Ana P. Maia 22/01/2018
O preço de um olhar - The Queen's Castle
Saudações nobres,
Hoje é dia de resenha de parceria. Lady Cíntia arquiteta um romance de época leve e de leitura rápida. A proposta é de uma construção simples e de fácil entendimento, ainda que seja um livro histórico, ele não se apega a construções elaboradas e rebuscadas de descrições e diálogos.
Como a própria sinopse aponta, o ano é 1986. E mulheres foram feitas para casar e ter filhos, nada mais. Seria uma lástima, se em uma família tradicional, com uma dessas mães feitas para o papel, a única filha fosse contraria a esses costumes. Laura estava mais interessada em livros do que em namoros e a perspectiva de casamento não lhe era simpática. A menina – de fato, uma menina – se vê então um tanto desesperada quando o pretende perfeito aparece: Fernando. Não que ele não fosse bonito o suficiente, educado e possuidor de todos os adjetivos possíveis. Apesar das convicções e do que estava edificando ao seu redor, ela se deixa cativar – minimamente – pelos olhos verdes do rapaz.
Do outro lado, Fernando tem 17 anos e mesmo sabendo de suas obrigações como herdeiro, está mais interessado em desfrutar o que posição e beleza oferecem. Um casamento com aquela “criança” não seria verdadeiramente cogitado.
Só que para desespero dos protagonistas e das famílias, algo obriga o noivado. E tendo a condição das idades, da faculdade de Fernando e outros pormenores, o casamento só seria realizado em 4 anos.
Tempo suficiente para que as coisas mudem, e principalmente, para que as pessoas mudem. Laura almeja medicina, tem talento e capacidade para isso. Fernando quer manter a vida libertina e desregrada sem uma esposa em casa. Eis que a solução ideal seria não realizar esse casamento. Porém, o encontro dos dois depois desse período conturbado em que preferem ignorar a existência um do outro impossibilita desfazer o compromisso.
O casamento é realizado, e uma série de acontecimentos estremece e aproxima o casal, que aos poucos se conhece e se entende. Mas é aí que a obra toma ares de novela, e os fatos se desenrolam com aquela perplexidade costumeira dos folhetins globais em que o telespectador se pergunta: “Como, diabos, o protagonista pode ser tão cego e tão obtuso?” – poderia ter usado outro adjetivo para “obtuso”, preferi manter parte da elegância –. O fato é que tanto Fernando quanto Laura não são capazes de enxergar uma armadilha. Acredito que o caso de Fernando seja ainda mais impressionante: Laura tem motivos e provas para desacreditar as afirmações do marido, já ele, é apenas um homem – sendo homem, independente do século em que se encontra –. Diria que a facilidade com que Laura se deixa levar também me desgosta um pouco, esperava mais firmeza dela em algumas ocasiões, firmeza que é vista nas derradeiras páginas, quando a personagem toma uma decisão drástica para resolver seus dissabores. Entre o dois, prefiro Laura.
Além do plano central, há outros personagens relevantes, que de algum modo retratam a realidade da época, o preconceito – seja ele de qualquer tipo –, a construção da imagem da mulher, os “novos tempos”... A autora foi capaz de pontuar suas páginas com o que era natural – ainda que indignante – dos costumes do final do séc. XIX e início do XX. Há traços do regionalismo de José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo – “O tronco do ipê” e “A Moreninha”, respectivamente –.
Aviso aos leitores que o livro não tem final, a última página deixa o futuro dos personagens em aberto.
A diagramação é simples, as páginas são brancas e a fonte tem tamanho agradável. Não foram percebidos erros de revisão ofensivos aos olhos. A narrativa se dá em primeira pessoa, na voz do personagem que o representa, vale ressaltar a construção dos cadernos e diários dos protagonistas em cada capítulo. Por fim, parabenizo a autora pelo esforço e pela capacidade de lançar de forma independente a sua obra, sabemos da dificuldade de tal empreitada no Brasil.
A Rainha aguardará a continuação de “O preço de um olhar”, com a esperança de um final feliz, como todos os romances merecem.
“O que se passou em um olhar?
Além das pupilas dilatadas,
A respiração sem ar
O calor nascente.
Eu não era imune a ele
Não, não era indiferente.”
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