Tamirez | @resenhandosonhos 02/08/2018Uma História de VerãoPam Gonçalves escreve seu segundo romance solo em um lugar que faz parte da sua vida e de centenas de outros jovens, em uma situação que também marca a vida de muita gente e, certamente marcou a minha, mesmo que em um momento diferente. Provavelmente, se eu não tivesse essa conexão teria uma opinião diferente da história, mas felizmente parte do sentimento que temos enquanto leitor diz respeito as nossas experiências.
Analu está ansiosa pra ir embora e construir uma nova vida em uma nova cidade longe de tudo o que conhece. O porto seguro do lar e o apoio dos amigos vão ficar pra trás, mas é exatamente isso que ela quer. Em 2012, após ter me formado, sai da minha cidade do interior e resolvi trilhar o meu caminho sozinha longe de tudo o que eu conhecia, e hoje tenho certeza que foi uma ótima decisão. Porém, lendo essa história, me vi retornando a uma época, poucos meses após essa decisão, onde tudo era insegurança e saudade.
Foi uma viagem à terra das lembranças, do que eu senti e de como tudo parecia, ao mesmo tempo, incrível e amedrontador. Entretanto, esse sentimento é a única coisa que eu compartilho com a personagem, que precisa lidar com coisas pessoais que vão além da simples escolha de onde estudar e morar.
“O problema é que mesmo quando é muito bem colado, fica a cicatriz. A rachadura sempre vai ficar visível. E então vai voltar a se quebrar de novo, é só uma questão de tempo.”
Uma História de Verão é um livro sobre se encontrar para seguir em frente. Desfraldar os medos, resolver os mal entendidos e se abrir para uma nova vida. Com um tom jovem, em um clima acalorado, vemos o desenrolar enviesado de uma história de amor que tem tudo para ser clichê, e até é, mas que acontece de forma inversa e volta novamente ao normal, nos colocando na posição de julgar e se por no lugar e se perguntar o que estaríamos fazendo se fôssemos a personagem.
Há um conflito familiar forte e uma relação bonita de amizade da protagonista e seus dois fieis escudeiros. E, mesmo não tendo lido Boa Noite, sei que uma personagem daquele livro dá uma aparecida aqui pra conectar as narrativas e incitar o desejo já revelado de alguns fãs de conhecer melhor a sua história.
“Algumas vezes a gente não entende as escolhas das outras pessoas. Mas existem coisas na vida que só cabem a elas decidirem.”
O que não posso deixar de mencionar, porém, é que mesmo tendo gostado da trama, percebo o quanto ela é simples e pode realmente precisar desse elo de ligação para funcionar com o leitor. Também senti falta de uma voz mais marcante. Sabe quando você lê uma história e sabe quem escreveu apenas pela identidade forte que o escritor tem ou referencia a escrita porque ela se parece com a de outro autor? Acho que Pam ainda não encontrou totalmente a sua voz na hora de contar suas histórias, trazendo algo mais genérico do que seria bom.
Como já mencionei, eu ainda não li Boa Noite, mas pelo que sei, aquele livro tem uma pegada mais pesada por trabalhar um assunto complicado. Enquanto aqui, apesar das situações de conflito, há uma leveza do momento no que é contado.
Young adults não são a minha primeira escolha de livros, mas quanto pego um para ler gosto que ele trabalhe algo importante ou me marque de alguma forma. Boa Noite me levou a relembrar uma série de sentimentos que já estavam esquecidos pelo tempo em que tudo aconteceu e foi interessante me relacionar um pouco com a personagem e o que ela estava passando. A narrativa é bem fluida e é uma leitura super rápida de se fazer, sendo, como o próprio nome diz, uma boa pedida para ser a sua história de verão ;)
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