Quatro Soldados

Quatro Soldados Samir Machado de Machado
Samir Machado de Machado




Resenhas - Quatro Soldados


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Bel 28/12/2020

Um BR muito divertido!
Precisamos ler e valorizar os autores nacionais!
Que livro! Que narrador!
Nem sei direito o que dizer, só sei que esse livro me divertiu (e emocionou) o suficiente para eu querer ler tudo desse autor.
Eu não queria mesmo ler esse livro. O nome não me agradou, já que eu não gosto muito de histórias de soldados e guerras. Ser autor brasileiro também me fez torcer o nariz; preconceito, confesso.
Nunca foi tão bom aceitar uma proposta literária.
Bom, vamos a história: 4 histórias divertidas e intrigantes sobre 4 homens soldados de dragões. Homens que lutaram nas guerras guaraníticas no Rio Grande do Sul (RS) quando o RS nem era RS ainda.
Unindo lendas do sul com um uma prosa aumentada em mistério e aventura pelo nosso querido narrador, Samir Machado de Machado (o autor) nos convida a conhecer esses homens e suas aventuras.
Recomendo de olhos fechados e abertos, já que se não abrir os olhos não será possível ler (minha péssima tentativa de ser engraçada como a narrativa desse livro).
Apenas leia.
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Fabi 18/03/2022

Aplausos e mais aplausos
É o segundo livro que leio do autor e afirmo: ele sabe o que faz.

Escrita maravilhosa, personagens bem desenvolvidos e cativantes, narrativa que prende o leitor; ou seja, tudo que faz um bom livro.

Quatro Soldados é uma delícia do início ao fim. Com ritmo excelente, passagens engraçadas e dramáticas na medida certa, personagens cativantes... Sério, não dá para largar até ler o final.

E o final? ??????

Grandes chances de releitura.
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Gu Vaz 09/05/2020

Deslumbrante
Os livros do machado tem essa atmosfera melancólica e cheia de reflexões marcantes, com um humor ácido e extremamente delicioso, personagens fascinantes e com características tão distintas, elucidações, questionamentos, contemplações, cismas; tudo tão humano que te desespera e te deixa ansiando por tais personagens, virando as páginas com ganância por mais e mais. Misturando acontecimentos históricos numa ficção fantástica, utiliza um ambiente aparentemente trivial e o eleva ao mitológico de forma muito crível, desdobrando a história da forma como uma espada afiada é forjada.
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Geisiany 23/01/2021

Completa, total e positivamente surpreendida por esse livro.
Trata de forma leve e com um toque de humor, alguns episódios passados por quatro soldados que são apresentados ao longo do livro, durante o século XVIII no Brasil colônia. É contado por um narrador letrado e por vezes sarcástico que traz muitas lições no decorrer das páginas. Não faltam aventuras, supertições e até um pouco de suspense. Vale a pena cada página!
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raposisses 13/12/2016

Um livro de surpresas
Quatro Soldados chegou em minhas mãos por meio de vários equívocos. Primeiro, pensei que – como o título do livro sugeria – seria uma história “de cavalaria”, sobre o exército. Não sou exatamente a maior fã desse gênero, então deixei o livro de lado. Depois, pessoas que já tinham lido Quatro Soldados me ofereceram suas opiniões: apesar de ter soldados como protagonistas, o livro não é focado nesse ponto, mas sim coloca mais importância nos aspectos de realismo mágico e folclore brasileiro. Aí sim o livro despertou meu interesse: “realismo mágico” e “folclore” são as palavras mágicas para me fazer ler qualquer coisa. Logo, finalmente peguei Quatro Soldados para ler…

…e infelizmente, descobri que essas informações passadas a mim também não estavam certas: enquanto o livro apresenta sim esses dois aspectos, eles são mais detalhes do plano de fundo, não chegam nem perto de ser o foco principal do livro. Em um primeiro momento eu até pensei em ficar decepcionada, se não fosse por um porém: sim, Quatro Soldados não é sobre realismo mágico, ou folclore brasileiro, ou a vida de soldados, ou o exército português em um Brasil colônia. Mas é sobre algo tão interessante quanto: Quatro Soldados é sobre a história.

