Marco 09/10/2017
"Lula e os Brasileiros".
A obra de Flávio Gordon é para realidade tupiniquim o que a série de palestras ministradas por Eric Voegelin, "Hitler e os Alemães" (condensadas em um livro) foi para o povo alemão. Qual seja: um esforço não só para explicar a insana realidade totalitária (ou "pós totalitária") corruptora na cultura brasileira, mas também exorcizar esse fechamento da alma, essa corrupção da inteligência dos indivíduos e das instituições que representam, que acabaram por permitir o arrasamento do que hoje é o Brasil pós-PT. Um país feio, violento, grotescamente corrupto e burro.
O autor mesmo admite com ironia que o título do livro deveria ser esse que coloco em minha resenha, pois busca - assim como Voegelin com o nacional socialismo - compreender (mediante um esforço anamnésico) como tudo isso foi possível. Como um ser medíocre como Lula e seus asseclas, sucedido ainda por uma mulher com claros problemas cognitivos e de dicção, alçaram e mantiveram o poder por 13 anos, ainda conseguindo encontrar sólidas trincheiras defensivas nos meios acadêmicos, intelectuais, midiáticos e de boa parte da população brasileira, mesmo com todos os escândalos de mensalões e petrolões, no maior casso de corrupção de um "regime democrático" em toda história do mundo ocidental.
Para isso, Gordon ressalta que utilizará de uma linguagem clara, sem floreios, onde os termos correspondem com a realidade e expressam o que realmente são. Para inteligências mais sensíveis que se ofendem com facilidade (ou fingem se ofender e passam a acreditar nisso), o autor pode até parecer, em alguns momentos, grosseiro e intransigente. Mas há de se esclarecer a necessidade da linguagem direta: é um processo de desintoxicação para o autor, assim como para aqueles que buscam um lastro de sanidade em meio ao asilo cultural em que vivemos. Isso ocorre, pois em regimes e culturas totalitárias, a linguagem passa a ser deturpada em prol de uma causa, sendo utilizada como um gatilho que ativa emoções não correspondentes ao real, podendo estas serem canalizadas e guiadas para um fim específico. É a "novalíngua" Orwelliana atuando de forma inconsciente no imaginário popular.
Exemplo: O fato de grupos feministas utilizaram-se de palavras como "o direito reprodutivo da mulher" para se referir ao aborto. Não precisa ser muito inteligente para perceber, que na realidade, o ato de abortar trata do exato oposto pretendido pela camuflagem do termo.
Em outro insight brilhante, Gordon cita Karl Kraus e sua constatação sobre a linguagem no terceiro Reich. Sendo o povo alemão dono de uma tradição marcial e militarista, Kraus percebeu que toda as metáforas advindas dessa mesma tradição ("deitar sal nas Feridas Abertas", "colocar a faca na garganta", "agir com punho firme") passaram por uma grotesca literalização. E, sendo o Brasil o país da piada pronta, com um povo tradicionalmente irreverente e brincalhão (a nossa amada "Zoeira"), um dos efeitos constatados e visíveis em toda essa insânia moderna, é o fato de se levar a sério o que era uma piada, o que era ridículo e absurdo.
Mediante o exposto, fica clara a necessidade de ser dar nome aos bois: Se Flávio chama Lula e outros intelectuais medíocres pelo que realmente são, não é de forma gratuita. O efeito é quase terapêutico, afinal, como ele mesmo diz, não há nenhuma virtude ou genialidade proveniente de Lula. O que chama a atenção são seus vícios. Suas "virtudes" alardeadas são frutos de um desejo mimético de projeção de nossa classe intelectual, parada no ano de 1968 e ainda ansiosa por uma revolução total.
Aqui o autor explicará de forma extremamente didática o caminho percorrido por nossa esquerda, engajada em uma vitoriosa guerra cultural pela hegemonia cultural absoluta, mediante o uso da estratégia gramsciana de poder, a fim de tornar o Partido um Príncipe Moderno, sempre correto, sempre representante do devir histórico e, portanto, último juíz de valores absolutos.Pode-se entender como o projeto petista de poder (utilizando-se da corrupção não como um fim [como se isso não fosse grave o suficiente], mas como um meio) subverteu e corrompeu todo espírito e moralidade em prol de uma causa, com a ajuda de seus intelectuais orgânicos.
