Nara 04/06/2021
Uma experiência de leitura sobre meu eu leitora.
Uma experiência de leitura que me provocou reflexões bem profundas sobre meu eu leitora.
Narrado à quatro vozes: Magda/ Marta/ Serafim uma divindade angelical e a cidade de Roma personificada.
Acompanhamos por meio de cada voz, uma perspectiva sobre o relacionamento de Magda e Marta. Serafim o anjo que as fazem apaixonar-se. Roma, a "cidade dos diferentes tempos contidos em um só", mas que escolhemos chamar de tempo presente.
A dificuldade inicial foi me relacionar com a primeira voz: Magda. Uma mulher que julguei sem motivos aparentes pra se sentir como se sentia. E me fez muitos questionamentos: Eu preciso gostar das personagens para uma leitura ser boa? Eu preciso entender todas as suas motivações?
Será que é papel da literatura oferecer respostas fáceis ou somos nós que, nos acostumamos com uma realidade binária e tão engendrada na dualidade? Será que é por isso que, atribuímos ao amor, nos dar a parte que nos falta, ao invés de aceitarmos que mesmo juntos, permanecemos incompletos?
A voz de Glória nos faz refletir a respeito dessas questões.
Aliás, a estrutura narrativa dessa obra, nos provoca sobre o quanto o pensamento hegemônico atravessa as nossas subjetividades, de modo que, a gente não se abra tanto quanto pensa para conhecer outras estruturas sensíveis. Eu diria que essa foi a minha primeira leitura ativa. A dificuldade de entender as referências simbólicas, me fez tecer comentários, buscar simbologias. Reler. Uma leitura sensível e que propõem um ritmo cíclico.
Quote predileto:
"Como se a lua tivesse quase o mesmo tamanho de uma janela iluminada. Assim ela pareceu na foto de uma noite que deveria ser mais um arquivo digital ou de papel, em sua natureza de garantir que determinado olhar ou cena permaneçam fixos em um mundo que se movimenta. Nós, homenzinhos sobre ele, giradores, mas de maneira alheia ao que rola, e aí, ficamos nessa de querer fixar um copo sobre a mesa, secar a saliva no corpo, congelar líquido quente. Eu estava fixa no tempo com quatro alfinetes em um mural de cortiça, talvez a foto mostrasse que eu não era tão pequena, a exemplo da lua.Eu não estava parada, apenas era inconsciente dos meus movimentos." (pg. 99).