Falando assim parece uma coisa meio vaga, meio “trabalho inventado no último minuto”, mas é isso mesmo: Quatro Soldados é sobre contar histórias, e ouví-las. Não importa se é uma história real ou fictícia, não importa se a história está sendo passado oralmente ou por escrita… ela sempre mudará vidas. Há um ótimo uso de justaposição do oral vs escrito no livro, com os personagens de pano de fundo – os moradores das vilas, os trabalhadores dos casarões – sendo todos afetados por histórias orais no decorrer do livro; seja por meio de folclore, lendas urbanas, superstições, ou fofocas. Já os personagens principais – homens da elite e, portanto, letrados – são afetados, principalmente, pela palavra escrita.

Essa justaposição não é o grande foco do livro, mas foi um detalhe que me agradou bastante – e não me oporia a um futuro livro do autor com esse tema principal. Mas em Quatro Soldados, os personagens secundários são apenas isso: secundários. Logo, apesar da “população geral” afetada por histórias orais servir como um ótimo ponto de construção de mundo, é a relação dos personagens principais com a literatura que é o tema mais estudado no livro.

Quatro Soldados não tem uma narrativa contínua como a maioria dos romances; o livro é na verdade uma coleção de quatro novelas, conectadas entre si pelos personagens e tempo/lugar em comum. Em cada uma das quatro histórias, os personagens discutem os méritos da leitura: a leitura de livros sobre “histórias irreais”, “apenas para entretenimento”, valeria mesmo a pena? Em certa cena na primeira novela, o personagem principal se encontra em uma biblioteca particular, à disposição de todos os livros já lançados em português, mas é proibido pelo dono da biblioteca de ler os livros de ficção, devendo ficar apenas na secção de não-ficção. “Há muitos males criados pelo Homem, contudo nenhum se iguala em vilezas a estes romances de ficção”. Já na terceira novela, uma esposa de mercador é julgada como surpreendentemente forte, algo que “aprendeu” com todos os romances trágicos que lê.

A distinção entre o “real” e “irreal” é um ponto de discussão ao longo de todo o livro – as missões designadas aos soldados em cada novela são justamente relacionadas a mistérios, monstros e lugares perdidos que “não podem ser reais” -, e as discussões literárias espalhadas pelo livro são quase uma espécie de “base teórica” para a “experiência prática” das missões. Essa discussão é desenvolvida até a credibilidade do próprio livro Quatro Soldados ser posta em questão; afinal, o livro é narrado por um narrador misterioso que conversa diretamente com o leitor, e em certo momento do livro o leitor é obrigado a levantar a dúvida: seria tudo isso que lemos até agora acontecimentos reais (ou pelo menos reais para o mundo dos personagens), ou apenas divagações do narrador?

Quatro Soldados é o primeiro romance do autor – Samir Machado já organizou coletâneas, e escreveu uma novela, mas Quatro Soldados é seu primeiro livro -, e um livro interessantíssimo de ser analisado. É um livro ambientado no Brasil colônia, e em sua superfície é apenas uma coleção de quatro novelas de aventura e mistério; mas em meio à ação, o autor faz um comentário extremamente engajado sobre temas atuais. Nessa resenha falei só sobre literatura e a questão do real vs irreal, que foram realmente os temas mais desenvolvidos do livro, mas pode-se ainda oferecer comentários sobre diversos outros temas, desde política até religião, passando por sexualidade e preconceitos. E se não bastasse a riqueza temática, é tudo amarrado por uma escrita encantadora. Samir Machado é certamente um autor para ser acompanhado, e mal posso esperar para ler seu segundo livro, Homens Elegantes.

site: raposisses.wordpress.com
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Dudu 07/05/2021

Positivamente impressionado por este livro.

