Retipatia 05/11/2018
Com todo o coração...
Adam acaba de passar pela pior situação de sua vida: foi deixado no altar pela mulher que ele ama. Seu coração, ou o que restou dele, agora está bem guardado sob altos muros que ele construiu dia a dia, prometendo a si mesmo que nunca mais o entregaria a ninguém, porque a dor é insuportável, algo que ele nunca mais desejaria passar. Sem saber ao certo o que esperar do futuro, ele segue em um mochilão pela Europa, para conhecer os lugares que sempre sonhou.
Sophie desperta pela manhã e sabe que o dia não parece comum. Seu corpo parece prestes a entrar em combustão e, invariavelmente, seu coração não está batendo no ritmo correto. Nem mesmo o seu dia no ateliê, em que ela desenha lindos vestidos de noivas para sua loja, parece o mesmo. As coisas pioram quando, ao visitar seu sobrinho recém-nascido, a razão de todo seu desatino resolve aparecer: Adam, é claro. Mesmo só tendo o visto uma única vez, há meses, ele não sai dos seus pensamentos e faz seu coração trepidar com um único sorriso.
O reencontro no hospital é apenas uma centelha que faz incendiar seja o lá o que Sophie esteja sentindo, o que a faz ignorar até mesmo o fato de que Adam é ex-namorado de Elena, a esposa de seu irmão Daniel e, assim, ela não hesita em procurá-lo no dia seguinte, ainda que não saiba exatamente o motivo que a levou a isso.
São encontros e mais encontros, semelhanças que surgem que vão do gosto pela comida ao humor nas conversas e fazem o coração de ambos bater mais forte. Uma série de quase beijos e, Adam, que havia interrompido seu mochilão para conhecer o bebê de Elena e Daniel, estaca os pés em Nova York, a cidade dura que nunca lhe pareceu tão interessante assim, até, é claro, descobrir que era exatamente onde Sophie vive.
O coração de Sophie transborda e, aparentemente, o de Adam também. Entre palavras não ditas e um encontro romântico, ele deixa que a sua auto-preservação fale mais alto, se afastando daquela que está tomando todo o espaço em seu coração.
Desconsolada, nossa protagonista parte para Paris, tentando distrair sua mente durante a semana de moda. Adam, que fugira para sua cidade natal, passa dias com um único pensamento: Sophie. Por mais que tente, é nela em quem ele pensa e, por isso, parte em busca de seu perdão.
Depois da caliente reconciliação, o casal parte em uma viagem no melhor estilo mochileiro pela Europa, descobrindo mais de si e do sentimento que brotou em seus corações. Mas, como todo casal, ao voltarem para a "vida real", surgem os problemas: mesmo após meses juntos, Sophie se recusa a contar para a família (especialmente para seu irmão-mega-ciumento Daniel) sobre o relacionamento, e Adam... bem... a própria palavra casamento já lhe confere arrepios e um revirar no estômago.
E será que esse amor será capaz de contornar as barreiras de Adam e atender às expectativas de Sophie levando-os à um final feliz?
Primeiro, eu preciso dizer que esse é o terceiro livro da C. M. Carpi que eu leio. E, assim como nos outros dois, a leitura de Com Todo o Meu Coração foi fluida e gostosa. Na verdade, arrisco que dizer que até mesmo mais fluida e mais gostosa. O casal protagonista da nossa história tem um carisma e espontaneidade invejáveis. E ainda por cima, são engraçados. Seguem um tom super leve durante toda a história, que faz o leitor virar as páginas com rapidez.
Além desse clima super agradável de toda a história, que, claro, como todo romance, tem seus momentos de tensão, tristeza e expectativa, os personagens são cativantes, narrando a história, vez pelo ponto de vista de Adam, vez pelo de Sophie.
Falando em Sophie, ela é jovem e sagaz. Tem um espírito lindo e, apesar de poder parecer estereotipada à princípio, como uma "princesa rica e mimada de Nova York" ou algo do gênero, ela é muito mais profunda que isso. Tem camadas, como qualquer pessoa real. Sabe ser decidida e procurar o que deseja, ainda que sinta que, de vez em quando, precisa de proteção (ainda mais se houver sangue envolvido... rs). E, além de ser ligada no 220, e sequer poder beber um cafezinho por essa razão, é balanceada. Tem medos e frustrações, e, ainda assim, é segura de si.
