Adriana Scarpin 26/12/2017Em honra de Kate Millett (1934 - 2017)Uma dos baluartes da segunda onda feminista, Millett reverberou tudo que havia de errado com o backlash pós-sufrágio que as feministas sofreram no século XX e essa é uma tentativa de desmistificar tudo que o saber-poder masculino tentou nos impingir durante séculos.
A primeira parte do livro abrange todo o período histórico e cultural considerado como a primeira revolução sexual, de 1830 a 1930, Wollstonecraft, Mill, Engels, Charlotte Bronte, Thomas Hardy, George Meredith, Oscar Wilde, Ibsen são contrapostos a Rossetti, Ruskin, Tennyson no delinear de como eram vistas as mulheres no século XIX e o que historicamente estava acontecendo nos EUA e Inglaterra para que as coisas mudassem com as sufragetes. Vemos duas visões díspares na sociedade vitoriana, primeiro a eficiente visão de John Stuart Mill descrita em A Sujeição das Mulheres e a insípida e tenebrosa visão de John Ruskin.
Na segunda parte do livro temos os exemplos da contra-revolução, o backlash, primeiro exemplificado com as diferenças ocorridas na sociedade alemã com o nazismo, de como as mulheres voltaram a serem vistas como "parideiras" do Estado. Logo a seguir vemos como a Revolução Russa foi libertária para as mulheres dando-lhes direito ao aborto e à igualdade social para logo em seguida com o advento do stalinismo serem novamente relegadas à condição de párias sociais.
O créme de la créme dessa segunda parte do livro é a extensiva análise sobre o reacionarismo freudiano e o quanto a visão equivocada de Freud sobre as mulheres as prejudicou no século XX e foi pedra de toque para os movimentos reacionários com relação à política sexual. De fato, tudo que Freud escreveu e falou sobre as mulheres é um show de horrores, é humanamente impossível lê-los e extrair algo de bom daquilo, é de uma misoginia sem parâmetros, o que acabou obscurecendo a mente dos pós-freudianos e dos funcionalistas também.
Enfim, livro fundamental sobre a história da política sexual, assim como baluarte do movimento feminista.