Paulo Silas 19/03/2021Como um livro clássico pode ser assim definido e quais os motivos que justificam a sua leitura? Há uma razão que ampare a necessidade de visitar os clássicos, conhecê-los, lê-los? É em torno dessas questões que essa obra de Italo Calvino gira, buscando estabelecer os porquês que levam à leitura dos grandes clássicos da literatura, enfrentando desde logo as diretrizes ou critérios que podem classificar determinada obra enquanto tal. Quem define o que é clássico e a partir de quais elementos o faz? É o que o autor busca, de certo modo, demonstrar.
A questão do título é especificamente dialogada no primeiro capítulo da obra, no qual o autor tece algumas propostas de definições sobre o que seriam os clássicos. "Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo..." e nunca "Estou lendo..."" - essa é a primeira proposta feita que definiriam os clássicos. A partir dessa, Calvino propõem ainda outras treze definições, sempre questionando e explanando a própria máxima que alude - por exemplo, na sua terceira definição, em que estabelece que "os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual", tece como comentário que "deveria existir um tempo na vida adulta dedicado a revisitar as leituras mais importantes da juventude", mantendo como padrão sempre esses comentários sobre cada máxima enunciada. Após isso, o livro segue com diversos capítulos de análises do autor sobre várias obras literárias e autores considerados como clássicos (Stendhal, Dickens, Flaubert, Tolstói...) - como que para corroborar com o sentido que os leva a serem considerado clássicos.
O livro funciona bem dentro da proposta de Calvino, mas acaba sendo meio... arrastado. Isso não usar o termo "chato" em referência a uma obra do autor. Talvez funcione melhor para quem tenha lido a maioria dos livros e autores que Calvino faz menção e aborda, pois suas análises são bastante pormenorizadas e trabalhadas, deixando a leitura um pouco cansativa. De todo modo, o primeiro capítulo vale pela obra toda, pois é justamente onde se indaga sobre a questão dos clássicos, valendo mencionar a única verdadeira razão que Italo Calvino defende sobre a necessidade da leitura dos clássicos: "ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos".