Sidney.Prando 23/02/2022
UM AMOR ELITISTA
“A felicidade é tão oposta à vida que, estando nela, a gente esquece que vive. Depois quando acaba, dure pouco, dure muito, fica apenas aquela impressão do segundo. ”
Publicada em 1927, “Amar, verbo intransitivo” é o primeiro romance do escritor Mário de Andrade, um dos expoentes do movimento modernista de 22. É nesse seu primeiro romance que vemos o seu caminhar rumo as tendências modernistas de “abrasileirar” as produções nacionais, que se caracterizam na linguagem inovadora (para a época) e nos espaços-comuns onde se passam os acontecimentos.
No início, o livro narra a chegada de Elza (Fräulein) à casa da família Costa. Assim que a governanta chega a casa dos burgueses, ela é encarregada pelo Senhor Souza Costa, chefe da família, a ensinar alemão para as suas 3 filhas e seu primogênito, Carlos, um garoto de 15 anos que não consegue se separar da sua brutalidade. Porém, Fräulein tem outra tarefa, iniciar a vida sexual de Carlos e lhe ensinar sobre o amor.
Se hoje o tema do livro geraria polêmica, imagina em 1927! Não é à toa que o romance foi alvo da crítica, embora na época de seu lançamento esse tema era vivido pela sociedade brasileira em geral. Assim, o livro é marcado pela sua irreverência e pioneirismo.
🙋♂️ Para mim, o livro marcou a minha iniciação nas obras do autor, abrindo caminho para Macunaíma. Mas por que começar por esse livro ao invés da obra prima? Bom, para fazer uma boa omelete é recomendado que você saiba primeiro fritar um ovo, e mesmo sabendo fritar um ovo não há garantia de fazer uma boa omelete. Mas, o essencial, fritar um ovo, você já sabe.
Paralelamente a metáfora, Carlos não sabia fritar um ovo (você sabe do que eu to falando, e nesse caso não é de fritar um ovo), então os pais dele concordaram em lhe garantir que ele soubesse e para isso contrataram uma cozinheira experiente para lhe dar aulas. Mas para fritar um ovo é preciso saber usar o fogo, quebra a casca e o fritar adequadamente.
Talvez o amor seja igual a fritar um ovo (uma comparação simples e nada poética, eu sei, mas os poetas complicam demais) e para isso, Carlos aprende a sentir desejo, a deixar toda a sua brutalidade de lado e a amadurecer, só então ele é capaz de fritar um ovo como se deve. E talvez essa seja a função da Fräulein, ensinar a primeira receita, o primeiro amor e o primeiro sentimento de coração partido. Mas não só de ovo vive o homem e uma vez que ele sabe o básico da culinária, é questão de tempo até que comece a se arriscar em pratos mais elaborados e saborosos. Esse é Carlos em todo o seu amadurecimento transmitido pela obra e, não importa o quão refinado se torne o seu paladar, nós terminamos o livro com a sensação de que jamais esqueceremos o nosso primeiro ovo frito.
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