O resultado é a catastrófica distância intransponível entre a elite intelectual do país e o povo que diz ela representar. Não à toa presenciamos esse comportamento trapalhão e perigoso de nossa classe falante, caracterizado por atos contraditórios em um misto de elitismo esnobe com o anseio de querer fazer parte E de ser o representante das classes mais pobres. Todo mundo já presenciou esse fenômeno até mesmo na sua forma micro-social: quem nunca viu nossos progressistas dispensarem um tratamento condescendente às classes mais pobres ou pertencentes à determinada minoria, como se estivessem se referindo a um deficiente mental ou doente terminal, ansiando por dirigir suas vontades atrás de um teclado. Isso até estarem estes de acordo com a pauta do Partido e sua Hegemonia. Caso desprendidos desses cacoetes, nossos progressistas não pensam duas vezes em tachá-los de burros, inimigos (fascistas) ou de trabalharem em prol das elites (sendo a elite nossa própria esquerda), mediante o uso da titularidade acadêmica.
O livro conta com uma imensa bibliografia e citações a fim de fundamentar o que defende o autor. E ele faz isso com maestria e de forma simples, explicando – quando necessário – as idéias que adquiriram concretude em nossa cultura e seus autores, como também as conseqüências destas para o panorama atual.
Prestes a concluir, devo dizer que “A Corrupção da Inteligência” trata-se de leitura obrigatória para o Brasil. Temos aqui um esforço intelectual genuíno de compreensão da falsificação da realidade por uma cultura totalitária, que se utiliza não da censura e da violência física (muitas vezes usa diretamente) como motor de um movimento de mentalidade revolucionária, mas sim a ocupação dos espaços públicos (universidades, jornais, televisão, cinema, música) a fim de moldar o imaginário brasileiro nos ditames do Partido Príncipe. Por isso, mesmo não sendo obrigatório para compreensão da obra, recomendaria também que antes fosse lido “Hitler e os Alemães” de Eric Voegelin. Como já dito anteriormente, Flávio Gordon é muito didático ao explicar idéias filosóficas e até mesmo História. Ocorre que a leitura anterior de Voegelin e sua obra podem abrir um vislumbre no que representa o livro de Gordon, uma vez que a imaginação moderna consegue compreender facilmente a monstruosidade que é o nazismo, mas não o projeto de poder em vias de um socialismo sul americano culminando com a homogeneidade e o esmagamento das consciências individuais de todo um povo.
Entendido isso e munido de uma cura quase terapêutica, o leitor poderá entender que tal estado de coisas é possível não apenas pelos seus agentes preponderantes e diretos (intelectuais conscientemente engajados com um mundo totalitário, políticos, militantes), mas também por pessoas comuns que pecam por omissão. A “descorrupção” da inteligência, da alma, do espírito de uma sociedade doente, deve então começar pela consciência individual de cada um. Só para citar um exemplo de um caso pessoal, recordo-me de quando o blogueiro e (intelectual orgânico) Leonardo Sakamoto escreveu um artigo afirmando que, “ostentação deveria ser crime”, dando a entender que aquele que comete latrocínio é levado a fazê-lo por ser uma vítima de classe, e, portanto o culpado é aquele que ostenta um carro, relógio, celular...
Essa publicação bateu um recorde de compartilhamentos no meu feed do facebook pelos meus amigos progressistas. Quando alguém tentava discordar, era sempre de forma respeitosa, querendo debater com ressalvas a tese ali exposta. Eu fiquei pasmo. Não precisa ser um gênio para perceber que aquilo era uma completa idiotice, e quem escreveu tal absurdo deveria ser relegado ao ostracismo jornalístico, e aquele que defende tal tese deveria tomar vergonha na cara. A mera hipótese da discussão séria dos temas expostos comprovou que tal atitude poderia um dia ser levada a sério pela nossa classe pensante. Observando isso e diversos casos semelhantes na minha vida, constatei o mesmo que Flávio Gordon: essas coisas acontecem, pois o indivíduo comum sente medo. Não o medo físico de tomar uma surra, ser morto, etc (e isso muitas vezes ocorre), mas sim aquele medo característico dos regimes totalitários, que chega a ser psicológico (e patológico). O medo não de ESTAR errado, mas sim de SER ERRADO. Medo de não ser bom, de ser mau diante dos olhos da cultura dominante e ser relegado ao isolamento físico e espiritual, que viola de forma brutal a consciência individual diante de um peso monstruoso e coletivo.
Portanto, repito: “A Corrupção da Inteligência” é leitura obrigatória. A limpeza da consciência se dá buscando compreender como tal estágio foi atingido e dando o devido nome aos bois.