Rayhan Chamoun 03/12/2020
Alguns querem vencer a guerra, outros querem apenas que ela termine...
O trabalho jornalístico que cobre os acontecimentos sobre a Primeira Guerra Mundial descritos por Martin Gilbert é uma verdadeira obra prima. Primeiramente, vale salientar a beleza e a competência da edição da Casa da Palavra, que acompanha imagens complementares, diversos mapas detalhando o avanço dos exércitos, e minhas congratulações ao Francisco Paiva Boleó, que fez uma tradução primorosa do texto.
A Primeira Guerra Mundial é vista por muitos como menos importante se comparada à Segunda Guerra Mundial, mas ler este livro o fará mudar de ideia sobre as concepções que a civilização moderna (principalmente nós, do século vinte e um) tem sobre essa guerra. Martin é um verdadeiro guia, que pega na mão do leitor e o transporta através dos campos de batalhas, dos mares e continentes, acompanhando as tropas dia após dia, seja nos campos de árvores queimadas, ou na lama das trincheiras, ou nas tempestades de projéteis e gás que se misturam em uma cacofonia que somente a guerra pode trazer.
Trata-se de uma obra avassaladora, que mostra a crueldade e a realidade da guerra aos olhos daqueles que sofriam dia após dia nas frentes e atrás das linhas. Demorei seis meses para terminar essa leitura, e não é por que o texto é robusto ou mal escrito, muito pelo contrário, não me encontrei em nenhum momento com dificuldades para compreender o que o autor pretendia dizer e o ritmo do texto e dos períodos são tão concisos que as páginas simplesmente voam.
Mas este é um livro que precisa de tempo para ser refletido. Os poemas e cartas de pessoas relatando os horrores da guerra trazem uma humanidade ao texto que por muitas vezes forçam o leitor a parar (tamanho é o seu impacto emocional) e refletir sobre o passado e sobre o presente. A riqueza de detalhes sobre personalidades da época é impressionante, Winston Churchill, Clamenceau, Foch, Kaiser, e até mesmo acompanhamos a trajetória de Hitler durante a guerra.
A precisão das estatísticas releva a importância de um trabalho jornalístico e reforça o quanto a guerra é acompanhada de perdas e mortes. Presenciamos implementações de novas tecnologias de guerra, como tanques, uso de gás, aviões e estratégias de gerenciamento e logística.
Não há como terminar a leitura desta obra sendo a mesma pessoa que você era quando começou. Viajamos através de sangue e lama, de histórias de amor, amizade, patriotismo, honra, corrupção, vingança. Do seu início ao seu fim, ¨A Grande Guerra¨ marcou um século inteiro e mudou a percepção que o mundo tinha de conflitos militares eternamente, e a memória de cada um dos homens e mulheres que travaram suas batalhas reside aqui, ou pelo menos o mínimo para compreendermos a grandeza que somente um conflito mundial como este pode trazer.
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