Para quem gosta de uma leitura de fantasia com fundo de aventura histórica, este livro é uma grande indicação.

Esta obra tem o grande mérito de retratar um período pouco retratado na literatura brasileira e, ainda, de maneira tão inovadora.

Fiquei instigado a ler outros escritos deste autor e também curioso para conhecer a História de Gil Blás de Santillana, de Lesage, obra mencionada ao longo do texto.
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Silas 28/10/2020

a ânsia pelo conhecimento
Seja a simples motivação humana em desbravar o mundo e descobrir coisas e lugares novos ou aquele instinto de curiosidade que sempre fala mais alto em nossos ouvidos, é inegável esse instinto de aventura, ou investigação. É realmente muito humano isso, tanto que funciona como fio condutor de gêneros narrativos diferentes até e que aqui em Quatro Soldados se mesclam e brincam entre si, movidos pelo ir além, o explorar das coisas, usando de personagens interessantes e abertos a experiências para nos conduzirem a essas jornadas cheias de possibilidades.
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Aguinaldo 22/10/2013

quatro soldados
"Quatro soldados" é um romance que enfeixa quatro histórias que até poderiam se defender sozinhas, mas que ficam bem juntas. Samir Machado de Machado oferece narrativas que são difíceis de classificar, pois há em todas elas algo de romance policial, deduções detetivescas, episódios de horror, aventura e história. De qualquer forma nelas encontramos entretenimento honesto, que lemos descompromissados, com puro deleite. Samir deve ter investido um bom tempo em pesquisas para dar verossimilhança ao livro, mas o que há de factual nele não o torna um romance histórico aborrecido, antes o contrário, pois sua narrativa está repleta de jogos eruditos, citações (algumas literárias, outras contemporâneas, num flerte com o anacronismo do qual ele acaba se safando bem), além de genuínas invenções, que tem algo de amalucadas, mas que se encaixam realmente muito bem entre si. Os quatro soldados do título são todos jovens oficiais da cavalaria do império português em terras da América do Sul: Licurgo, Antônio Coluna, Silvério e sujeito conhecido como Andaluz (pela ordem: um alferes, um capitão, um tenente e um desertor). As histórias acontecem nos anos seguintes ao Tratado de Madrid e da guerra guaranítica, em meados dos anos 1750. O narrador é um dos quatro jovens (eu até gostaria de explicitar qual deles é, mas aí este registro de leitura estragaria algo do prazer dos eventuais futuros leitores dele). As histórias em si são movimentadas. Na primeira deles ("mas para trazer a espada") Licurgo tem pouco mais de 16 anos, descobre e é aprisionado numa espécie de labirinto perdido no campo gaúcho, na região de Rio Pardo, de onde é resgatado por Coluna. O ritmo segue o manual de uma "a jornada do herói" clássica. Em algum momento descobrimos uma antiga relação que existe entre Licurgo e Coluna. Na segunda parte (tudo o que alvoroça a quietude das coisas) Licurgo já tem 18 anos e é designado para uma missão na região de Laguna. Lá conhece Andaluz, um sujeito muito sofisticado, leitor prolífico e contrabandista de livros (numa época onde o acesso aos livros era controlado com rigor pelo poder português). Na terceira parte (a escuridão secreta do coração da terra) Antônio Coluna é designado para fazer a segurança de uma família de estancieiros que pretendem se fixar na região sul do pampa gaúcho. O grupo é emboscado por um habilidoso sujeito, Silvério, que tenta fazer com que os ataques sejam atribuídos aos índios da região. Na última história (a vila das cabeças cortadas) encontramos novamente o Andaluz, envolvido na investigação da morte de um padre visitador, na região de Laguna. Durante a investigação ele conhece Silvério, cuja montaria desapareceu no mesmo dia em que o padre foi morto. Os dois trabalham juntos algo a contragosto, mas conseguem descobrir as circunstâncias da morte do padre. As quatro histórias falam um bocado dos hábitos de leitura dos personagens (e, com alguma liberdade, dos brasileiros daquele tempo), sobre a gastronomia daqueles dias e do senso de honra daquelas pessoas. Samir toma bastante cuidado com o acerto dos registros de fala dos personagens. A edição é bem feita, cheia de detalhes, inclusive usando uma família tipográfica digital que remete a um folheto impresso em meados dos anos 1740, quando não era permitido a instalação de tipografias no Brasil. A fonte é conhecida como Isidora, o nome do impressor do tal folheto. Samir conta algo disto no blog sobrecapas (há outros curiosos comentários sobre o livro em posts do blog do samir). Certamente esses quatro personagens poderiam continuar suas aventuras vezes sem fim, como um quarteto de heróis gaudérios do século XVIII, mas isso só seu criador saberia dizer. Enfim, bom livro, divertido.
[início: 29/08/2013 - fim: 01/09/2013]
"Quatro Soldados", Samir Machado de Machado, Porto Alegre: editora Não-Editora, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 320 págs., ISBN: 978-85-61-249-47-2
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D.J. Alves 05/12/2021

