Ana Paula 06/11/2021
Enquanto me espero
Se nada mais der certo eu não tenho plano b, é como o título sugere, uma história de entrega total. Abrir mão das seguranças, confrontar suas inseguranças e esperar. Este espírito melancólico da espera permeia o livro todo com muita graça e nostalgia. A protagonista, G, decide apostar em si mesma, toma uma decisão de "*point of no return*" ao decidir escrever um livro e enviá-lo para editoras. Uma delas, liga e marca uma reunião, dali a sete dias. São este dias, esta semana na vida de G que acompanhamos neste livro. Nesse tempo entre o sim e o não, onde tudo é talvez, G mergulha dentro de si, com um pé no futuro, ela se volta ao passado. É uma trajetória, interna e externa, material e espiritual, de amarrar pontas soltas, estar em paz consigo mesma.
Com todo este tom reflexivo, a narrativa abre espaço para perguntas, mais que respostas, que sempre nos deparamos diante de um encerramento de ciclo. O que é felicidade, o que é o amor, qual o sentido da vida, porque estamos aqui, qual o sentido do sofrimento, qual o meu lugar no mundo, sobretudo qual o meu lugar em mim.
A narrativa é fluida, poética e metafórica, intercala fluxos de pensamentos da G, cartas, trechos de seus escritos, poemas e trechos de música, enriquecendo o romance na medida em que explora a arte como catalisador do nosso processo interior de transformar nossas angústias em beleza, em algo com significado.
Eu absolutamente amei este livro, vou guardá-lo no meu coração. Enquanto lia não pude deixar de pensar "se um dia eu escrevesse um livro, queria que tivesse sido este", tamanha a identificação e o reconhecimento que tive com a narrativa, enredo e reflexões. Por fim, deixo um trecho que acredito sintetizar a essência da obra e da personagem:
*"A gente sempre se preocupou muito com esse seu dom para a solidão junto com essa tua vontade de voar: uma combinação romântica e sonhadora que pode ser fatal."*