curitiba dá ao material um valor documental inestimável e dá voz a Marcelo, em vez de a narrativa falar por ele o tempo todo. Só me incomodei com a imagem de arauto da moral que o juiz Moro acabou recebendo na narrativa. O fato de ele possuir práticas altamente questionáveis no meio jurídico poderia ter sido mais reforçada, até mesmo para reforçar o lado humano dele e o perfil que geralmente se encontra em muitos magistrados país afora, com vaidades exacerbadas que fazem suas inclinações ideológicas terem mais peso que aspectos técnicos. No geral, leitura recomendada e que possuirá altíssimo valor histórico daqui a alguns anos.
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