Um livro que fala de outros livros
Simplesmente fantástico. Fazia tempo que não dava nota 5 a um livro, mas esse merece pela riqueza com que é preparado. Inclusive virou um dos meus favoritos:

Segue algumas frases e tópicos do livro:

Como essas mentes frágeis hão de poder julgar? Ai, cada leitor de romances deve ser considerado uma alma em perigo, pois que fez um acordo com o Demo, desperdiçando seu tempo precioso em troca duma excitação mental das mais mesquinhas e ordinárias. THOMAS PYNCHON, Mason & Dixon

Simplicidade e retidão: duas qualidades que com muita frequência são confundidas ou desmerecidas como ingenuidade.

Era um bom garoto, ainda apegado ao que lhe fora dito sobre o mundo, sem ter a oportunidade de testar suas certezas frente à realidade.

Escute o que digo: não demonstre dúvida nem hesitação, do contrário pensarão que podem exercer influência sobre vossa mercê. Nem seja demasiado cruel ou rigoroso, apenas o necessário para que a hierarquia seja cumprida. Não exija dos seus homens o que não estiver disposto a fazer vossa mercê mesmo. E lembre-se que é responsável pela conduta deles, se não por lei, ao menos por moral, pois estão sob o seu comando.

Contudo de boas intenções enchem-se as prisões.

Se em teoria as ideias correm a perfeição, na prática a cousa é outra.

E, talvez, aí estivesse a lição que precisasse entender: de que não era o acaso que lhe determinava o caminho, mas suas decisões em reação a ele.

A razão pela qual se obedece às hierarquias, padre, dês que os reis são reis e o mundo é mundo, é porque parte-se do pressuposto que a desobediência acarreta punição, e o medo da punição mantém a ordem.
O rapaz tinha um estranho jeito de olhar em volta sem quase mover a cabeça, como quem finge não ver o que está a seu redor, mas secretamente toma nota de tudo.

Eu os julgo ignorantes por aceitarem se deixar guiar por gente como vossa mercê, padre, pessoas que julgam a si pastores e a eles, ovelhas. Mas o Senhor também zela por suas matilhas e, aos olhos do lobo, vossa mercê é tão presa quanto seu rebanho.

Ter iniciativa é um bom ponto de partida que a muitos falta, mas apenas útil quando condicionada pela razão e pela habilidade.

Por que desistir sem lutar? Ocorria-lhe agora que o ato originara-se da sensação de não ser possuidor de grandes méritos dignos de preservar.

corro porque quero correr, e não vou deixar de correr só porque alguém já perdeu a força nas pernas. O senhor só não consegue compreender o que há de bom nesses livros, pois já não tem aquilo que o faria gostar deles!

pois é quando a Virtude falha que um homem prova se há maior nobreza na sua alma do que nas forças que o esmagam!

