Zelinha.Rossi 31/03/2023
"Desde os meus primeiros movimentos na escrita eu sabia que não seria uma romancista. Não levo jeito para debates muito extensos, não poderia me dedicar a personagens longas de vida grande como fizeram grandes autores (me faltaria cacife e, honestamente, um peito mais generoso). Não faz meu tipo defender verdades. Eu sempre tive tendência a contos curtos, micropoemas, artigos tortuosos sobre coisas de pouco valor. Crônicas indigníssimas. Gosto de invenções. Gosto da dúvida, me agradam as fundações mentirosas de Atlântida. Dou aos meus escritos o tamanho que eles devem ter, as alturas de abismo não me interessam – é como eu sempre digo, prefiro desabar de mim mesma e não do lombo de outras feras.”
Este trecho é a definição perfeita da obra, que reúne pequenas crônicas escritas pela autora para o jornal no qual trabalhava. Não seria um livro que eu decidiria ler por conta própria, pois prefiro a leitura de romances. No entanto, foi uma experiência diferente que valeu a pena, os textos são bonitos. Durante a leitura, fiquei me perguntando se os temas recorrentes (a perda da mãe, a internação e os problemas psiquiátricos do pai e o fascínio por casas abandonadas) não seriam parte da vida da autora, o que confirmei ao ler a apresentação e o prefácio (que, ironicamente, sempre deixo por último por medo de spoilers). A crônica que mais me comoveu: “Então rio”.