Fernanda631 05/07/2023
Lobos de Calla (A Torre Negra #V)
Lobos de Calla (A Torre Negra #V) foi escrito por Stephen King.
Acho que é nesse livro que a gente começa a se sentir mais próximo da Torre Negra. No volume anterior, o ‘clima’ da Torre Negra começa a ter mais destaque, e neste aqui já tomou conta. Agora, Roland e seu ka-tet chegam em Calla, uma cidade que realmente não dá pra entender se está no passado, no presente, no futuro, no nosso mundo ou n’outro. E não, não digo isso como se fosse ruim, pois achei super interessante o modo que King coloca a cidade ali, com seus problemas e seus cidadãos todos.
Como no anterior, Lobos de Calla tem uma grande história, com uma preparação imensa até chegar na ação. Só que em Mago e Vidro o foco é o passado, e em Lobos de Calla temos foco no presente, e na evolução dos personagens do ka-tet.
O subtítulo do livro é RESISTÊNCIA e não teria palavra melhor para descrever o que se passa em Calla. Depois de décadas aceitando passivamente que os lobos levem as crianças, a cidade pela primeira vez decide se rebelar. É também a resistência de Susannah, que precisa lidar com a gravidez de um demônio e o surgimento de outra personalidade dentro dela (como se já não bastasse ser dividida entre Detta/Odetta).
É impressionante o quanto os personagens apresentam um crescimento neste livro. Se em Mago e Vidro a história do passado de Roland era o que fez o livro ser tão incrível, nesse livro arrisco a dizer que ele quase é um dos coadjuvantes.
Quem rouba a cena é o resto do ka-tet. Eddie Dean se mostra um pistoleiro completo e, quando Roland pensa que vai sucumbir, é em Eddie que ele pensa para liderar a busca pela Torre. Susannah precisa lidar com a gravidez do demônio e com a nova personalidade, sempre lutando para não prejudicar o grupo. O garoto Jake tem, depois de muito tempo, a chance de ser criança novamente, mas ao mesmo tempo mostra o amadurecimento de um pistoleiro, sendo fundamental para a história.
Além dos já tradicionais membros, o padre Callahan também passa a integrar o ka-tet dos pistoleiros. Personagem do livro A Hora do Vampiro, do próprio King, Callahan também é da Nova York de onde vieram Eddie, Susannah e Jake. O problema do personagem é que, para quem não leu A Hora do Vampiro (e me incluo nesse grupo), muita coisa ficou como não dita. De modo algum isso chega a prejudicar a história de Lobos de Calla, porém tenho certeza que teria entendido muito mais se já tivesse lido a obra antes.
as os seis (se contarmos o trapalhão Oi como membro do ka-tet) também enfrentam um problema maior do que a ameaça dos lobos. Em certo momento, Jake confronta Roland e diz que o ka-tet estava quebrado. Segredos que não podiam ser ditos a todos, planos que não podiam ser completamente contados, relações estremecidas. É nesse momento que o livro deixa de falar sobre a batalha futura e se foca em um ponto que creio ser importantíssimo para as continuações: a confiança.
Para o ka-tet estar em sua mais perfeita ordem, é preciso que os pistoleiros confiem no outro a sua vida. A partir do momento que essa ligação se quebra, eles não podem mais confiar um no outro. Como proceder com isso em uma batalha? É impossível. Por isso um dos grandes desafios do livro é mostrar como os personagens se desenvolveram como pistoleiros e como eles podem tentar superar esses problemas.
Por falar na batalha, vamos detalhá-la melhor. “Senhor, nosso negócio é chumbo” é uma frase dita por Steve McQueen em Sete Homens e um Destino e é uma das epígrafes de Lobos de Calla. Na nota do autor, King ainda agradece a Sergio Leone. Essas referências ao gênero faroeste não são gratuitas. A última das três partes do livro bebe diretamente desta fonte e faz com que o clímax seja algo de tirar o fôlego. Afinal, de acordo com Roland, “é muito tempo de preparação para cinco minutos de tiroteio”. E esses cinco minutos ficaram espetaculares nas mãos do King.
Algo que me conquistou nessa série foi isso: a evolução dos personagens. Lembro como achei Eddie tão bobo, e agora gosto bastante dele. Jake, era tão criança, agora parece que tem a idade dos outros membros do grupo. O próprio Roland já mudou muito. Susannah acho que é uma personagem que merece muito destaque e devemos falar dela à parte, pois são muitas personalidades juntas numa só mulher. Aliás, o próximo volume chama-se “Canção de Susannah”, né? Estou ansiosa para começar a leitura dele!
Creio eu que outro destaque d’Os lobos de Calla são as ‘coincidências’ do ka. Na cidade de Calla temos um padre chamado Callahan e ele, veja só, é também de NY. King fica bastante tempo nos mostrando a história dele, e daria pra fazer até uma nova série só com isso.