Jow 21/09/2011O fôlego que se toma antes do mergulho.É engraçado como depositamos tanta confiança e tanto sentimento nas pessoas. Em pessoas que achávamos conhecer, mas, que no fim, só mostraram ser iguais a todos. E por esperar demais, sonhar demais, criar expectativas demais, sempre acabamos nos decepcionando e nos machucando cada vez mais. Dalai Lama
Confiança é o alicerce básico para se construir uma relação, independente do tipo de vínculo que a mesma seja capaz de propor. Mas, quando uma relação de amizade tem em meio a baila a vida daqueles que estão envolvidos, é impossível que algo se sustente sem uma confiança mútua, sincera e completa. Em Mago e Vidro tivemos uma demonstração cabal de confiança mútua, no exato momento em que Roland abriu seu coração e descortinou o seu passado flagelado ao seu Ka-Tet. Vimos então, um elo que parecia ser intransponível, um sentimento que os envolveria onde quer que eles fossem, e que os fariam colocar a vida nas mãos uns dos outros se fosse preciso, que dava a entender que nenhum acontecimento externo derrubaria essa confiança, a não ser que eles começassem a desmoronar entre eles mesmos.
E foi isso que aconteceu! Lobos de Calla é uma extensa lição sobre as decepções que uma amizade sem confiança pode deixar, mas também é como disse Gandalf: O fôlego que se toma antes do mergulho. Este livro se torna o impulso que faltava para que começássemos a sentir a força da Torre Negra de perto.
Ainda encantados pelo brilho ofuscante de Mago e Vidro, nos encontramos na cidade de Calla Bryn Sturgis, que se torna única pela incrível peculiaridade onde todos os nascimentos de crianças da cidade são de gêmeos. Esse fato incomum faz com que essa cidade esquecida no tempo e no espaço, seja atacada em intervalos de décadas, onde Lobos roubam uma das crianças gêmeas de cada família de Calla, e os devolvam depois de algum tempo, totalmente mutiladas tanto mentais, como fisicamente. King mais uma vez trabalha o enigma que sustenta o livro de uma forma paralela, mas intensa! Temos um livro longo por excelência, que se torna enfadonho em algumas partes e que aparentemente não acrescenta em nada à busca pela Torre.
São os fatos psicológicos e as conquistas individuais que dão força a trama. Jake e Eddie possuem momentos magistrais dentro da obra, Roland se torna um mero coadjuvante perto dos dois, e Susannah desenvolve um mundo particular, que deverá ser mais bem explorado no volume seguinte da série. A surpresa fica por conta de Padre Callahan, antigo personagem de King egresso do livro A Hora do Vampiro. Suas histórias do passado acrescentam bons ritmos à trama, e desenrolam novas possibilidades para a série.
Mesmo assim, o livro poderia ter tomado uma rota mais curta para a história que se propôs a contar. Somos metralhados por contos por vezes sem fim, que por muitas vezes se tornam irrelevantes para a obra. As ultimas 100 páginas destoam do conteúdo inicial e povoam de forma magistral a cabeça do leitor, nos fazendo redescobrir o valor que a série tem, fazendo com que possamos ansiar pelo próximo livro.
Finalmente só nos resta esperar que A Canção de Susannah venha interferir de vez na busca pela Torre, e que o Ka-Tet de Roland tenha aprendido a lição que começaram a ensaiar em Mago e Vidro. Confiança é fundamental!