Fred.Prudente 28/08/2022
Atualidade dos personagens
Sempre me chamou a atenção o personagem ?irmão das almas?, aquele que recebeu de Natividade uma nota de dois mil-réis, ?nova em folha?. No dizer machadiano ?era um pobre-diabo?, sem direito a ter um nome ? para John Adams, segundo presidente estadunidense, os pobres eram invisíveis politicamente; para Machado, eram inomináveis, socialmente falando. Passados os anos, com o desvio da esmola da bacia das almas, surge o ?Nóbrega; outrora não se chamava nada?. Rico, bem vestido e, especialmente, com direito a um nome, não qualquer nome, mas ? Nó-bre-ga! Por um triz, ou melhor, por um ?z? não se chamou NOBREZA. A genialidade do mestiço Machado de Assis é espantosa!!! Aqui, exatamente aqui, Machado cria o arquétipo ? numa análise sociológica brilhante ? do futuro rico ou classe média da sociedade brasileira em formação. O ?irmão das almas?, andrajoso, desvia dinheiro, enriquece ilicitamente, volta à sociedade, desta vez rico, bem vestido e com um sonoro nome. Neste século XXI, os Nóbregas infestam o cenário nacional, com uma diferença, não roubam esmolas, mas sonegam impostos, praticam evasão de divisas, criam offshores e, inacreditavelmente, se autodenominam de nobres ou cidadãos de bem. O Bruxo do Cosme Velho era um adivinho, igualzinho à Bárbara, a cabocla do morro do Castelo!!!
(Fred Prudente)