Adam é aquele cara que queremos abraçar e, às vezes, dar um soco (pausa para muitos risos aqui! kkk). Ele pode nem sempre fazer as escolhas certas, mas age sempre impulsionado por seu coração, pensando em protegê-lo do inevitável. Teve que assumir responsabilidades maiores do que ele quando seu pai faleceu e guarda mágoas do passado que o impedem de ver o futuro como um leque de oportunidades, tendo-o mais como um monte de incertezas por tudo que não se concretizou foi alcançado. Ainda assim, ele sabe ser gentil, educado e engraçado, um apinhado de defeitos e qualidades que o tornam ainda mais real. E, tem o maior apetite do mundo, diga-se de passagem.
Sim, Adam e Sophie formam um clássico Casal 20, do tipo que faz você shippá-los (linda conjugação do verbo shippar), da primeira à última página (ou desde os outros livros da autora, em que eles são personagens secundários). Que o casal Elena e Daniel, dos outros livros da autora não me ouçam, mas Sophie e Adam viraram meus favoritos!
A história ainda tem outros pontos muito deliciosos: assim como nos outros livros da Maitê, em alguns dos lugares que são visitados pelos personagens, é permitido ao leitor viajar também, imaginar detalhes específicos de vários pontos do globo e desejar passar por cada um deles, um dia desses. Sempre fico com a impressão que a autora esteve por lá e conheceu todos esses pedacinhos de terra. E, inclusive, minha amada NY é retratada tão belamente, que meu desejo em conhecê-la apenas aumentou.
Ah, e para quem pode estar pensando que a história é toda flores, citei antes que temos momentos de tensão na obra. Claro, não poderia faltar um bom dedo de drama nesse romance, ou não seria tão bem amarrado. A construção da história segue o esquema básico dos romances, mas tudo na medida certa. A história não fica pesada ou cansativa com o drama, ele vem quando precisa, na medida que precisa e da forma que precisa (quanto 'precisar'...). Vem no balanço que a própria vida dos personagens segue e à medida que o relacionamento cresce e algumas barreiras precisam ser vencidas.
Sophie, nossa mocinha, tem irmãos super protetores. Mas, quando digo super é super mesmo, a ponto de chegar a reações violentas quando da descoberta do namoro dela com Adam ou de fazê-la se lembrar em como eles afugentaram quaisquer garotos que desejassem se aproximar dela durante a adolescência. Mas, o efeito, na verdade, não é - apenas - esse. A questão com os irmãos, em especial com Daniel, a quem ela é mais próxima, chega a um extremo em que Sophie passa meses sem coragem para contar sobre seu relacionamento com Adam. Não porque ela não seja corajosa, mas porque as reações de seu irmão são extremas. No livro, essa ideia toda de controle pode passar um pouco despercebida ou acobertada pela ideia de romantismo que o ato de fraternidade possa parecer ter. Mas, a bem da verdade, é que não há romantismo ou verdadeiro aspecto de proteção quando as pessoas agem dessa maneira. É repudiável. E, se você está se perguntando o porquê, eu explico (vou explicar de toda maneira, ainda que esteja seguindo meu raciocínio... rs). Isso não é proteção. Qualquer coisa que passe a fazer a pessoa 'protegida' se sentir sufocada e privada de algo, com medo em falar ou fazer coisas, por causa da reação do seu 'protetor', não é saudável e, muito menos, pode ser tido como proteção. E, nesse aspecto específico, a relação que os irmãos de Sophie estabeleceram, também não. Claro que na história muita coisa é superada, mas as marcas na personagem estão lá. Em dado momento, ela receia falar abertamente de um assunto com Adam exatamente porque ela, mesmo sem perceber, nutre o medo pela reação que ele pode vir a ter. E, romantizar este tipo de atitude, é sempre um caminho que reafirma conceitos os quais não deveriam mais vingar na sociedade atual. Bem, este ponto enorme aqui é para reflexão.
Ainda assim, um romance muito indicado, seja para quem gosta de romances leves e, seja para quem gosta de histórias que nos fazem apaixonar por ela e por seus personagens. É dinâmico e divertido, na medida exata. E, se estiver procurando por algo para curar uma ressaca literária, devo dizer, que aqui está o remédio! Adam e Sophie vão prender da primeira à ultima palavra de Com Todo o Meu Coração.
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