Somos como peixes atravessando um rio? tinha o hábito de, volta e meia, arriscar-se em aforismos.? Por mais que se tente ir de um lado a outro buscando novos caminhos, o rio vai continuar desembocando no mesmo lugar, pois algumas cousas estão além do nosso controle. E no mais a mais, o homem segue lutando para sobreviver como qualquer outro animal, a diferenciar-se apenas por nossas ilusões morais.

Eu nunca me chamo, pois já estou sempre por perto. Quem me chama são os outros, quando não me encontram.

? A letra ?D??? questionou Licurgo.? De desavergonhada dama decaída? De desonesto desordeiro desbriado? De donzela dadeira danada de doida? ?D? de Diderot e D?Alembert. A Enciclopédia, guri. Ah, deixa para lá. Tu não deves nem saber ler.

? Meu senhor, eu sou um oficial de dragões. Eu sei ler.? Pois azar o teu. Ignorância é uma bênção. Os padres que o digam, já que eles reinam onde ela floresce. Como é mesmo a frase... o último rei, o último padre, e as tripas de alguém?

Não mais do que encontrar um soldado que leia? retrucou o Andaluz.? Ora, não é verdade. Todo oficial sabe ler e escrever, é claro.? Certamente sabem ler. Mas leem? Licurgo ergueu o rosto. Tinha razão; exceto por relatórios e uns poucos manuais, poucos dos oficiais eram dados a leituras.

Não mais do que encontrar um soldado que leia? retrucou o Andaluz.? Ora, não é verdade. Todo oficial sabe ler e escrever, é claro.? Certamente sabem ler. Mas leem? Licurgo ergueu o rosto. Tinha razão; exceto por relatórios e uns poucos manuais, poucos dos oficiais eram dados a leituras.

Além do mais, as moças gostavam dele em específico e ele das moças em geral, o que era de se esperar visto que, sendo soldado, e elas prostitutas, eram as duas profissões mais antigas do mundo dês que a primeira dama em perigo abriu as pernas em troca da proteção dum cavalheiro.

Enfim, ele escreveu um poema. Como era mesmo... ?Eis das Eternas leis o cumprimento, que de um Deus livre e bom requer o discernimento? Que crime, que falta cometeram estes infantes, sobre o seio materno esmagados e sangrantes??. Em livre tradução minha, é claro. Ou seja, se estamos no melhor dos mundos concebido por Ele, onde se encaixa, na bondade divina, a punição aos inocentes? Como é possível que tamanho Mal tenha partido do autor de todo Bem?

Hierarquias existem por um motivo. São necessárias para organizar homens e mantê-los no mesmo caminho, para que alcancem um bem maior que não alçariam por si só, mas não fazem alguém ser melhor ou maior que o outro. Não os nobres, nem mesmo os reis, muito menos o Papa.

Ah, meu único crime é ser livre onde todos têm dono

Ah, que tolice, tu és mais esperto do que isso? refutou o Andaluz.? Se eu fosse rei e não quisesse que me questionassem, diria isso tantas vezes até que esquecessem quem o disse, e todos acreditassem que fosse a ordem natural das cousas, um círculo vicioso onde tu és o que és porque dizes que és, e tu dizes que és porque és o que és!

Na verdade, contrabandear livros era das cousas mais fáceis. Com tanto mais para ser roubado naquelas terras, os fiscais tinham assuntos melhores com o que se preocupar.? É irônico que eu esteja a vender os livros de ideias mais liberais para aqueles que menos desejam mudar algo no mundo. Acho que ninguém sobrevive sem uma dose de hipocrisia, não?

Sim, claro, se estivéssemos falando de cousas possíveis, não estaríamos falando de romances, e a conversa seria um tédio.

O historiador escreve sobre o que se sucedeu, e o poeta, sobre o que pode se suceder.

Ah, agora tudo se explica! Quem te meteu um dislate desses na cabeça!?? o Andaluz exaltou-se, erguendo os braços dum modo intimidante, particularmente todo seu, de tenor de ópera.? Se queres conhecer o passado, busca os clássicos, se queres prever o futuro, vá a uma cartomante... mas para interpretar os dias em que vivemos, só vais encontrar as respostas lendo a ficção do nosso tempo.

O que é um mapa, senão uma mentira na qual todos consentem em acreditar? Mas uma fantasia, uma sátira, é justamente o contrário: uma verdade que todos julgam ser uma mentira, o único modo de se criticar e acusar as mentiras que nos são impostas como verdadeiras.

Nenhuma autoridade é intrínseca, e da farda que se usa à cruz que se louva, só valem algo porque assim o dizemos, pois o homem não se aguenta de pé no mundo sem crer que algo maior o proteja? são cousas que precisamos criar para nos protegermos da solidão desesperadora da falta de sentido, tanto quanto, para que seu valor real nunca seja questionado, precisamos esquecer que foram criadas por nós!

Ouve, que isso não digo a muitos: não faltarão aqueles que tentarão te esmagar debaixo das botas pelo simples prazer de eliminar em ti a virtude que neles falta. Para sobreviver, a virtude precisa ser dissimulada. Sê o cordeiro em pele de lobo, se for o caso. Mas não te tornes algo que detestas para depois dizeres que não houve escolha. Sempre há escolhas

?A luz dos olhos, ao buscar a luz, engana com luz a luz verdadeira.?

Ai de quem esquece que um dia foi pequeno, pois tende a se imaginar maior do que realmente é.

ao que parece, as pessoas muito quietas só conversam quando entre si.

As histórias de heróis são sempre a história dos vitoriosos. E eles aumentam o tamanho dos próprios feitos para ocultar suas falhas. As histórias de amor, ao menos as trágicas e algumas poucas das cômicas, nascem da pena dos infelizes e dos malsucedidos, e eles não guardam ilusões quanto à verdade do que sentem.

Além do mais, é uma verdade universalmente aceita que, para aqueles que não se contentam em acordar e trabalhar e dormir e acordar novamente a viver a mesma vida apática de um boi, as cidades pequenas oferecem poucas opções de entretenimento.

Meu caro, já faz muito tempo que me abstenho de julgar? diz o frei.? Se todos querem ir ao inferno, que posso fazer? Se esta terra tivesse vocação para a castidade, teria mantido o santo nome de Vera Cruz, e não o dum pau abrasado e vermelho.

Agora escute. Esta conversa não está se dando no nível de respeito mútuo com o qual a iniciei,

Não consegue evitar de ranger um ou dous degraus, e logo surge Joana, parada no topo da escada. Não conseguia dormir de tanta preocupação, diz-lhe, pois o Andaluz demorava para voltar, mesmo sabendo ser ele um animal de hábitos noturnos. Além do mais, há a questão de continuar sua educação sobre a história da colônia e as relações luso-holandesas ?ela quer saber como terminaram, afinal, as Invasões Holandesas. O Andaluz sorri e, como sempre, propõe-lhe uma demonstração prática, Joana representando a cidade de Recife, ele no papel de Felipe Camarão, a penetrar as terras dos Países Baixos e reconquistando cada território até que cheguem à capitulação, ao que a Holandesa já suspira: Mijn God!

Quis dizer que já tem um galo neste galinheiro, soldado. É bom baixar a crista.

Confesso que tal imagem até vem a calhar, sempre que esperam pouco de ti, tu podes pegar o outro desprevenido...

Tudo o que existe nasce de ovo ou barriga. E se nasce, pode ser morto. Agora, se me dás licença...

Pelo visto, gentalha desavergonhada e sem decência é o que não falta por aqui. ?Por experiência própria, digo que há mais decência entre os desavergonhados. Ou menos hipocrisia, não crês? Ora, que homem se conhece que tenha casado virgem? Não entendo por que se impor o mesmo fardo às damas, se uma vez casados, cada um faz o que bem entende. Além do mais, há mais cousas definidoras do caráter de uma pessoa do que saber com quem ela se deita

Ah, as velhas obsessões com o inferno. É um absurdo do ponto de vista lógico, sabia? Não há sentido na ideia de uma punição infinita quando, em termos racionais, não existe crime infinito. O único verdadeiro inferno, creio, é a vergonha de si mesmo. E a vergonha é sempre algo imposto pelos outros, não concordas? Sem vergonha, sem inferno.

?o que irá responder este nosso século dezoito quando, com muita pompa, entregar a seu sucessor o conjunto destes seus conhecimentos que julga sem limites, apenas para descobrir que o século dezenove, rindo de seu orgulho, o reputará ainda mais bárbaro do que este julga aqueles que o precederam??

O mundo é uma abstração caótica constante, interpretá-lo é moldá-lo conforme uma ideia, e é isso que torna a artificialidade da imaginação tão assustadora: no princípio, há sempre o caos, e cada um faz seu céu e sua terra, cada um cria sua própria aurora, pois tudo que pode ser imaginado pode ser concebido. Sim, há um Novo Mundo nascendo, reafirma
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Carol 25/01/2021

Quatro Soldados
Quatro Soldados é uma obra que a ficção histórica nacional precisava. Dividido em quatro narrativas complementares, a história é muito bem conduzida por um narrador sagaz e cheio de opinião. Suas histórias são entrelaçadas através da vila de Laguna, o Regimento dos Dragões e as ligações a serem reveladas entre eles.

Machado trouxe referências mitológicas, aventuras e até situações cômicas, mas também mostrou um profundo conhecimento filosófico e literário que não é dado gratuitamente, mas que constitui a multifacetada personalidade de Andaluz (admito, o meu personagem favorito). Como ele mesmo se define, "meu único crime é ser livre onde todos têm dono".

Não espere uma simples narrativa de aventura, pois as reflexões sobre o poder da ficção como uma maneira de confronto da nossa realidade é um exemplo do caráter complexo do livro. E não espere uma história enfadonha - a narrativa ritmada e cuidadosamente alinhada aos costumes e fatos históricos acerta maestralmente com o equilíbrio dos elementos.

Por último, mas não menos importante, é necessário aplaudir a belíssima edição do livro. Se a linguagem de Machado já consegue nos transportar para um Brasil Colônia, a apresentação do livro como uma tradução de histórias do Regimento abre as cortinas para um palco preparado a fim de garantir nossa completa imersão. Licurgo, Andaluz, Antônio e um misterioso soldado são aproximados aos cavaleiros das novelas de cavalaria - embora muito mais reais.
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Ítalo 30/08/2017

Aventuras no Brasil Colônia
É muito bem vinda uma mudança de ares em termos de ficção histórica, narrar uma aventura durante o século XVIII no Brasil.

Estamos tão acostumados a ler obras passadas na idade média européia ou na antiguidade que esquecemos a riqueza histórica, social e ambiental que é esse período da nossa própria história, que na época ainda era uma colônia disputada por duas grandes potências marítimas, constantemente visitada por vários povos e que abrigava uma imensa diversidade de culturas e etnias.

O autor Samir Machado de Machado tempera o texto com termos e pensamento da época, mas embalados numa estrutura mais moderna, com narrativa ágil e recheadas de easter eggs para o leitor moderno se divertir durante a prazerosa leitura.

Uma aventura escapista, mas com elementos suficientes para sairmos enriquecidos ao final da experiência.

Recomendo a todos.
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danilo_barbosa 15/05/2022

Deveras divertido!
No Brasil do século 18, numa época em que a fé, a violência e a lealdade à Coroa se misturavam, quatro homens diferentes são unidos por uma mesma sensação: a inquietude diante do mundo onde vivem. E é essa coisa, constante, incômoda e questionadora que os faz seguir adiante em “Quatro Soldados”, o primeiro livro que li de Samir Machado de Machado.
Um jovem idealista, um aventureiro com uma característica que o torna especial, um homem na busca de reatar laços do passado, um assassino… Serão partes de um mesmo protagonista ou caminhos que se cruzarão? Terão sua jornada marcada pela veracidade dos fatos ou uma mera ficção criada por um imaginativo autor?
Utilizando de embasamento histórico, tanto nos fatos quantos na própria linguagem utilizada na época, o autor nos transporta a uma aventura que relembra ora narrativas fantásticas, oras os clássicos romances de capa e espada, mas sem nunca perder as referências contemporâneas, como filmes, games, e outros ícones de cultura pop. Mas, ao mesmo tempo, Samir possui voz e estrutura próprios, uma forma de nos envolver na trama que, em um primeiro momento, pode causar estranhamento, mas depois nos imerge numa época em que viver era a maior aventura de todas.
Assumo que comecei a ler de forma despretensiosa, mas a cada página nova eu me envolvia, ansioso por conhecer mais da jornada daqueles homens, em um Brasil tão diferente e, ao mesmo tempo, com muitas das mesmas problemáticas pelas quais passamos hoje. E, ao findar a página, pedia ao voluntarioso narrador que interagia comigo, exprimia opiniões e divagava no decorrer da trama, como se fosse um amigo a me confidenciar algo, que mandasse mais notícias de tão maravilhosos soldados. O resultado é que já tenho mais alguns títulos do autor em minha estante, na esperança de viajar por tão intrépidas campanhas, como fiz nessa obra.

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Didio 22/09/2021

Que história rica de se ler
Adorei o livro. A forma como o autor vai contando as histórias é muito divertida e instigante. Dei boas risadas e me surpreendi muito! Espero, do fundo da alma, que tenha um livro para contar mais sobre as aventuras do Andaluz.
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Fábio 21/08/2020

De tirar o folego
Uma leitura cativante e muito interessante sobre os primórdios do Brasil.
A leitura é leve e ágil, é possível terminar o livro em dois ou três dias pois você não vai querer parar de ler.
Os personagens são cativantes, até os "vilões" são ótimos e tem grandes momentos, e a atmosfera é impar.
Com certeza pretendo logo ler mais livros do Samir Machado.
Mais do que recomendado, leia e não irá se arrepender.
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Ricardo Santos 27/12/2017

Ótimo casamento do erudito com o popular
Eu sempre quis ler um romance nacional como Quatro Soldados. Samir Machado de Machado mistura sem nenhuma cerimônia e com muita habilidade referências da chamada alta literatura a outras do puro entretenimento. Assim, ele cria uma obra híbrida e muito particular. Tem trama interessante? Tem. Tem protagonistas bem desenvolvidos? Tem. Tem worldbuilding e sense of wonder convincentes? Tem. O texto tem apuro literário? Tem. O romance é episódico. Aventuras passadas num Brasil do século 18 fantástico e brutal. Na verdade, outra delícia do livro é sua autoconsciência irônica, como um bom romance pós-moderno. Parece chato dizendo isso. Pelo contrário. É divertido, sem perder a lucidez, a elegância. Tem seus problemas: falta de personagens femininas de fato relevantes, uma sensação de obra incompleta, conclusão insatisfatória do arco de alguns protagonistas. Quatro Soldados mostra um Brasil mítico para falar sobre o absurdo da realidade, com ecos no país de hoje. Não bastasse o texto cativante, o projeto gráfico da edição em papel é um luxo só.
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